Rogério Gentile é jornalista, colunista do UOL e da Folha.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o dia bem cedo com a leitura dos jornais e sites de informação. Faço alguma atividade física e vou apurar/escrever.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Trabalho melhor durante o dia. Antes de escrever, sobretudo as reportagens mais difíceis, procuro caminhar, momento em que vou refletindo sobre as possibilidades de abertura e de desenvolvimento do texto.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo sempre que tenho alguma reportagem ou coluna para entregar. Na prática, quatro ou cinco vezes por semana.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Depende muito do tema e da profundidade do texto. Às vezes, é sentar e escrever. Noutras, preciso tentar me inspirar.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não há muito tempo para nada disso no jornalismo diário…Bem ou mal, o texto tem de sair, sob o risco de perder o timing ou ser atropelado pelo concorrente. Nas reportagens de maior profundidade, quando se tem mais tempo para apurar e escrever, a situação é diferente. Não costumo travar na escrita, mas a ansiedade para ver o trabalho concluído logo é, no meu caso, uma questão, sim.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Tenho o hábito de ler ao menos duas vezes. Sigo o conselho que recebi ainda no início da minha carreira de um grande jornalista, Frederico Vasconcelos. Terminado o texto, leio com os olhos de um promotor público. Depois, como se fosse o acusado. Se, então, os argumentos de ambos os lados estão bem contemplados, se nenhum ponto importante foi esquecido, considero que o texto está pronto. Na medida do possível, ainda mostro para algum colega/familiar a fim de verificar se todos os trechos estão devidamente contextualizados e compreensíveis. O repórter, às vezes, está tão enfronhado num assunto que se esquece de que o leitor não tem obrigação de dominá-los. Um outro olhar nos ajuda a identificar esses pontos a serem melhorados.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo direto no computador. Mas algumas ideias, que surgem em uma caminhada, numa conversa ou mesmo à noite, corro para anotar em um pedaço de papel.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Leio muito todos os dias. Quando estou diante de um texto mais difícil, que exige alguma inspiração, recorro aos grandes colunistas, cronistas e repórteres do passado.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Com o tempo e a experiência, descobre-se-que a boa reportagem investigativa não depende de adjetivos fortes, não precisa chutar a cara de ninguém. Os fatos, bem apurados, apresentados e contextualizados, bastam. O texto, evidentemente, pode ter um tom crítico, mas o bom repórter não deve confundir seu papel com o de um juiz ou de um promotor. Sua função é a de reportar, revelar algo, apontando os aspectos incômodos, mas também abrindo espaço para o contraditório.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
São tantos os livros já prontos que ainda não li…O único que me ocorre que ainda não existe é o meu mesmo…