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Como escreve Renato Rezende

13 de maio de 2019 by José Nunes

Renato Rezende é poeta.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?

Não uso despertador. No primeiro ano como aluno da USP, tinha um despertador barulhento feito na Iugoslávia que comprei por tê-lo achado bonito. Depois de alguns meses não aguentava mais aquela violência, e com pompa joguei-o no lixo. Desde então só uso despertador quando estritamente necessário. Minha rotina matinal hoje é tomar banho, um café puro, checar os e-mails e ler o jornal na varanda. Só depois começo a trabalhar de verdade.

Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?

Trabalho melhor pela manhã, uma ou duas horas por dia. Prefiro evitar os rituais para a escrita.

Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?

Escrevo quando tenho vontade. A não ser que tenha prazo para entrega de algum texto, não faço planejamento. Há períodos de escrita mais concentrados, sim. Durante uma ou duas semanas de forma intensa.

Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?

Começar é sempre difícil, no caso de um projeto de pesquisa, procuro terminar um dia sempre sabendo como iniciarei o trabalho no dia seguinte, isso evita dispersão e perda de tempo.

Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?

Com normalidade, são sensações humanas, procuro não me aporrinhar muito com isso. Por experiência, sei que no fim sempre consigo alcançar o objetivo. Não tenho compromisso com ninguém a não ser comigo mesmo.

Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?

Reviso e reescrevo prazerosamente meus poemas. Textos acadêmicos me dão muita preguiça revisar, e no momento de enviar para publicação costumo pagar um revisor profissional, que ademais coloca o artigo nos moldes da ABNT ou do período. Geralmente não mostro pra ninguém.

Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?

Hoje em dia nem eu mesmo entendo minha letra. Escrevo direto no computador. Quando estou na rua e preciso anotar uma ideia ou verso, faço isso no celular.

De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?

Simplesmente estar vivo e atento.

O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?

Eu diria: “endoideça mais”.

Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?

Sinto-me bem satisfeito com os projetos que realizei. Não tenho nenhuma ansiedade em relação a isso. Deixei incompleto um projeto de livro sobre arte contemporânea brasileira, mas não sei se isso tem importância agora.

* Entrevista publicada originalmente em 13 de maio de 2019, no comoeuescrevo.com (@comoeuescrevo).

Arquivado em: Entrevistas

Sobre o autor

José Nunes (@comoeuescrevo) é doutor em direito pela Universidade de Brasília.

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