Renata Bortoleto é escritora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia tomando um café ou chá. Tomo banho, me arrumo e, se vou trabalhar pela manhã, organizo minha mesa. Ela precisa estar impecável antes de eu engatar.
Nem sempre eu trabalho pela manhã. Tenho um revezamento doméstico com meu marido, que também é escritor, nos cuidados com a casa e com nossa filha de seis anos. Sendo assim, alguns dias de semana, trabalho o dia inteiro. Em outros, só meio período (na parte da tarde).
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu prefiro trabalhar à tarde, pois sinto que minha energia está no seu ponto mais alto. Porém, pelas manhãs, minha cabeça está mais vazia e estou mais descansada, que também são condições muito favoráveis para a escrita. Mesmo assim, gosto mais das tardes.
Minha mesa precisa estar organizada e com tudo o que preciso por perto, como textos impressos, cadernos, marca-textos, livros e materiais de referência para o que estou produzindo no momento. Preciso de concentração e silêncio. A porta deve estar fechada (às vezes, a janela também). Tenho que me sentir fechada numa concha, sozinha. Não consigo escrever textos importantes (como um livro, por exemplo) em espaços externos e abertos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Como jornalista, eu escrevo praticamente todos os dias, pois tenho uma empresa de produção de conteúdo. Como escritora, escrevo em períodos concentrados. Tenho um planejamento anual no qual projeto o período de escrita (em meses) de uma determinada obra. Quando estou nessa fase, tenho, sim, uma meta diária, que geralmente é um capítulo por dia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O começo é sempre mais desafiador. Porém, a pesquisa e a escrita caminham juntas. Enquanto vou deixando os capítulos prontos, continuo aprofundando a minha busca. É por essa razão que tenho resistência à escaleta, porque às vezes sinto que ela é um obstáculo ao meu fluxo criativo, subjetivo. Mas, quando me sinto muito perdida na minha história, eu paro tudo e faço a escaleta, mesmo que seja uma escaleta mínima, mesmo estando no meio processo, mesmo já tendo escrito uma parte da história.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando estou no meio do projeto de um livro, eu não deixo a trava acontecer. Eu me forço a escrever, mesmo que o texto não fique bom, porque sei que depois posso reescrever. Também estimulo minha inspiração, saindo para dar uma volta, lendo algum livro.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas vezes. Eu reviso até sentir que eles estão impecáveis. Não são todos os trabalhos que eu compartilho com outras pessoas. Mas, quando compartilho, escolho a dedo quem irá ler. Como critério, penso em quem poderá ter um olhar crítico e, ao mesmo tempo, cuidadoso para a leitura. Ou escolho leitores que têm algum envolvimento com tema ou circunstância sobre o que estou escrevendo e que, portanto, poderá dar alguma nova contribuição.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu sempre tenho um caderno de processo, onde anoto todas as ideias, do começo ao fim. Mesmo antes do período que determinei para escrever o livro, já começo a fazer estas anotações, reunindo todas num único lugar (o caderno). Quando começo a escrever, seguindo meu cronograma, vou para o computador, mas o caderno continua ativo até o final da escrita.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
De algum tema que me provoca ou me inspira, de alguma memória ou vivência antiga. Gosto de livros, filmes, teatro, exposições. Observo cenas cotidianas e presto atenção nas conversas das pessoas para construir frases e/ou desvendar novos universos.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu gosto muito na maneira que minha escrita foi se desenvolvendo, pois foi um processo bastante orgânico. Minha escrita amadureceu naturalmente. Posso dizer que tive mais desafios emocionais do que técnicos, porque demorei a me assumir como escritora.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estes projetos que ainda não foram feitos não posso revelar. Gosto de falar sobre meus livros apenas quando estão prontos – não abro nenhuma informação quando estou em processo. Não consigo me lembrar de nenhum livro que não existe e que gostaria de ter lido.