Regina Alves é poeta, atriz, professora de teatro e arte-educadora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Como a dinâmica do meu trabalho varia muito e muda constantemente. Não tenho um ritual ou rotina de começar algo sempre nos mesmos horários e me programar, pois a formas de trabalhos que desenvolvo acabam se misturando em muitos momentos. Vou me organizando dentro do possível.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Na noite e madrugada. E não crio um roteiro para a escrita, apenas deixo fluir. Com excessão de escrita por encomenda.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Metas tenho somente de leituras e estudos. Da escrita sigo linhas opostas de muitos autores. Fujo ao máximo do óbvio, aquilo que a grande maioria faria. Ex: Saiu no jornal um crime contra as chamadas Minorias (negros, lgbtqiap+, crianças, indígenas, idosos, deficientes, pessoas em situação de rua). Você vai no evento, sarau e afins vai ter muitos autores falando sobre o crime. Como o caso do pai (negro) que levou 80 tiros. Eu na escrita questiono, o que está por trás daqueles 80 tiros, quais as raças de quem atirou, qual contexto social e por aí vai. O texto se chama: Não são 80 tiros. ” … Todo dia, o dia todo, todo dia o to-dooo é ceifado um negro, onde estão suas escritas? Onde está a nossa indignação para aqueles que a mídia não mostra? E te garanto não são 80 tiros”… Costumo escrever constantemente, mas nem tudo é aproveitado. Creio que seja necessário a escrita, pois muitos deles acabam sendo canais/alavanca para algo que você nem imaginava. Não despreze esses rabiscos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O processo é bem hamonioso. Por mais que siga linhas livres não ficando presa a uma estética imposta. Busco sempre alinhar a escrita, com comportamento humano e pesquisas. Quando essa tríade se casa o texto flui sem sofrimento em sua composição.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Ao longo dos anos preferi caminhar solo. Geralmente projetos que não são bem estruturados na base tende a ruir. Fazer parte de algum projeto assim é um risco descabido. Como sou Idealizadora e responsável por uma Cia de Teatro. Tenho devido a muitas leituras, estudos e pesquisas uma facilidade para escrita desde a comédia, a tragédia e a tragicomédia. Meus textos poéticos em sua maioria viram performance ou um compilado (textos ciclos) para peça. E projetos longos sendo bem construídos na base nos trás grandes aprendizados além de nos tirar da zona de conforto.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso a maioria. E sim mostro, apenas alguns.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Uso ambas. A tecnologia veio pra ficar e como artista Independente sempre falo: O artista que não sabe jogar nas 11 ficará refém da boa ou má vontade de alguns. Então é melhor saber usar. E saber usar implica entender as dinâmicas e as armadilhas das redes sociais. Crescimento se dá com trabalho árduo o que vem fácil abismo se torna.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Desde criança fui muito inventiva e criativa. E ideias tenho muitas, criar é um processo interessante e os meus vão desde o simples ao mais complexo, pois eu crio, dirijo e enceno a maioria dos textos que crio. E os hábitos que cultivo são leituras de todos os gêneros, ver bons filmes com conteúdo e documentários, exposição de artes, visitação a espaços históricos. Uma boa música…
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Com toda certeza mudou e como. Isso faz parte do processo. Se pudesse olhar para aquela menina franzina diria: Não se assuste, tudo faz parte de um processo mostre esses textos para mais pessoas. Tire dessa pasta preta na gaveta e deixe ganhar asas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Entre nós 2 há um silêncio crescendo para se pensar sobre a nossa história de Alexandre Maximino (esse texto é necessário e dolorida/forte).
Livro: Meu eu Movimento.