Priscila Gonçalves é escritora e professora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Recentemente estou trabalhando fora e acordo bem cedo para o trabalho. Gosto de ouvir uma música relaxante ou um podcast motivacional no ônibus. Em dias de folga, gosto de acordar devagar, tomar um café da manhã tranquila e só pego o celular depois.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
À noite. Aqui fica silencioso onde moro e me sinto mais motivada e feliz. Gosto de arrumar o ambiente para a escrita, limpar a escrivaninha, colocar uma música alegre e instrumental. Às vezes coloco um cheirinho gostoso no quarto, um chá ou um petisco. Gosto de estar vestida de forma confortável, de preferência pijama e depois de um bom banho. E, claro, o celular bem longe de mim.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Gosto de levar as folhas que estou escrevendo para o trabalho e escrever um pouquinho no horário de almoço ou em momentos tranquilos. Não é minha forma preferida, mas ajuda a adiantar o processo, principalmente por estar muito cansada quando chego em casa. Tenho sim uma meta, mas nunca a cumpro (risos). A meta seria escrever por duas horas, no mínimo. Não curto muito por páginas ou por palavras/parágrafos. Eu acabo escrevendo em momentos picados ao longo do dia, ou passo horas escrevendo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu gosto de ir anotando as ideias em um caderninho. Tipo: “Quero escrever um livro sobre tal coisa.” Quando acho que dá para formar uma história, vou montando em tópicos cada parte da narrativa: “Agora vai acontecer isso, depois aquilo…” Depois vou desenvolvendo os personagens e temáticas. Iniciar a história é bem fácil para mim, geralmente eu já tenho as primeiras palavras na cabeça e vou escrevendo. A parte mais trabalhosa é o meio, aquele elo entre as partes. A pesquisa eu realizo durante todo o processo. Inicialmente, eu pesquiso sobre a temática antes de cada cena e sempre que tenho dúvida sobre algum assunto, ainda que secundário. Como em “A bailarina e o atleta’, meu primeiro livro, que tive que parar para estudar uma partida de handebol para escrevê-la (e acabei me apaixonando pelo esporte rs) ou em “Sonhos de Menina” em que precisei pesquisar músicas que se encaixassem com o momento. Eu particularmente amo pesquisar e descobrir coisas novas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Aprendi a lidar melhor com o tempo e ainda tenho muito o que melhorar (risos). No início eu ficava mal por isso, cheguei a abandonar meu primeiro livro e retomar anos depois. Aos poucos, fui entendendo a naturalidade desse bloqueio, a parar, sair, conversar com as pessoas e a organizar meus horários. Sem pressão, mas ao mesmo tempo eu venho procrastinando muito e perdendo muito tempo com o celular. Uma coisa que sempre me ajudou muito foi ler e entender sobre o processo de escrita, novas técnicas e me organizar melhor. Minha ansiedade maior é a demora para alcançar resultados depois de um livro publicado, querer vender tudo e viver apenas de escrita.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Duas. Uma logo após digitar tudo e outra depois de passar pela revisão editorial. Meu melhor amigo leu meus dois primeiros livros antes de eu enviar para a editora e o terceiro, com a vida já mais enrolada, leu depois que eu já tinha enviado. Na verdade, eu penso que reviso três vezes, porque escrevo a mão e depois digito e, quando vou passar para o computador, sempre acabo fazendo uma revisão. Minha amiga Roberta, que é professora de Língua Portuguesa, revisa as sinopses dos livros e alguns outros trabalhos meus também.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
À mão mesmo. Sempre digo que o lápis tem uma magia para mim, mas a verdade é que gosto da praticidade de carregar as folhas para todos os cantos também, sentar em uma cafeteria, por exemplo, para a viagem e sem a preocupação de expor meu notebook. E depois ainda tem toda a questão de poder revisar quando digito. Sem contar que o computador me apresenta diversas distrações que prefiro evitar.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Do cotidiano. Sempre fico antenada com as coisas, conversas e situações inusitadas que acontecem, inclusive comigo mesmo. Como trabalho em escola, vejo muita coisa e ideias para escrever, até mesmo assuntos que considero importantes para expor e poder levar para os adolescentes, que é meu público alvo. Gosto muito de ler livros e ver algumas séries juvenis para entender melhor, além de conversar com eles. Assim eu fico sabendo o que eles pensam e sentem, para elaborar meus personagens.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Melhorei demais minha organização. Sempre esperava a inspiração e estar bem para escrever e acabava não escrevendo nada por muito tempo. Além de não enumerar as folhas e acabar perdendo. Pensa em uma pessoa desorganizada com as coisas. Eu diria para mim mesma para organizar horários e elaborar melhor o roteiro de escrita, não contar com inspirações, que as palavras vêm na hora.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Sonho em carregar meus livros em escolas e espaços para encontrar novos leitores, participar de bate-papos e palestras sobre a importância da leitura e literatura em geral. Adoraria um livro sobre desenvolvimento e comportamento dos adolescentes, entende-los melhor dentro da psicologia, pois tudo que encontro é sempre voltado para as crianças.