Paulo Souza é escritor.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu bem que gostaria de ter uma rotina mais certa no período da manhã, mas… a realidade é outra. Eu sou uma pessoa que tem uma necessidade de sono muito grande, o início da manhã geralmente é a parte mais delicada do meu dia, eu não sei quem sou direito, a alma ainda está voltando para o corpo, minha mente só sabe pensar em café e em querer voltar para a cama. A vide ideal para mim é poder acordar sempre entre nove e dez horas, porém como nem tudo é da forma que queremos vou levando as rotinas da minha manhã da forma que venho vivendo: cada dia que levanto é uma vitória pessoal.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu costumo escrever mais ou ao fim da tarde ou pela noite, e sempre sozinho. Não consigo me concentrar para escrever com outra pessoa dividindo o mesmo cômodo que eu, é como se quando estou sozinho o teclado fosse uma parte de mim, os dedos faltam sair da mão para dançar entre as teclas, quando uma pessoa entra ou divido o espaço com ela o único movimento que dou conta de fazer é o de catar tecla por tecla apenas com o meu indicador. Acredito que a única rotina que possuo para me preparar para escrever, e isso é para sempre que sento na frente do computador para estudar, escrever ou trabalhar, é de consumir muita cultura inútil na internet, muito meme, muita piada ruim e verificar minhas redes sociais. Após isso, o que leva sempre uns 40 minutos, eu foco no que preciso passo o resto do dia focado no que preciso fazer.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu já trabalhei com meta diária e não me acostumei com ela, eu tinha a percepção que o escritor se faz somente na base da quantidade do que escreve diariamente, estava completamente equivocado. O ofício da escrita vai desde o ato da escrita como da pesquisa, leitura, vivências, observar os outros, entender como é sua rua, sua praça, como tudo se relaciona e de como tudo tem sua própria narrativa. Depois que eu compreendi isso, e compreendi que os meus livros são um produto de todas essas coisas, eu compreendi que a minha escrita, e isso falado de forma bem particular, é entender que o livro que estou escrevendo está sendo construído a todo momento, e que eu preciso ter a perspicácia de saber o que colocar no papel. Dentro disso tudo, eu me programo para escrever ao menos uma vez na semana, sem meta de escrita, escrever até me sentir satisfeito com aquilo que produzi, quando sinto a necessidade escrevo mais durante a semana, vai depender muito da minha inspiração e necessidade de colocar as ideias no papel.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu demoro muito a pegar no papel para começar a escrever, por justamente passar muito tempo pensando em tudo que quero, e imagino para a história. Eu só consigo passar para as notas, e para a pesquisa, depois que me sinto satisfeito em tudo o que pensei para a história, seja desde os personagens, tramas, subtramas, enredos, ganchos narrativos e tudo o mais que tiver pensado para escrever. Após todo esse processo interno eu faço anotações sobre tudo o que elaborei e vou marcando o que precisa de pesquisa ou até mesmo uma revisão melhor para encaixar melhor o desencadeamento melhor das ações da história. Após todo esse processo ser finalizado, linha da história com todos os pontos de viradas, pesquisas feitas e o que mais for necessário, eu tenho que confessar que a parte da escrita é super tranquila de ser iniciada.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu já sofri muito por questões de expectativas, hoje em dia eu literalmente cago para o que vão achar da minha escrita ou sobre o que escrevo. Aprendi com o tempo que primeiramente eu preciso me sentir confortável com o que estou escrevendo e ver um propósito naquilo que estou trabalhando, o resto é consequência de quem ler, e sobre a leitura dos outros eu não tenho domínio nenhum, se vão achar bom ou o ruim eu não me preocupo, o importante é que acharam algo sobre o que produzo. Depois disso, de escrever primeiramente para mim, e de entender que a percepção do leitor diz respeito somente a ele e cada leitor é um leitor diferente e com percepções diferentes, várias travas que tinha caíram por terra. Em relação a procrastinação, quando a sinto eu não me forço a escrever, se der para escrever eu escrevo se não der eu não escrevo, minha única preocupação é a de escrever pelo menos uma vez na semana.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu abando o texto e me dou por vencido, quando eu vejo que a história está contada e que as modificações que faço não acrescentam nada de muito substancial eu me forço a deixar o livro seguir o seu caminho, deixo a cria criar asas e voar. Eu tenho bons amigos e uma esposa maravilhosa (Ana, te amo) que sempre repasso meus escritos para uma leitura crítica, para ter retorno do que estou escrevendo e ver falhas no texto que não consigo enxergar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Papel hoje para mim é a exceção, 90% do que produzo é feito ou no computador ou no celular. Notas, ideias, versos, o que vejo e acho curioso e preciso anotar é praticamente tudo feito em meios digitais. Na escrita de projetos mais longos eu costumo utilizar o programa yWriter5, um ótimo programa feito para a escrita de romances com vários recursos para ajudar na organização da escrita do livro.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
A maioria das minhas ideias surgem de situações que eu vivo ou que observo no dia a dia. São situações que me geram questionamentos, geram conflitos internos que acabam virando personagens, mundos com suas próprias verdades que eu sinto a necessidade de contar. Tudo é passível de se tornar inspiração, basta ter o olhar atento e ser observador, a criatividade é resultado desse olhar observador.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
“Não escreva para agradar os outros”. Seria a única coisa que eu diria para o meu eu do passado. Essa foi a maior transformação na minha escrita, entender que escrever com liberdade é o maior fator para uma escrita autoral pura e sem amarras por determinismos de outros que não se aplicam a quem sou.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Uma peça de teatro, como eu quero escrever uma peça de teatro! Uma peça que mostre o que é de fato viver em Brasília, o que é sua lógica que não é entendida pelo resto do país, acredito que esse é o livro/peça que ainda não li e que gostaria de escrever.