Paulo Henrique Passos é escritor e professor.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Quanto à escrita literária, já tive uma rotina matinal. Quando em maio de 2020, eu decidi escrever todos os dias, comecei escrevendo no final da noite. Fiquei uns dois meses assim, depois passei a escrever de manhã, mas primeiras horas da manhã. Acordava às 5:15, tomava banho, tomava o café da manhã, sentava na frente do computador e escrevia por duas horas, até umas 8h. Esse foi por um tempo o horário ideal para pensar e produzir, porque assim como de noite, eu tinha silêncio, e o silêncio é muito importante para que eu possa escrever. Hoje, no entanto, estou escrevendo de novo nas últimas horas da noite, entre dez e meia-noite. Quanto à escrita acadêmica, alternava com a literária, um dia para uma, outro dia para a outra. Hoje estou pensando em colocá-la de manhã, mantendo a literária à noite. Assim, no dia, uno a obrigação e a diversão.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
As horas em que há mais silêncio: nas primeiras horas da manhã ou nas últimas horas da noite. Isso para escrever rascunhos de planejamento e os contos, porque para anotar ideias vagas que poderão ou não ser aproveitadas depois, pra isso não tem hora. O único ritual, se é ritual, é justamente a repetição, que consegui estabelecer, de me sentar e escrever todos os dias, nem que seja alguma coisa que depois vou descartar – e não falo aqui de anotações rápidas, isso faço durante o dia. Quando sento para escrever, hoje sempre no computador, mas nem sempre foi assim, é para escrever ou rascunhos das ideias mais prováveis de se desenvolverem ou contos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta de escrita diária, mas escrevo um pouco todos os dias. O que estabeleço é um período de tempo por dia, duas horas geralmente, às vezes mais, às vezes menos. Quando decidi escrever todos os dias, determinei uma data para saber o que conseguiria ter feito: em seis meses, estava na escrita do sexto conto para o livro que estou produzindo agora. Depois disso, não pus nenhuma data, e nesse tempo, entre o final de 2020 e o início de 2021, passei pouco mais de um mês sem escrever. Já retomei a escrita diária.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Planejo e só depois começo a escrever o conto. No planejamento entra a pesquisa, definição dos personagens, os possíveis começos, os possíveis finais, tudo escrito em forma de rascunho no Word, em tópicos ou pequenos parágrafos. Fico dias nisso. Quando vejo que já tenho o suficiente, penso no começo, e o começo, textualmente falando, às vezes já aparece no planejamento. Às vezes, só defino o começo em forma de cena, mas o texto só vai aparecer depois. Entre o planejamento e a escrita, o movimento é mais fluido, só barra um pouco quando, tendo a cena, tenho que ver a melhor maneira de mostrá-la.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Esse já foi um problema. O fato, no entanto, de escrever diariamente atenua muito qualquer ansiedade. O foco acaba se transferindo do resultado para o processo, e isso ajuda muito no próprio processo de escrita, que você começa a curtir, porque você sabe que no final do dia, você vai parar e escrever. No meu caso, que escrevo contos, às vezes bate uma angústia entre um e outro, quando a ideia para o próximo não vem. Ainda assim, não deixo de rascunhar qualquer coisa que não me agrada. Eu sei que nesse movimento, e com a ajuda do dia a dia e das leituras, vai surgir alguma coisa que eu possa aproveitar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Hoje estou fazendo assim: escrevo a primeira versão dos contos e ao final de cada um deixo algumas observações para uma revisão posterior. Não reviso mais enquanto escrevo, embora meu ritmo seja lento – um parágrafo por hora, mais ou menos. Mostro os meus contos para a minha esposa e para alguns amigos com quem, hoje, me encontro por videoconferência. Formamos um pequeno grupo já há bastante tempo, que já foi Eufonia, hoje é o Nós por nós. Lemos e comentamos os textos uns dos outros, o que ajuda muito a aperfeiçoar o que já foi escrito.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Hoje, tudo no computador. Antes, tudo em cadernos. As anotações de ideias são no celular (uso o Google Keep). O computador e o celular me ajudam muito na hora de escrever, seja para o registro rápido de uma ideia, seja para a pesquisa mais profunda ou para a consulta ao dicionário.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
O hábito que me mantem mais criativo é a leitura. É dela que vem boa parte das ideias. Sobretudo de leituras de ensaios. O hábito de não deixar passar nenhuma ideia, registrá-la rápido no celular, é também muito proveitoso, porque depois é só consultá-las quando eu quiser escrever alguma história. Ver filmes e séries também. E parar para lavar a louça também – muitas ideias já se resolveram enquanto eu lavava a louça. E escrever todos os dias também, mesmo que seja uma coisa que não gosto. Nunca é só uma coisa isolada. É o conjunto de tudo isso que me mantém em atividade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudou onde escrevo. Antes era em cadernos, tudo à mão. Hoje é no computador, tudo digitado. E mudou meu jeito de ler. Leio prestando mais atenção aos movimentos que os escritores e as escritoras fazem em seus textos e que eu também posso fazer. Às vezes, é só uma palavra que eu passo a usar, outras vezes é um modo mais interessante de começar ou terminar uma história. Eu diria para mim mesmo que parasse de querer ser perfeccionista exageradamente.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Fora o livro de contos que estou escrevendo, tenho ideias, entre aquelas vagas que anoto no celular, mas que acabam se fixando mais na minha cabeça do que as outras, que são ideias que podem ser para um romance ou para outro livro de contos, ainda não sei. Aliás, essas duas ideias, porque são duas as mais fortes, já tem até um título, mas não muito mais que isso, ainda.