Paula Ottoni é escritora, autora de As Letras do Amor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Primeiramente, gostaria de comentar o fato de que estou respondendo essa entrevista agora que sou mãe. Minhas respostas seriam bem diferentes se fosse alguns anos (ou meses) atrás…
Moro na Dinamarca com minha filha (que vai fazer oito meses agora no fim de junho) e meu marido, que é dinamarquês e atualmente está escrevendo sua tese de mestrado. Temos ambos 25 anos, e além de ter uma formação em Design pela Universidade de Brasília, estou concluindo um MSc em Games na IT University of Copenhagen. Além disso, sou escritora de ficção (romance, fantasia, ficção científica…), mas por conta dos meus estudos e da gravidez tive que interromper um pouco a escrita dos meus livros. Terminei de escrever a minha tese agora em junho, então nesse primeiro semestre de 2018 eu e meu marido estivemos em casa “apenas” cuidando de nossa filha e escrevendo nossas teses.
Para darmos conta de tudo, tivemos que criar uma rotina bem esquematizada, a qual ainda estamos seguindo e adaptando (ao menos até um de nós ter que começar a trabalhar fora). Quando você tem um bebê e não tem com quem compartilhar as tarefas, é praticamente impossível fazer qualquer coisa que não seja ligada à casa ou ao bebê. Então a solução que pensamos foi fazermos turnos de 4h de trabalho diários para cada.
Até o mês passado estava funcionando assim: ele se fechava no quarto de manhã para trabalhar, de 10h às 14h, por exemplo, enquanto nesse período eu ficava responsável pela casa, pela comida e pela bebê. De 14h às 18h, então, era a minha vez, ele fazia o jantar, jantávamos juntos e eu colocava a bebê para dormir. Quando ela dormia, então tínhamos nosso tempo juntos, para ver filmes, conversar, namorar, etc. Dessa forma conseguimos conciliar tudo, terminei minha tese em tempo e tirei uma nota maior do que esperava para as circunstâncias. Fizemos algumas adaptações na rotina agora porque ele está precisando de mais tempo para trabalhar do que eu, já que eu entreguei minha tese e ele ainda não, mas a base continua a mesma. Nessa rotina também dá para encaixar exercícios físicos pela manhã, passeios com a bebê pela praia ou pela vizinhança, compras no mercado… e dessa forma conseguimos ter um dia-a-dia equilibrado e agradável. Mas isso vai mudar, claro, quando um de nós tiver que trabalhar fora, e então não sei quanto tempo vou ter para escrever. Com o foco no meu trabalho acadêmico, também tive que deixar em segundo plano os meus projetos de livros, e agora estou tão entupida de planos e ideias que mal sei por onde começar! Pode ser um pouco frustrante não ter tanto tempo quanto eu gostaria para trabalhar nos meus livros e tudo relacionado à minha carreira de escritora, mas sei também que tudo é uma questão de tempo até ficarmos mais estáveis, minha filha se tornar mais independente, e eu poder voltar a focar nisso como antes. Ainda assim, quando eu tiro uma, duas, três horas para trabalhar que seja, coloco meu foco todo nisso para não perder um minuto e ser o mais produtiva possível.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu costumava gostar muito de escrever de madrugada, porque havia silêncio absoluto e eu podia ficar cem por cento imersa na escrita. Isso já não funciona mais (agora valorizo muito o pouco sono que consigo ter, risos) e passei a gostar de escrever de manhã. Mas como não consigo ter uma rotina previsível nas atuais circunstâncias, qualquer hora em que tenho tempo e possibilidade de me focar na escrita, eu agarro a chance e me desligo do mundo. Isso foi algo que vim desenvolvendo ao longo dos anos, a “habilidade” de escrever não importa a hora e o ambiente, justamente porque sempre estudei, trabalhei e escrevi ao mesmo tempo, então nem sempre tinha o ambiente ideal para escrever, e se eu não escrevesse mesmo assim onde e quando podia, eu nunca ia ter tempo. Então consigo desligar os sons ao meu redor, conversa, música, o que for, e me isolar no meu mundinho. Eu escrevia no meu estágio quando não tinha nada para fazer, entre as minhas aulas, na sala de casa com a TV ligada e outras pessoas falando… Mesmo que não fosse o que eu gostaria (afinal, silêncio, calma e planejamento sempre são o ideal), eu conseguia mesmo assim me refugiar no computador e escrever até algo me interromper – e então voltar a escrever de novo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando posso, escrevo todos os dias, ou ao menos trabalho em algo relacionado aos meus livros. Faço planejamento, pesquisa, capas, ilustrações, mapas, revisões, traduções, diagramação, vídeos, respondo mensagens, posto coisas nas redes sociais… tudo faz parte do trabalho. O que vou fazer no dia depende do meu humor, principalmente se estou trabalhando em mais de um projeto. Não gosto de colocar metas (a não ser quando escrevi um livro para o NaNoWriMo, que “me forçou” a isso), mas gosto de parar quando meio que concluí algo. Um capítulo, um desenho, uma capa… Não gosto de interromper um raciocínio, um ritmo, então parar onde termina um capítulo é sempre importante para mim. Daí é um capítulo ou dois por dia, nunca um e meio.
Isso para ficção. Quando escrevi minha tese foi diferente. Eu tinha um plano, um calendário, porque eu tinha um prazo. Então a meta era todo dia fazer o que eu tinha planejado ou não ia dar tempo de terminar. Isso me ajudava a concluir o que eu tinha que fazer, por mais “chato” que fosse – ao fim do dia eu ia riscar aquele item do calendário, e isso era bem satisfatório.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
No começo, em meus primeiros livros, eu gostava de deixar fluir, pesquisar um pouco antes e fazer um resumão, e ir criando e pesquisando mais conforme escrevia. Agora, talvez porque comecei a escrever uns livros mais complexos, e depois de tudo o que li sobre escrita criativa, eu quero ter certeza de que o livro vai seguir uma curva legal e que vai adereçar todos os pontos que tenho em mente, então tenho feito uns planejamentos bem mais minuciosos antes de começar. Isso me ajuda também no caso de eu interromper o projeto – se tenho um planejamento de tudo o que vai acontecer, capítulo por capítulo, posso retomar o livro a qualquer hora, sem risco de esquecer o que eu pretendia. Isso também não quer dizer que não posso fugir do plano inicial e improvisar.
Tudo depende do livro. Romances contemporâneos, por exemplo, não demandam muita pesquisa, mais sobre o local onde se passa a história e os temas que vão ser abordados. Nesse caso consigo ir criando conforme vou escrevendo e pesquisando pontualmente dependendo de onde a história for me levando. Já fantasia requer muito “world-building”, aí já não é tanto pesquisa, e sim criação, o que é muito importante e vi que faz uma diferença gigante. Escrevi fantasias sem isso, mas estou as revisitando, e para a série que venho planejando agora venho prestando muito mais atenção nesse ponto. Fiz um mapa detalhado, uma mitologia de criação desse mundo, pesquisei distâncias percorridas em viagens entre cidades, fiz listas e descrições de raças e governantes… coisas que talvez não entrem no livro, a não ser talvez num apêndice, mas que guiam a escrita e são muito importantes para você se situar e escrever de forma a não cometer erros e se contradizer. Porque no fim a história do seu mundo que não está contida no livro (a “backstory”) é tão importante quanto a história principal, porque ela determina como seu mundo é e por que, e a motivação dos personagens. Nada pode ser aleatório, e por isso eu gasto bastante tempo nessa parte de planejamento.
Para o primeiro livro de ficção científica que escrevi também precisei de bastante planejamento e pesquisa. Discuti com pessoas que entendiam mais do assunto do que eu e passei dias e semanas no Google pesquisando coisas que quem não soubesse do livro e visse meu histórico de pesquisas ia ficar meio assustado. (risos) Esse livro eu não sabia bem onde ia dar e fui descobrindo no caminho. Já o que estou planejando agora requer muito planejamento. Estou fazendo perfis de personagem bem elaborados e tenho levado meses só pensando na história, devagarinho tendo mais ideias e colocando tudo junto. Eu acredito que quanto mais tempo a gente passa pensando numa história, melhores soluções encontra para as cenas. Não acho difícil começar quando penso que já tenho informações suficientes e sei que o “plot” está bem “amarradinho” e quais são os elementos que vão entrar aqui e ali e por que. Aí posso começar por uma cena no meio, ou pelo começo mesmo, e ir meio que seguindo o roteiro – ou desviando dele quando tenho uma outra ideia durante a escrita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Teve uma época em que tive um bloqueio literário, não conseguia escrever nada legal, ou pensar em ideias boas o bastante, mas depois percebi que era provavelmente porque eu estava passando por um momento conturbado na vida pessoal. Quando isso passou, escrevi um livro que acredito ser o meu melhor, uma ideia que existia há anos e eu não sabia como desenvolver.
Hoje eu sei que não tem problema eu ter mil ideias e não conseguir desenvolver nenhuma ou não ter tempo para desenvolver todas, porque talvez não seja o momento daquela ideia. Mantenho um arquivo de ideias, mas algumas não consigo desenvolver no momento, ou porque são sobre um tema complexo sobre o qual preciso aprender mais, ou porque o livro requer mais maturidade e eu ainda preciso alcançar isso, ou é porque não estou no clima mesmo para aquele tipo de história, ou porque ainda preciso pensar muito mais sobre a ideia para criar a história ideal com ela.
E isso não é algo ruim. Acho que é uma coisa que muitos escritores não percebem e acabam se culpando. A verdade é que nem sempre estamos prontos para escrever qualquer coisa. O que a gente vive, o quanto amadurecemos como pessoa e na escrita tem um peso enorme no resultado, e então muitas vezes é melhor guardar aquela ideia para um momento futuro em que ela vai se desenvolver com mais facilidade. Se a coisa está “pegando no tranco” ou não está pegando de jeito nenhum, é porque não é o momento dela, e então o melhor a fazer é procurar outra coisa para escrever. Não quer dizer que você abandonou a ideia para sempre, só que deixou ela na espera e no dia que retomar provavelmente vai conseguir fazer ela melhor do que poderia ter sido na outra época. E quando a gente não consegue escrever nada, geralmente é porque nossa vida está muito turbulenta, e então temos que resolver algumas coisas no nível pessoal, porque se a escrita se torna um fardo, uma obrigação, uma frustração, algo está errado.
Eu sou ansiosa. Quero ver o livro pronto já. Quero soluções hoje, e tenho que lutar contra isso. Venho aprendendo isso agora. Revisitando uns livros que escrevi muitos anos atrás, hoje sou grata por ainda não tê-los publicado, porque com minha mente de hoje posso melhorá-los e muito! Temos que olhar pelo lado positivo, ser pacientes com a gente mesmo e saber que estamos sempre evoluindo, então o tempo não é um inimigo. É fácil falar, eu sei, e a gente sempre quer escrever um best-seller, mas acho importante também considerar que nem tudo que escrevermos vai ser maravilhoso e vendável – e tudo bem, porque tudo o que escrevemos nos ensina, e então o próximo trabalho vai ser muito melhor.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muitas vezes! E o ideal é dar um intervalo de alguns meses antes da “revisão final”, que acaba nunca sendo final. Você sempre acha um erro ou outro, algo que pode melhorar… é normal. Se deixar, a revisão não acaba nunca. Se muitos anos passam entre uma revisão e outra, eu geralmente vou ter vontade de fazer grandes mudanças no livro, ou várias pequenas. Acho importante mostrar para outras pessoas. Como comecei a escrever muito cedo, eu não tinha muita gente para ler meus livros, então geralmente minha melhor amiga lia, minha irmã… pessoas mais próximas. Alguns livros que ainda não publiquei ninguém nunca leu, ou no máximo uma ou duas pessoas. Mas os que estou em busca de publicar procuro o maior número de leitores críticos possível. Tive mais de dez leitores-beta para o último que escrevi, e depois do feedback deles vi que tem várias coisas que eu ainda posso melhorar, então foram mais duas revisões e ainda vai ter mais uma pelo menos. Elogios não te fazem crescer, então acho importante pegar opiniões diversas.
Meu leitor crítico favorito é meu marido (que infelizmente não lê em português, então o que quero muito que ele leia, eu traduzo ou escrevo direto em inglês). Apesar de ser alguém com forte conexão comigo, ele veste seu modo “leitor cruel” quando vai revisar meus manuscritos e faz comentários e aponta erros de forma até bem dura às vezes, mas muito efetiva. Apesar de muitas vezes as pessoas que nos amam não serem muito boas críticas do nosso trabalho, elas também podem ser as melhores, porque querem que você vença e seu trabalho brilhe, então irão te estimular a ser o melhor que você puder. A gente não pode ver pelo lado pessoal, principalmente quando o livro ainda não está pronto, e sim como uma oportunidade de ver erros antes que um leitor aponte quando o livro já estiver por aí e você não puder mais mudar nada.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Para os meus primeiros livros, lá na adolescência, eu escrevia os primeiros rascunhos à mão. Hoje em dia ainda gosto de ter um caderninho para anotar algumas coisas, mas como meus rascunhos e planejamentos costumam ser longos, prefiro digitar. Geralmente compilo tudo no Word, e um tempo atrás eu estava procurando um bom software grátis para esses planejamentos, mas acabei usando o Notes do Mac. Como as notas se conectam com o aplicativo do celular, quando eu tenho uma ideia e estou longe do computador, posso anotar lá e acessar de qualquer dos meus dispositivos depois. Em alguns casos eu também gosto de fazer desenhos, rascunhos mesmo, para imaginar os ambientes. Mapas ajudam muito! Você consegue visualizar melhor o espaço, as distâncias, onde as coisas estão localizadas, e desenhos assim ajudam a formar uma imagem melhor na cabeça para descrever as cenas. Esses eu faço à mão, e quando é algo que eu quero acrescentar ao livro, refaço, digitalizo e deixo bonitinho usando o Photoshop. Também experimentei usar o Pinterest para procurar referências visuais de personagens que vão me ajudar a descrevê-los e imaginá-los (ou às vezes penso neles como atores conhecidos), ou de locais, cores, sensações… principalmente quando escrevo fantasia. Estudar design e games me deu esse método visual de pensar histórias, o que acho bem útil.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Muitas das minhas ideias vêm de livros que leio, games, filmes e séries que assisto e questionamentos do dia a dia do tipo “E se…?” Quando não estou fazendo nada, ou fazendo algo que não requer concentração mental, acabo pensando em histórias, e por isso muitas das minhas ideias surgem em viagens de carro, no banho, antes de dormir, etc. Acho que um bom hábito para quem quer ser criativo é passar menos tempo no celular, nas redes sociais e “fazendo coisas”, porque são nos momentos de ócio que a gente tem ideias. É quando nossa mente está livre. Escutar música também me traz muita inspiração (e por isso alguns de meus livros têm playlist). Viajar, passar um tempo sozinha, sair para um passeio, conversar com pessoas diferentes, ler um artigo de revista, olhar para uma pintura, uma foto, pensar na existência, refletir sobre um filme que assistiu… Para mim criatividade está diretamente ligada a reflexão, questionamento. Quando você se questiona: “Por que algo é assim? E se fosse diferente? Por que eu gosto disso? Por que as pessoas gostam disso? Por que o mundo está desse jeito? O que isso que eu sinto significa?” Enfim… procurar respostas para as coisas me faz pensar em assuntos que podem ser interessantes se transformados em ficção, me faz pensar em histórias não contadas, mundos e realidades que poderiam existir… E como para mim literatura (e arte, no geral) é sobre metáforas, sobre encontrar significados e questionar o mundo, acho que quanto mais a gente pensa ativamente em coisas interessantes e conhece outros trabalhos, mais estimula nossa própria imaginação.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Tudo mudou muito, principalmente depois que tive uma filha. E não foi só uma mudança na minha rotina, mas na minha vida, em quem eu sou, em como eu vejo o mundo. E quando a gente se reinventa, nossa escrita muda também. Por isso o escritor não pode se isolar em sua caverna. É fundamental ver o mundo, aprender novas coisas, novas línguas, novas culturas, conhecer novas pessoas, se apaixonar, se desiludir… enfim, viver. Porque a vivência traz tanto consigo e isso vai refletir no que você escrever. O escritor tem que saber de tudo um pouco, então sempre tento procurar conhecimento e abrir minha mente.
Eu costumava escrever sem parar, dia e noite. Meu mundo era limitado, mas eu encontrava em outros livros a imaginação que eu precisava, e assim eu conseguia escrever sobre realidades parecidas ao que eu vivia e lia. Desde então visitei muitos países, vivi nos Estados Unidos e na Dinamarca, em contextos acadêmicos que me introduziram a um novo mundo. Encontrei o amor, construí uma família, e todas essas experiências me mudaram completamente. Cresci, e minha escrita também cresceu.
Se eu pudesse voltar atrás não seria muito dura comigo mesma, mesmo sabendo que eu podia ter escrito tudo o que escrevi de maneira muito melhor. Porque eu não poderia me culpar. A “eu” do passado era uma, que escrevia sobre o que podia, com a habilidade que tinha. Então tudo o que eu faria é me parabenizar pelo trabalho árduo e dizer que ele me trouxe onde estou, e que eu não preciso ser tão dura comigo mesma, porque eu vou chegar lá. O que me trouxe muitos problemas foi minha ansiedade, foi depositar na escrita toda a esperança de mudar minha vida, todo o escape que eu buscava, quando na verdade a vida em si foi o maior escape, e eu ainda tenho muitos anos para atingir minhas metas. Não há porque correr e se estressar.
Eu ainda tenho “ânsia” de escrever, como um viciado que precisa disso, mas a vida me forçou a dar várias pausas, e estou aprendendo a ser mais moderada, a procurar resultados mais a longo prazo. Me tornar fluente em uma segunda língua (e começar a aprender uma terceira) também foi um enorme ponto de mudança, pois o que pessoas que falam só uma língua não percebem é que estamos presos às estruturas do nosso idioma e isso pode sim limitar nosso modo de pensar. Principalmente se você escreve sobre um local que não é o Brasil, eu diria que é quase que fundamental entender como as pessoas daquele país se comunicam. Elas não vão falar certas gírias e suas frases vão ter estruturas distintas, pensamentos distintos, e mesmo existindo tradução, ajuda muito pensar em como aqueles personagens estariam falando em suas línguas originais.
Quando comecei a reescrever diretamente em inglês uma história que deveria se passar no Reino Unido, percebi tantas coisas que tinham me passado batidas… e meu modo de escrever e estruturar o texto também mudou. O que tiro disso é que tudo o que a gente aprende melhora nossa escrita, e não só aquilo que a gente imaginava ser importante. Escrever em uma nova língua também significa abrir um novo mercado, uma nova possibilidade de publicação, novos públicos… Ou seja, novos horizontes e possibilidades de atingir seus objetivos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho muitos projetos! Livros que quero rescrever, livros que tenho prontos e quero revisar e publicar, e livros que são só ideias e quero escrever. É difícil achar um foco quanto tem tanta coisa na sua mente (e uma bebê precisando de você!), mas me planejo, encontro calma e paciência e penso no que mais me empolga no momento – é nesse livro que vou colocar meus maiores esforços. Estou planejando uma ficção científica romântica que não vejo a hora de poder escrever, e esse vou começar direto em inglês, um desafio a mais. Também estou a ponto de publicar um novo romance em português na Amazon para meus leitores brasileiros, no mesmo estilo de As Letras do Amor (meu romance publicado pela editora Novo Conceito/Novas Páginas).
No geral, escrevo o que eu gostaria de ler e ainda não existe, mesmo que o tema já tenha sido explorado – mas ainda não foi explorado daquela forma, então fico animada em fazer a minha versão e contar aquela história. Tenho muitas outras ideias que me animam também e não vejo a hora de poder escrever. Quero muito escrever um livro que se passe aqui em Copenhagen. A cidade é linda e me inspira todos os dias, mas ainda preciso encontrar “a história certa”. O mais legal de escrever é que você não só lê a história que gostaria que existisse, você vive ela e decide como acaba.