Patricia Auerbach é escritora, ilustradora e pedagoga com Máster em Literatura Infantil e Juvenil pela Universidad Autónoma de Barcelona.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu não tenho muita pressa pra começar a trabalhar de manhã. Prefiro fazer tudo o que tem que ser feito logo cedo e só começar a escrever ou desenhar depois de ter tirado da frente as providencias e telefonemas do dia. Me concentro melhor a tarde então normalmente uso as manhãs para responder e-mails, organizar eventos de formação de professores e preparar aulas. Deixo pra escrever à tarde quando a casa está silenciosa.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu gosto de ler ou estudar pra acessar esse lugar de criação. É uma espécie de ritual de concentração. Vale literatura ou artigos sobre leitura e educação. Qualquer coisa que me faça esquecer outras atividades e focar no mundo da palavra escrita e das ilustrações. Eu preciso sempre de muito silencio pra trabalhar. Qualquer ruído interrompe meu raciocínio. Essa é a parte mais difícil da minha rotina de trabalho, porque escrevo em casa e muitas vezes é difícil ignorar os ruídos da rotina familiar.
Trabalhos mais difíceis, que demandavam um mergulho mais longo no texto às vezes exigem que eu saia de casa. Bibliotecas costumam funcionar nessas horas. Mas é a exceção.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho uma meta diária e não tenho muita regra pra criar, por que cada trabalho nasce de um jeito, numa intensidade, mas normalmente eu escrevo num jorro e depois fico dias e dias revendo o texto pra acertar os detalhes e eliminar os excessos. Às vezes, mesmo achando que o trabalho está pronto sinto que ele precisa descansar. Eu termino, imprimo e deixo ali num cantinho pra ver o que acontece. É quase como fazer pão. Depois de fazer a massa chega a hora de deixá-la crescer. Só que com o texto esse tempo é imprevisível, pode ser um dia ou um ano até que eu pegue de novo aquele texto e faça uma leitura atenta. Algumas vezes concluo que já está pronto, e então preparo o arquivo para levar para a editora. Outras tantas concluo que ainda falta algum ingrediente e levo a massa de volta pra cozinha.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Normalmente quando eu sento pra escrever é sinal de que eu já sei o que quero dizer e já encontrei o tom dessa fala. Quando sento no computador eu normalmente já pensei bastante sobre o trabalho, já escrevi nos meus cadernos sobre ele. Não quer dizer que eu saiba exatamente cada detalhe da obra, não planejo tudo dessa forma. Uma das coisas que mais me encanta, sobretudo com textos mais complexos ou longos é perceber que os personagens ganham vida à medida em que a gente escreve. Viver o embate entre o que estava previsto para o personagem e o que ele vai pedindo ao longo da obra é delicioso. Às vezes uma história toda precisa ser alterada por causa de uma fala ou um gesto que não estava previsto, mas que funcionou tão bem que não pode mais sair daquele texto.
Eu não vivo sem cadernos. Tudo que me vem à cabeça eu escrevo. A qualquer hora, em qualquer lugar. Sem revisão, sem cuidado ortografia. Palavras soltas, textos completos, poesia. Se tive uma ideia, registro no caderno que estiver na minha bolsa. Depois, quando acredito que encontrei um caminho, vou pro computador, releio os comentários feitos à mão e começo a digitar o texto como ele me vem à cabeça, sem prestar atenção em pontuações, acentos, nada. É comum eu imaginar alguém que está ouvindo a história. Uma criança conhecida, um filho, um amigo, um parente que serve de ouvinte imaginário para a história que eu estou escrevendo. É comum o texto sair fácil, mas ele sempre sai sujo, cheio de erros e trechos desnecessários. Mas fazendo desse jeito acho que consigo uma verdade que eu acho preciosa. Depois desse transbordamento começa o processo de revisão e as milhares de releituras buscando acertar o ritmo, a pontuação e tentando eliminar tudo o que não for essencial pra narrativa. Esse processo é lento e exige um cuidado especial para não limpar demais o texto, porque quando isso acontece a história perde a força, fica corretinha demais e acaba perdendo a personalidade.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu não tenho muita trava não. Não crio para os outros. Crio pra tirar de mim alguma dor. Eu normalmente preciso escrever. É cura, necessidade. Já era assim muito antes de eu fazer disso uma profissão. Sempre escrevi em diários e cadernos e essa sempre foi a minha forma de pensar sobre a minha vida. Quanto aos textos longos, eu não sei dizer. Gosto dos textos curtos por causa desse meu processo em forma de jorro. Funciona bem. Mas eu tenho planos de fazer romance adulto. Quando a história vier acho que vou encarar numa boa. Estou aprendendo a lidar com o tempo da escrita. Eu sou super ansiosa e às vezes ainda me apresso pra mostrar o trabalho antes de deixar o texto descansar. Não é bom, nem pro livro, nem pra mim.
E é claro que muita coisa que eu escrevo nunca sai do computador. Tem muita ideia que não funciona, muito personagem que fica chato. Muito projeto sem graça que nem vale a pena apresentar. Esses textos ficam guardados. Às vezes quando preciso de novas ideias remexo nos arquivos e acabo encontrando uma palavra ou uma cena que me serve pra outro personagem.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Meus melhores críticos para textos infantis são meus filhos. São também os mais exigentes. Eles normalmente fazem bons comentários e servem como termômetro pra ver se o texto está funcionando. Costumo mostrar sempre pra alguém antes de levar pra editora. Não é sempre pra mesma pessoa, cada livro precisa de um crítico diferente. Um é mais poético, outro tem mais cara de escola. Não tem muita regra.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Rascunhos no computador ou no tablet. Mas antes dos rascunhos sempre tem varias paginas de caderno com ideias, que podem ser palavras, parágrafos ou cenas inteiras de uma história.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu sou curiosa e a curiosidade é a matéria prima da criatividade. Gosto de conversar com qualquer pessoa, gosto de conhecer as coisas. Casas, fabricas, escolas, escritórios. Onde quer que eu esteja eu estou sempre pensando o que é que esse lugar tem que só existe aqui? O que faz dessa pessoa uma pessoa diferente das outras? Porque ela é especial? É daí que vêm as ideias. Da vida, das inquietações, das histórias que eu vi e ouvi. Criação é uma colcha de retalhos feita com pedacinhos de vida vivida, emprestada ou sonhada.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A gente vai aprendendo. Quantos livros eu li depois que escrevi meu primeiro livro? Centenas! É muita história, são muitos personagens que se misturam na minha malinha de referências. E quanta coisa eu vivi nesses anos todos? Já não sou mais a mesma, minha vida mudou, o mundo mudou, é natural que a minha escrita também evolua. Sou mais critica hoje, tenho ambições maiores e mais liberdade para experimentar. O desafio é aprender sem perder no caminho o frescor dos primeiros textos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de ler um livro que fosse capaz de ler meu pensamento e me surpreender a cada página. Quanto ao projeto novo, acho que é o romance. Mas ele vem.
Meu dia começa cedo! Água para ferver, cheiro de café pela casa e um longo dia que se inicia!
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A melhor hora do dia é aquela que consigo compartilhar da minha doce companhia. Seria uma nova versão do “enfim sós”: eu e minhas ideias. Não tenho um ritual por assim dizer, mas gosto de colocar uma música suave: meditação, sons da natureza ou mantras.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho uma metodologia. Quando a escrita é acadêmica, os períodos são concentrados. Agora, quando se trata das minhas histórias, crônicas e contos, escrevo quando a alma me convida para uma prosa.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Bom, esta pergunta tem em duas etapas, porque há duas escritoras que precisam responder!
Quando escrevo sobre a área de tecnologia educacional ou ainda como gestora de pessoas, realizo uma boa pesquisa anteriormente à escrita. Faço anotações de citações importantes, estruturo o “esqueleto” do trabalho para então, finalmente, iniciar a produção.
Agora, quando a escrita é um convite da alma, uma prosa sobre a vida, os relacionamentos e um sem fim de assuntos do coração, o processo é absolutamente intuitivo. Escuto as ideais como se fosse o farfalhar das asas das borboletas que visitam um lindo jardim e simplesmente escrevo!
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Os prazos a serem cumpridos são um incentivo e um bom remédio à procrastinação. (risos).
Mas de modo geral, sou ágil e minha escrita fluída.
E quando sinto as temidas travas, não insisto! Entendo que se a escrita não “acontece” é porque a alma precisa de um tempo de descanso.
Paro, saio caminhar, vou ler, conversar ou tomar um café!
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Aff! Muitas vezes! (risos)
Como trabalhei na edição de material didático, tenho olhos de “lince” e pavor de erros!
Acredito que, às vezes, estamos tão mergulhados na nossa produção, que não vemos obviedades!
Por este motivo, costumo compartilhar os textos com, pelo menos, duas pessoas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Somos bem amigas! Íntimas eu diria, afinal, é uma das minhas maiores paixões e área de estudo!
Diria que, pelo menos, 90% de tudo que escrevo é direto no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm do dia a dia! Gosto de conversar com pessoas, prestar atenção das entrelinhas da vida e compartilhar minhas reflexões!
Dois hábitos que julgo fundamentais: manter uma caderneta para anotações e manter uma postura de observadora dos movimentos do universo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Escrevo com o mesmo ânimo dos primeiros tempos mas com a maturidade que a idade me presentou.
Minha busca (insana) por agradar diminuiu muito e entendo que há escritos e escrita para todos os gostos e todos os públicos.
E eu diria para mim mesma: seja cada vez mais você!
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Minhas histórias, crônicas e contos são voltados ao público adulto, no entanto, já foram usados em muitas escolas com crianças! Eu adoraria publicar um livro com meu material adaptado ao público infantil! Um patrocínio será muito bem-vindo! (risos)
Eu adoraria ler um livro que ensinasse a conseguir senhas para visitas no céu! Amaria dar um abraço na minha avó Nena, a primeira contadora de histórias que conheci na vida! Minha fonte de amor! Minha melhor lembrança de infância!