Oscar Nakasato é professor e escritor, autor de Dois.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Levanto geralmente às 7h30 e vou à universidade. Como docente, não tenho rotina. Há dias em que tenho aulas pela manhã, em outros me envolvo com algum projeto, participo de reuniões ou permaneço no departamento preparando aulas, corrigindo provas, lendo, trocando ideias com meus companheiros. Adoro a docência e a convivência com alunos, professores e outros servidores da universidade.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Em função da docência, sobra-me pouco tempo para escrever. Também dependo da distribuição das aulas em determinado semestre, pois ministro aulas para turmas matutinas, vespertinas e noturnas, por isso não há um período do dia que eu dedique à escrita. Não tenho rituais. Só gosto de tomar café quando escrevo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Como sou professor de uma universidade pública, é difícil estabelecer uma rotina de escrita. Às vezes, passo mais de uma semana sem escrever uma linha. Da mesma forma, há períodos em que produzo mais. Costumo usar essa característica da minha profissão para não estabelecer metas de escrita. Na verdade, é uma desculpa, pois mesmo em períodos em que tenho mais tempo não consigo me disciplinar. Tenho inveja daqueles escritores que escrevem duas ou três páginas diariamente durante cinco dias da semana.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu não faço um trabalho esquemático de compilação antes. Leio alguns livros e outros textos antes de começar a escrever, mas a própria escrita vai exigindo outras informações, as quais vou buscando durante o processo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A procrastinação é um problema para mim. Estou escrevendo no computador, e então acesso a internet para ver um vídeo no YouTube. O primeiro me leva ao segundo, que me sugere um terceiro… Ou alcanço um romance na estante e começo a relê-lo, esquecendo-me daquele que ficou no Word. Gosto mais de ser leitor que ser escritor. O medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade existem, mas não me paralisam.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não há um padrão, a revisão é constante. Uma hora eu paro e digo para mim: “Chega!” É um processo sem fim. A cada vez que releio, encontro uma frase que parece pedir para ser reescrita. Então eu preciso fazer um exercício de humildade e reconhecer que nunca chegarei ao texto cabal. Eu sempre mostro meus textos para o meu amigo José Flauzino, o Juca, que aponta erros e faz sugestões.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Tornei-me totalmente dependente do computador. Não escrevo nada à mão, nem aquelas anotações que alguns escritores costumam fazer em guardanapos ou outros pedaços de papel. Quando tenho alguma ideia ou até quando elaboro mentalmente uma frase que me pareça original, procuro guardá-las na memória até me colocar diante de um teclado. Às vezes, quando vou digitar, já as perdi ou não me lembro exatamente como eram, e então preciso reelaborá-las.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias vêm de todos os lados, da própria vida e dos livros e outros textos que leio. É claro que o hábito da leitura e o da observação da vida são essenciais, mas não os cultivo pensando em me manter criativo. Faço isso naturalmente.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Com o tempo tornamo-nos mais exigentes em alguns aspectos e mais flexíveis em outros. Hoje tenho uma preocupação maior em relação à correção da linguagem e à elaboração dos personagens e dos enredos. Ao mesmo tempo, aceito os meus próprios erros com mais tranquilidade. Ou seja, eu não me esmero para buscar a perfeição, pois sei que ela é inalcançável, mas quero o melhor dentro das possibilidades que existem.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu gosto muito de filmes e penso em realizar algum projeto (não necessariamente um livro) que una literatura e cinema. Quando estava escolhendo a minha pesquisa de doutorado, pensei em trabalhar com essas duas modalidades de arte, mas não encontrei um orientador para esse desafio. Gostaria, por exemplo, de me aprofundar nas adaptações de textos literários que Akira Kurosawa fez para o cinema. Em relação ao livro, eu não dou conta daqueles que já existem. Não penso em nenhum que ainda não foi escrito.