Nathasha Chrysthie é escritora, revisora e produtora editorial.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu começo o dia pulando da cama, praticamente. Não por energia, mas porque eu detesto me atrasar, e ativar os 5 minutos do despertador pode desandar todo o meu dia. Não tenho exatamente uma rotina. Estou em um momento de transição do home office de volta ao presencial, então minha manhã varia um pouco quando estou no escritório de quando estou em casa. Em home office, consigo acordar cedo, ir para a academia e tomar um café sossegado antes de começar a trabalhar. Quando vou para o escritório minha manhã passa como um borrão.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sou uma pessoa do dia. Trabalho melhor na parte da manhã, pré-almoço. Sinto que é quando tenho meus picos de produtividade. Como trabalho de 9h às 18h, o período destinado a escrita é outro, no geral à noite e nos finais de semana. Não tenho uma grande preparação, só faço questão de me sentar em frente ao notebook com uma boa caneca de café e uma musiquinha de fundo, geralmente instrumental.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Costumo escrever mais nos finais de semana e feriados. Infelizmente não consigo escrever todos os dias, meus dias precisariam ter 50 horas! Minhas metas são mais pautadas em prazos que eu mesma imponho, não em números de palavras. Procuro estabelecer uma meta para terminar um livro e ir fazendo de tudo para avançar nos capítulos a fim de cumprir o prazo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Uma vez que a história surge para mim eu começo a escrever os capítulos conforme vem a mente, sem muita organização. Já comprei cadernos e tentei fazer uma lista de personalidade dos personagens e um arco da história, mas sem sucesso. Eu tenho zero disciplina na produção dos meus livros, as ideias vão vindo meio caóticas e tudo vai entrando na história. Costumo dizer apenas tenho a ideia geral das histórias, mas no final são os meus personagens que tomam as rédeas e contam o que querem. Claro que algumas coisas ficam e outras saem, já que sempre reviso o capítulo anterior antes de começar um novo. Graças a isso a história fica bem fluida. As pesquisas vão acontecendo no meio do caminho, conforme vai surgindo a necessidade.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não costumo sofrer muito com bloqueios, o que mais trava a minha escrita é a falta de tempo. Trabalho muito e estou sempre me envolvendo em vários projetos, então é difícil conciliar o tempo para escrever. Infelizmente quando a escrita é apenas por prazer, sem prazos reais a cumprir e a responsabilidade de entregar um livro pronto é complicado driblar a procrastinação. Saber que uma editora acredita em você e aposta na sua história, que você terá algum reconhecimento por isso, dá uma super motivação, mas até hoje não tive essa oportunidade. Não tenho problemas em trabalhar em projetos longos, meu primeiro romance demorou 6 anos para ser finalizado. Mas também gosto de me desafiar em prazos curtos, me dá uma certa adrenalina.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Vou revisando sempre antes de avançar. Escrevo, deixo o texto “descansar”, releio, edito e avanço na escrita. Com a história finalizada, leio tudo novamente acertando o que tiver passado. Quando o livro é impresso, ainda reviso mais uma ou duas vezes as provas antes de imprimir. Quem trabalha no meio editorial e é revisor tem dessas manias, ficar passando pente fino até não poder mais. Também gosto de mostrar para o meu amigo Alex, que é um dos meus maiores incentivadores na escrita. Ele acreditou em mim desde o começo, dizia que a minha história tinha potencial, na época eu estava escrevendo o Te Prometo o Céu, e aquilo me fazia continuar. Ele comentava capítulo a capítulo, e me cobrava mais. Devo a ele ter despertado para essa carreira.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
As histórias longas só consigo escrever no computador, mas quando tenho ideias de contos, crônicas e poemas, gosto de escrever à mão ou até no bloco de notas do celular, caso esteja no transporte público, por exemplo. Mesmo as ideias prefiro escrever direto no Word, pois assim já vou aproveitando trechos e acrescentando coisas que ficam salvas na nuvem automaticamente. Só quem já perdeu textos importantes por falta de um backup eficiente aprende essa lição.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Acho que minhas ideias surgem de observar pessoas e relações. Acho também que sou uma boa ouvinte, sempre encontro pessoas que querem me contar sobre suas vidas e isso me dá bastante material. O escritor deve manter sua mente ativa, eu sempre fui uma leitora voraz, também adoro acompanhar séries longas e coletâneas de filmes. Gosto de ser envolvida no ambiente da ficção, ser arrebatada pelos personagens como se fossem amigos próximos, e isso me instiga a criar personagens que deem essa sensação aos meus leitores.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Uma mudança positiva no meu processo foi uma maior confiança no que eu escrevo e no meu propósito como escritora. Isso com certeza se deve aos meus leitores, que têm compartilhado comigo suas experiências de leitura e as emoções que minhas histórias lhes causam. Ouvir como minha escrita provoca sentimentos tão bonitos nas pessoas me deu autoestima para acreditar em mim mesma e na minha capacidade como escritora, por isso fico menos insegura com meus textos e mais livre para ousar. Se pudesse voltar uns 10 anos atrás, diria àquela Nathasha para ser mais paciente e gentil consigo mesma, para acreditar mais em si.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho muitas ideias fervilhando, mas tem três projetos que tenho muita vontade de realizar em breve: 1 – escrever uma série que acompanha a vida de uma personagem principal ao longo das fases marcantes da sua vida; 2 – escrever uma história de super-herói; e 3 – montar a minha editora independente e editar meus próprios livros. Já edito os que publico no Kindle, mas quero poder ajudar autores iniciantes que não compreendem o processo editorial e sonham em ter seu livro publicado, seja impresso ou digital.
O livro que eu adoraria ler e ainda não existe é esse que pretendo escrever: sobre um super-herói autista que ganha super poderes depois de os pais o submeterem a diversos tratamentos para a “cura” do autismo.