Nanda Barreto é jornalista, ilustradora e escritora, autora de Majô quando crescer (2019), Manual de incertezas (2018).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Uma das coisas que mais potencializa minha criatividade é ter gestão sobre a minha rotina, com flexibilidade para organizar compromissos de acordo com minhas próprias necessidades e desejos. Por isso, há mais de uma década atuo como freelancer. Sou jornalista, mas também sou professora de yoga, escritora, poeta… e gosto de me dedicar a uma porção de coisas. Não tenho uma rotina rígida e vou adequando momento a momento. No entanto, gosto de acordar cedo. Começo o dia por volta das 6h e vou desenrolando compromissos de ordem pessoal e profissional. Cuido do corpo, da casa, da alimentação, das plantas, dos afetos e dos afazeres de jornalista, comunicadora e fazedora.2. Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?Eu tenho maior capacidade de concentração pela manhã, período que costumo reservar para edições e revisões de textos. Mas para escrever, pode ser em qualquer momento mesmo. Sou do tipo que rascunha mentalmente, escreve no bloco de notas do celular e mesmo quando estou com prazos apertados, sempre deixo aberta uma abinha aqui no meu navegador com um docs chamado rascunhão, onde jogo frases livres e ideias com algum potencial.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Acabo escrevendo diariamente como jornalista. Mas poesias, prosas e contos costumam surgir em momentos de inspiração, que podem ser a qualquer tempo. Claro, também abro espaços cotidianos para me dedicar aos textos literários quando desejo terminar, aprofundar, dissecar, organizar…
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Tem vezes que fico com um texto enguiçado por anos. Noutras, ele vem inteirinho na minha mente, os dedos quase não acompanham ao digitar. Este arquivo on-line chamado rascunhão também costuma ser ponto de partida para textos. É um banco de beliscões e cafunés mentais, versos, temas e informações que eu gostaria de abrir e aprofundar. Então, volta e meia dou uma lida, pesco umas frases lá e vou longe.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Lido com muito yoga! (Risos!)
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Geralmente mostro. Tanto na função de jornalista quanto de escritora, considero fundamental contar com opiniões e sugestões dos colegas e amizades. É super revelador e instigante ter contato com este olhar do outro. Me amplia e faz crescer.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
As duas coisas. Passo boa parte do dia em frente às telas, então acaba sendo muito por ali. No entanto, também sou adepta de caminhadas e nestes casos costumo me mandar áudios quando ocorre algum insight que considero válido.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Eu busco me manter aberta pra vida, sem muitas certezas, críticas e opiniões impermeáveis. Gosto de questionar mais pelo exercício de compreender do que para obter uma resposta encerrada. Ler, conversar, andar de bicicleta, viajar, praticar yoga, fazer terapia, estar em contato com a natureza e experimentar situações novas são hábitos que me ajudam a ver o horizonte mais vívido. Uma luneta na mão, um microscópio no bolso e um caleidoscópio a tiracolo no pescoço. Vou mais ou menos assim.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Uma versão minha me diria: sai da internet e vai te dedicar mais ao processo da escrita e estudar! Pare imediatamente de adiar a participação em grupos literários e amadureça o teu texto antes de sair publicando nas redes sociais! Risos!
Mas uma versão de mim com menos delírio de importância se dedicaria apenas a celebrar a caminhada até aqui.
A verdade é que nunca pude ser uma coisa só, com uma carreira focadíssima e setas fincadas na mesma direção. Mesmo como jornalista e comunicadora, passeio por lugares diferentes. Tenho muitos interesses e quero experimentar a vida. Minhas portas sempre bateram de dentro pra fora, me convidando a inventar caminhos.
Na lida escrevedora, algo muito importante para mim é que durante anos participei ativamente de um coletivo de poesia em Brasília chamado Nexo Grupal. Foi onde comecei a compartilhar meus textos e conhecer outros estilos, intimamente. Sou muito grata às trocas que tivemos nestes anos. Ainda nos encontramos, mas agora de forma remota e esporádica. Antes, os encontros eram mensais e levávamos textos inacabados, versos travados e também os nossos clássicos! (Risos!). É um coletivo de trocas autorais, formado por gente de diferentes áreas do conhecimento e muito talentosa, que gosta de comentar e dar pitacos no texto alheio. Além de me trazer belas amizades, essa experiência repercute muito em mim e na forma como me expresso na escrita.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu quero uma casa no campo, onde eu possa compor muitos livros rurais! Risos! Tenho desejado publicar uma coletânea ilustrada por mim. Num ataque de ousadia, ilustrei meu livro infantil Majô quando crescer. Eu tava com uma artilharia pesada de autocrítica apontada pra minha testa, mas no final das contas este livro foi super bem recebido pela comunidade leitora, principalmente pelas crianças. Isso me trouxe mais confiança e vontade de interagir com a infância. Então, quero avançar por aí.