Mírian Freitas é poeta, ensaísta e professora, doutora em Literatura Comparada pela UFF.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Inicio meu dia agradecendo pela oportunidade de vivenciar mais um ciclo na Terra. Costumo ler as notícias sobre política, cultura (literatura, artes, etc.); leio alguns poemas, ouço alguma música.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sempre à noite estou mais predisposta a ler e a produzir textos.
Creio que seja por que durante a noite há mais silêncio e eu estou mais livre para interagir comigo mesma, a pensar, refletir, comunicar-me sobre o que me tocou durante o dia.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu escrevo um pouco quase todos os dias, sem focar em metas. Simplesmente escrevo, depois releio, lapido, reescrevo se necessário.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita parte daquilo que observo dentro e fora de mim, das leituras que faço, de algum momento contemplativo em relação à natureza e ao ser humano. Não vejo dificuldade em iniciá-lo quando tomo como inspiração algumas notas ou rascunhos/fragmentos. Para mim, é natural todo o processo da escrita, tendo em vista que há momentos que o fluxo da escrita é mais contínuo que em outros. Penso que temos que aceitar com naturalidade estes momentos em que a produção não flui como gostaríamos. O fluxo às vezes surge estreito, tímido e depois encontra a robustez. Ao contrário disso, às vezes ele surge imenso e depois se afunila. Depende muito.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Já enfrentei momentos de muita procrastinação em relação a minha produção literária. Vivi dois lutos muito próximos e intensos, o do meu pai e o da minha mãe. Foi um longo período de estagnação e de descrédito com a minha própria escrita. Porém, como tudo passa, este momento se foi e retomei, com bastante fôlego e inovação, todo o meu processo criativo. E, por sinal, tenho obtido êxito e estou bastante animada com as leituras e com as oportunidades que têm vindo ao meu encontro.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso-os inúmeras vezes e sempre que fica faltando revisar mais. Que alguma “coisa” passou despercebido. Acontece sim, de mostrá-los a alguém em quem confio e que também, como eu, tem costume de publicar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo-os sempre no computador. Não consigo rascunhar nada à mão. Antes, fazia-o na minha Olivetti portátil, presente de aniversário do meu pai. Agora, com toda essa tecnologia ao redor, é só mesmo no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm de leituras, filmes, de conversas com pessoas, da contemplação e convívio com a natureza, é por ai… O hábito que cultivo é sempre estar lendo autores diversos de prosa e poesia; sempre assistindo a um filme que me toca, que me traz reflexões, etc.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Bem, com as leituras e a maturidade, nós evoluímos. A maneira de sentir-se dentro e fora do mundo, mudou. Com isso, mudou também a maneira como você se vê no mundo. Pois acredito que a escrita é essa relação da gente com nosso universo íntimo e com o mundo em geral. Não que a escrita tenha que estar somente relacionada a um eu-lírico sentimentalizado e que não sai de si mesmo. Não é isso. A escrita é fluxo e à medida que vivemos, evoluímos e isso reflete naquilo que criamos em nosso imaginário. Antes, muito antes, a minha escrita era de alguém que tateava o escuro dando os primeiros passos. Agora, apesar de ainda tatear o escuro, já dei passos mais ousados e consigo enxergar algumas frestas de luz. Ou seja, o processo da escrita em mim já tem se transformado, transcendido.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Há alguns projetos rascunhados e não são poucos. Um deles é escrever, em prosa ou poesia (fragmentadamente) a história de vida da minha mãe que, para mim, foi um exemplo de mulher aqui na Terra. Eu cheguei a pensar em um livro que ainda não exista. Acho que se eu pensar em algum aqui, aposto que ele já existe escrito em alguma língua, em algum país… Hoje temos de um tudo escrito ou quase tudo