Marilia Kubota é poeta, jornalista e mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Pela manhã, leio jornais e e-mails e faço postagens no Facebook. Comento notícias ou publico poemas ou crônicas. Não escrevo poemas ou crônicas todos os dias, apenas quando um fato ou notícia me comove. Quando amanheço retraída, começo o dia lendo um livro.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrevo melhor pela manhã e depois das 18 h. Não tenho surtos para escrever de madrugada. Não tenho ritual de preparação para escrever. Gosto da criação a partir do acaso – serendipidade – e circunstâncias espontâneas.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando estou movida para a criação, escrevo em períodos concentrados. Não há quantidade de poema/texto a ser produzido. Acho meta de escrita uma camisa-de-força. Prefiro a força do acaso, a onda da movida.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Escrevo movida a partir de comoção gerada por notícias ou por livros, canções, filmes ou cenas que vejo na rua. Não compilo notas, a não ser mentais. Escrever é lutar com as palavras a cada poema ou texto. O poema é ativado por uma explosão de sentidos, verbais ou cinestésicos.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando não estou em ponto de escrever, descanso. Fico mais tempo escrevendo não-poesia do que poesia. Escrever todos os dias, mesmo que não poesia e ficção, refina a prática. É uma forma de driblar a procrastinação, as expectativas e a ansiedade. Inicio vários projetos ao mesmo tempo e tenho outros, inacabados. Um poema pode ser resultado de longo processo de criação ou pode ser resolvido imediatamente. O mais longo projeto para o poeta ou escritor de ficção é a aquisição de uma linguagem, uma voz pessoal.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quando reviso, reescrevo um pouco todos os dias. O processo de revisão é mais lento que o de criação. Apago, corto trechos, crio novas peças ou textos. Além da reescrita, é preciso pensar no livro como projeto, com unidade. A unidade é pensar na coerência entre poemas ou textos. A revisão parece interminável. Estabelecer um prazo para fechar um livro evita que se prolongue em demasia. Poucas vezes enviei rascunhos para outros autores ou leitores antes de publicar. Enviei os originais de meu primeiro livro, “Selva de sentidos”, para Carlito Azevedo e ele respondeu de forma gentil, comentando pontos fracos. Agora estou trabalhando num livro de crônicas e pedi para o poeta Carlos Dala Stella dar um parecer. Recebo com prazer as leituras, mas o olhar mais crítico é o meu. Gosto de trabalhar em parceria ou em projetos coletivos para determinar um objetivo para meus projetos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Hoje em dia escrevo rascunhos de poemas no Facebook. Escrevo também, à mão, em agendas e notas de papel soltas, em geral, em oficinas – seja eu a orientadora ou orientanda. Transcrevo poemas e textos no diário virtual (mariliakubota.wordpress.com) Ficção – contos e crônicas – escrevo diretamente no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Algumas ideias vêm do hábito de andar na rua, encontrar pessoas e conversar com elas. Outras, da leitura de livros e jornais. Outras, por ler poemas, ouvir canções. A percepção cotidiana é que não tenho grandes ideias, grandes projetos, grandes planos. Não tenho hábitos especiais para me manter criativa. Tenho hábitos não exclusivamente voltados para o processo de criação poética. São para manter em contato com a poesia, enquanto não concretizo o processo de escrita de uma obra.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Em relação ao caos, quase nada mudou. Em relação a organizar o caos, vem mudando pouco a pouco, à medida em que me aproprio de técnicas de composição de texto. Quando mais jovem, era mais exigente, descartava quase tudo o que escrevia. Eu diria à jovem iniciante para não mudar nada. A paciência é uma aprendizagem, como o impulso criativo. Nos últimos anos , aprendi com meus erros, em especial em relação a criar uma linguagem coloquial e buscar imagens simples.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero escrever um livro com tema determinado, seja poesia, conto ou romance. Quero ler mais livros para crianças, meu repertório na área ainda é baixo. Também, ler mais livros de mulheres, para as quais a escrita é instrumento potente de fortalecimento da identidade. Quero, cada vez mais, ler livros escritos por mulheres.