Mariana Lancellotti é artista, psicanalista e gerente de RH, em qualquer ordem.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu não consigo ter uma rotina logo de manhã, demoro para me sentir acordada. Mas levanto cedo, sempre cedo, antes das 8 horas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de escrever meus primeiros insights em qualquer lugar, principalmente no transporte público.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando estava escrevendo contos, tinha uma meta, de pelo menos dez páginas ao dia. Mas agora não estou trabalhando em nenhuma obra, então escrevo quando sinto inspiração.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Depende do formato que eu estou desenvolvendo. Na prosa eu me preparo muito, faço roteiros, escrevo as cenas que acredito que sejam os pontos de virada da história. Volto nas cenas mais difíceis, leio, releio, leio releio até o texto estar redondinho. Na poesia eu escrevo uma vez e edito outra. Tento não racionalizar muito minha poesia para deixá-la com a característica que mais gosto, de sincericídio, de alma escrita.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não lido! (risos) Eu não tento ser uma “escritora”, ou ser uma artista que não sou. Então tomo a procrastinação ou o medo de publicar como parte do meu trabalho. Meu trabalho é tanto o que eu mostro quanto o que eu escondo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quantas forem necessárias! Eu até mostro as primeiras versões para amigos leitores, mas as pessoas não gostam muito de dar um feedback, elas sempre elogiam e não é isso que eu estou buscando quando mostro a primeira versão. Tenho um tio que é escritor tarimbado, 50 anos de escrita, então os comentários dele são os que eu levo mais em consideração.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu adoro tecnologia, adoro! Não só como usuária, mas também filosoficamente falando. Acho incrível que a passagem do tempo, nossa experiência de vida, nosso “estar”no mundo se determina pelo avanço da tecnologia. Desde os 18 anos escrevo no computador. Mais recentemente comecei a usar meu celular, que tem uma canetinha que eu posso escrever notas a mão. Juntei a tecnologia ao analógico, e adorei a mistura. Por isso publico meus poemas no meu Instagram (olha a tecnologia aí de novo) escritos a mão, em meu bloco de notas do celular.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Do meu mundo subjetivo. Sempre. Sou psicanalista e talvez obcecada pelo meu mundo subjetivo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que mudou, mudamos como pessoas, mudamos sempre, né? Não consigo me imaginar sem ser uma metamorfose ambulante. Eu diria pra Mariana que começou a publicar “não espere nenhum retorno disso!”, acho que antes eu tinha expectativa de ser muito lida, de ser descoberta, sei lá. Hoje já não tenho mais essa fantasia.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever um romance sobre a minha busca espiritual. Talvez seja um ensaio, um relato. Mas essa seria minha última obra a ir a público. No mais, sou uma artista, e não uma escritora, então tenho desejo de me dedicar ã música, que é uma grande paixão. Além disso gostaria de ver o Lorena, meu livro de contos, adaptado para o vídeo, para atingir mais pessoas. Gostaria de ser a produtora executiva dessa adaptação, provavelmente uma minissérie de 11 capítulos e, se eu pudesse, em formato de animação. As artes visuais também são um dos meus maiores interesses.