Marcia Paganini é escritora e editora-chefe na Florear Livros.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia cuidando dos meus bichinhos (duas cachorras e três gatinhos). Tomo meu café e me sento para trabalhar. Escrevo conteúdo didático, mesclando atividades didáticas e fundamentações teóricas e orientações metodológicas. Essa é a minha escrita mais intensa (é o meu trabalho há muitos anos). Tenho uma demanda grande de trabalho e prazos apertados/exíguos, o que acaba comprometendo o tempo para a escrita literária. Também sou editora (de didáticos e de literários). Muitos trabalhos de edição consistem em reescrever ou escrever de novo o que o autor/o produtor de conteúdo entregou. Nos literários, as vezes o escritor teve uma boa ideia de tema e enredo, mas escreve mal, trucado. E aí cabe ao editor deixar o texto fluido. Gosto de fazer isso, é uma espécie de coautoria, com o desafio de adequar a minha escrita ao estilo do autor (só que com a correção gramatical adequada). Há textos que edito que são belíssimo e aí cabe só aquele pequeno traquejo pra deixar o que é bom ainda melhor. “Escrever é humano e editar é divino”. rs
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A escolha do período do dia não tem a ver com manhã, tarde, noite ou madrugada, mas com as outras tantas coisas que estão acontecendo no momento, relativas ao meu trabalho oficial e às questões domésticas/pessoais. Às vezes, penso que a manhã será tranquila e vem um turbilhão de whatsApp, porta pra atender etc. Geralmente, sábados e feriados o whats dá um pouco de paz. Mas de modo geral em escrevo em meio ao caos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu escrevo todos os dias como disse, mas não necessariamente a escrita literária.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Para a escrita literária, pode acontecer de duas formas: uma necessidade, uma encomenda (por exemplo: conto com a temática feminina para publicar na antologia X cujo prazo é Y; um conto infantil ambientado no Paraná para o edital do Sesc/PR.) Então, a escrita tem hora marcada. Reservo um horário e escrevo.
A outra situação é a inspiração, é uma palavra ou frase que surge e começa a me fazer passar mal de modo que tenho de vomitá-la. E aí escrevo, geralmente a versão inacabada, por vezes tosca e que nunca virá a ser um texto de fato. E às vezes acabará sendo. Às vezes, muito tempo depois. Outras, o texto evolui, e passo dias, meses lapidando aquela escrita. Sempre penso na edição junto, na forma que aquele texto vai ter, como vai se materializar. Não consigo desvincular autoria de edição.
Escrevo muito mentalmente. O texto escrito fica na minha cabeça, geralmente quando saio para caminhar sem rumo certo. E muitos desses textos se perdem, pois não sendo registrados logo, a memória acaba por apagá-los.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Às vezes, é preciso dar uma “limpada” na mente, em algumas atitudes viciadas e se alimentar de coisas novas. Isso ajuda a destravar. O medo de não corresponder vai sempre existir, mas é preciso se lançar, acreditar e correr riscos se quisermos conquistar algo. Não tenho medo de projetos longos. Meu medo é não ter tempo de vida o suficiente para tudo o que quero realizar.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas vezes, incontáveis vezes. Sim, na maioria das vezes, mostro. Temos um grupo de escritores que leem os escritos uns dos outros.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Gosto de esboçar a mão, amo o lápis e o papel, mas a urgência da vida tem me impedido de escrever à mão, mesmo que fragmentos. Acaba sendo tudo no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Das mais variadas fontes: das memórias de infância e juventude, de situações do dia a dia, de livros, filmes e matérias jornalísticas. Ler e estar atenta às cenas da vida é uma forma de me manter criativa.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Talvez tenha ficado mais exigente e por isso menos inspirada. Mas aprendi algumas técnicas e amadureci os temas. A morte, a separação e a melancolia são temas recorrentes na minha escrita, o que não significa em absoluto que eu seja melancólica, triste. Mas acho que a literatura precisa provocar, condoer, fazer sentir coisas que talvez não tenhamos sentido na vida “real”. Acho que eu diria: “Vai em enfrente, você pode, você é capaz!”
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho muitos projetos que ainda não comecei. Romances/autoficção com enredos já meio pensados, mas que demanda tempo, e vários projetos de livros infantis. Alguns estão começando no momento.
Tem muitos livros que ainda não li e que gostaria de ler, mas não sei dizer um que não existe e que eu desejaria ler.