Luiz Otávio Oliani é escritor e professor.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
O trabalho profissional como professor ocupa grande parte do meu tempo, de forma que a produção literária se dá em brechas, em lacunas, nas quais me dedico a ler, estudar, escrever e divulgar meus livros. Por isso, prefiro ter vários projetos ocorrendo simultaneamente.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
O mais difícil é sempre começar um projeto. Entretanto, depois de iniciado, a literatura flui, sem mais delongas.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Cada escritor tem um método de trabalho, ou um momento específico para produzir. No meu caso pessoal, não tenho uma hora para certa para escrever, mas geralmente me concentro no que faço. Hoje, de posse do celular, uso o bloco de notas e produzo, por isso posso estar em qualquer lugar.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
Não tenho técnicas neste sentido. Busco escrever diariamente, não importa em que horário, mas, quando for possível, isto porque a literatura exige dedicação. E, para produzir um trabalho de qualidade, é preciso ler, reler, estudar, escrever e reescrever intensamente, até que o texto atinja o ponto certo, tal qual uma massa de bolo bem preparada, com ingredientes adequados e um bom forno. Entretanto, às vezes, as urgências da vida nos levam a outros afazeres.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Livros que envolvem outros autores são aqueles que mais exigem do escritor e, por isso, mais orgulho provocam, quando são bem realizados. Por isso, cito a trilogia “Entre-textos”, na qual dialoguei com 123 poetas brasileiros de vinte estados da federação. Nestes três volumes publicados pela Editora Vidráguas, Porto Alegre, respectivamente em 2013, 2015 e 2016, fiz a criação de diálogos poéticos denominados de “entre-textos” que seriam textos meus inspirados em outros poetas brasileiros contemporâneos. O resultado da trilogia é que recebi prêmios, realizei diversas intervenções poéticas no Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Espírito Santo, Porto Alegre, Pará, Maranhão e Sergipe, participando de mais de 80 eventos literários Brasil afora.
Outra experiência laboriosa foi “Palimpestos, Outras Vozes e Águas”, livro publicado pela Editora Penalux, 2018. Nele, trabalhei incessantemente a intertextualidade através do diálogo com poetas nacionais e estrangeiros. Na quarta capa à obra, Antonio Carlos Secchin destacou: “A obra apresenta sólido e homogêneo conjunto de reescritas da voz do Outro na voz própria do Autor, a convocar ao palco do poema escritores de vários tempos e origens, em especial da produção brasileira modernista e contemporânea.”
Em suma, as experiências citadas referem-se basicamente aos meus livros de poemas, isto porque a prosa demandou outro caminho de produção.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
A preocupação com o leitor ideal não existe. Sob o peso da redundância, aprendi com minha primeira editora o óbvio: o escritor tem de produzir sua obra, não se preocupando com as consequências advindas da publicação. Se o título ganhará um prêmio, se o leitor apreciará o livro ou não, se o parecer do crítico literário será favorável à obra ou não, tudo são questões sobre as quais não se tem ingerência. E é por isso mesmo que a escolha dos temas dos livros percorre uma vontade pessoal, um desejo natural de buscar uma criação cada vez mais autêntica e com mais originalidade. Por isso, enfatizo que, depois de publicar 10 livros de poemas e 3 peças de teatro, ousei publicar meu primeiro livro de contos em 2019. Trata-se de “A vida sem disfarces”, Personal, que contou com orelha de Cairo de Assis Trindade e prefácio de Tanussi Cardoso, o qual escreveu na abertura do prefácio: “Borges disse que um autor escreve sempre o mesmo livro; não é o caso do poeta Luiz Otávio Oliani, que, na sua estreia como contista, em A vida sem disfarces, dá uma guinada de muitos graus em sua carreira literária. Uma mudança radical, virtude de trabalho árduo.”
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
É importante que alguns leitores críticos, no caso, amigos escritores, vejam rascunhos de livros em preparação, pois um terceiro olhar enxerga, muitas vezes, o visível que não é aparente. E quanto mais você estuda, quanto mais você lê e escreve, melhor se torna a sua produção, de forma que, com o tempo, o escritor tende a suprimir tal prática dos leitores críticos. Assim quem passa a ler os originais de um livro é o prefaciador, o posfaciador, ou o autor das orelhas ou da quartacapa, tudo porque o escritor já alcançou um patamar crítico na obra desenvolvida.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Desde a infância, fui estimulado por meu pai que comprava gibis para mim. Minha madrinha me presenteava com livros de ciência e minha avó paterna me apresentou aos Irmãos Grimm e a Monteiro Lobato, aos seis anos de idade. A escola teve um papel fundamental para me incentivar à escrita. Aos dez, onze anos, eu já escrevia histórias, rascunhava poemas, de forma que meu destino de escritor já estava traçado ali. Devo, portanto, muito aos meus professores e destaco aqui duas mestras importantíssimas em minha formação: Lena Jesus Ponte e Claudia Manzolillo, de quem fui aluno nos bancos escolares do Colégio Pedro II.
Quanto às palavras que gostaria de ter ouvido, creio que tudo foi na medida certa. Aprendi alguns dissabores do ofício, que são naturais em qualquer atividade ou profissão.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Minha primeira publicação foi em um livro coletivo, a antologia Caleidoscópio, do Projeto Cultural “Poeta saia da gaveta”, em 1996, JD Editores, sob curadoria de Teresa Drummond. À época, já fazia a Oficina de Poesia Teresa Drummond, e, em 1997, ingressei na Faculdade de Letras da UFRJ. Passei a frequentar os eventos literários no Rio de Janeiro. Este foi o meu percurso inicial, de forma demorei 10 anos até publicar o meu primeiro livro solo “Fora de órbita”, que saiu pela Editora da Palavra. Naquela época, em 2007, já tinha ciência do meu estilo pessoal, que me acompanha até hoje, ou seja, “falar” o máximo com o mínimo.
Quanto às influências, agora é impossível nomear um(a) autor(a), pois tudo aguça a imaginação.