Luiz Henrique Dourado é escritor, autor de “Pinball”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho o hábito de escrever de manhã. Minha rotina matinal começa lenta, o cérebro vai aquecendo aos poucos.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Certamente, ao final da tarde e à noite. Nenhum ritual, sento e escrevo. Costumo ter aquele dicionário analógico de sinônimos próximo, uma olhada em algumas coisas que anotei anteriormente e mão na massa.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho uma rotina regrada. Minha escrita vai mais em períodos. O processo de lapidação, revisão do meu próprio texto, consigo seguir uma rotina mais assídua.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
A ideia nasce, ela morre ou me conquista depois de muito debate interno e está livre para crescer. O começo é fácil, a empolgação está no máximo. A parte mais complicada acredito que seja o meio. O final vem com aquela sensação boa de completude, de terminar um grande projeto. Embora eu entenda que seja super recomendável a utilização de escaletas, minha escrita não é estruturada antes. Em verdade, eu monto um esqueleto apenas mental da história, para onde ela vai caminhar, os rumos, mas durante o processo muitas coisas podem acontecer, personagens interessantes surgem, portas escondidas se abrem, não há nada de rígido. A escrita, aliás, ocorre de forma linear, cronológica, raramente eu pulo para escrever capítulos posteriores, exatamente para que um momento possa puxar o próximo, livremente, sem precisar encaixar com algo que já está escrito mais para a frente.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como eu disse acima, minha maior dificuldade é no meio do livro, a empolgação incontrolável do início já passou, você sabe que o projeto existe e em alguma hora vai sair e, por isso, é possível deixar se levar pela procrastinação. Passado o meio e estando feliz com o resultado, o final também é festa e flui gostoso e rápido. O medo de não corresponder as expectativas não é uma coisa que me incomoda tanto, não dá para desligar o ego, é óbvio, mas a escrita primeiro tem que completar, gozar ao próprio autor. O sucesso vem do acerto do texto com o que o autor precisava expressar, dentro do bom uso das técnicas narrativas, e do entendimento do seu público-leitor.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não existe um número específico, mas no mínimo cinco. É um trabalho de sensação. Participo de um grupo de autores que leem os textos um dos outros com frequência mensal, funciona muito bem.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sempre no computador, com exceção de pequenas notas mentais no bloco de notas do celular.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Elas surgem em qualquer lugar. Não acredito que haja um processo específico para isso. Muitas vezes lendo um livro, é engraçado, surgem outras ideias que não se relacionam diretamente com o enredo da história, mas sinto que, no estado de leitura, pontes mentais são construídas até caixas de ideias ainda intocadas. A cabeça fica condicionada a pensar criativamente, pois ela está elaborando mundos novos insinuados pelo autor, e ligada nesse modo, se reproduzem. Quando uma ideia surge, e elas vivem surgindo (não me faltam ideias) eu corro para anotar no bloco de notas. Em qualquer lugar pode haver um nascedouro, uma frase, um gatilho bom, até das coisas mais bobas, como um picho numa parede, um embalagem de produto.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
A escrita é uma arte que possui suas técnicas. O estudo da técnica melhora a escrita consideravelmente. Se eu pudesse dar uma dica para o Luiz do passado seria para não desperdiçar tempo como outras aventuras que não a escrita e me aprofundasse nas técnicas narrativas.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu estou em processo de escrita de um novo romance, mas tem uma ideia que não para de coçar na minha cabeça, louca para furar a fila e nascer. A briga está boa.