Luis Eduardo Caraça Tavares é formado em História pela UnG e professor de desenho.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Como professor (sou formado em história, com licenciatura plena), eu sempre começo meu dia organizando diversos materiais. Desde coisas simples como lápis e canetas, até alguns documentos importantes, livros e dados específicos. Além de procurar notícias sobre cultura geek, em geral, já que é meu principal foco nos meus escritos. Evito, ao menos logo de manhã, ver noticiários. Especialmente quando não confio na credibilidade das fontes de informação. Uma notícia ruim pode estragar minha “vontade criativa” dependendo de como esteja meu estado de espírito. Por último, mesmo que possa parecer bobo, eu sempre alimento meus cães e converso com eles e me ajudam pelo resto do dia, se possível. Acordo muito cedo e, certas vezes, nem durmo direito. Algo que meus cachorros me ajudam de uma forma terapêutica. Só de olhar para eles meu ânimo melhora ao menos um pouco. Vejo mais eles como, seres que interpretam minhas ideias do que os seres humanos ao meu redor.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Um dos horários em que prefiro escrever é a tarde depois das 13:00 horas. Pois, já estou mais acordado, disposto e preparado. Detesto fazer meus textos sem vontade ou extremamente cansado. Muito menos sem um almoço.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Cada dia escrevo no mínimo mais de vinte páginas de meus textos, não importando o tema. Se eu não consigo atingir a meta não fico triste, só insatisfeito. Com vários serviços diferentes, é difícil lidar com o cronograma de escrita. Não impossível, no entanto. Quando isso acontece, maioria das vezes eu arrumo um momento para escrever, como após o almoço, nos intervalos das escolas ou cursos. É bem difícil, mas é melhor que deixar para depois e esquecer o que queria registrar. Quando escrevo — de forma calma e com tempo mais livre — o faço até ficar cansado. Sempre tentando atingir o meu número diário de páginas ou o quanto posso. Nada que seja muito rígido. Afinal, não se pode criar nada fazendo tudo de forma robótica.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Inicialmente defino sobre o que escrever: contos, romances, dados culturais ou históricos, poesias, textos avulsos, entre tantos outros que ainda trabalho. Já que dependendo do que vou tratar isso vai me ajudar a definir como irei desenvolver meu projeto e na produção do que quero exatamente. Independente de qual seja o tema ou o tipo do escrito. Normalmente, eu sempre leio e procuro qualquer material de pesquisa dias, ou até mesmo, semanas antes. Nada te fazer as coisas de última hora. Qualquer projeto deve ser elaborado com certo grau de antecedência. Pois, se as coisas são feitas sem o devido cuidado elas saem muito ruins. Não adianta produzir algo sem um conteúdo de verdade. Digo, sem colocar parte de mim e do meu esforço no que escrevo. Obtendo os dados adiantados, não é difícil produzir, nem de averiguar a veracidade do que está tratando. Não possuindo perigo de estagnar por conta dos dados ou ter que refazer tudo. Acredite, isso ajuda bastante no processo criativo, pois, não paro por besteira.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Sofro de ansiedade e depressão. Isso já é um grande revês ao escrever muitas vezes. Pois, quando faço textos e poesias esse estado mental até contribui com a qualidade final. Infelizmente quando escrevo algum conto ou ficção não ajuda muito. Sempre produzo algo entre os projetos longos. Pequenos textos, ilustrações, projetos paralelos, entre outras coisas. Desse modo não estagno. Através de algo mais simples me distraio um pouco. Em especial se a depressão vier. Atualmente, depois de muitos problemas pessoais e de trabalho, prefiro falar mais sobre isso do que deixar remoendo. Ainda que boa parte das pessoas trate isso com certa falta de cuidado, devido aos problemas que a vida moderna nos traz. Nessa hora uso a ideia de Neil Gaiman: quando algo atrapalhar sua vida, faça boa arte com isso. Primeiro, faço e produzo conteúdos que me agradem de forma bem clara. Se outras pessoas se sentem tocadas com eles isso é gratificante já que cheguei a seus corações.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Pego meus textos e reviso eles três vezes no mínimo. Devido ao pouco tempo livre isso demora mais do que gostaria, o que não é de todo o ruim. Com isso posso ver vários dos pontos do texto ou narrativa pelos quais passei com meus olhos de forma despercebida da primeira vez. Sempre tento mostrar meus trabalhos para amigos que sejam mais severos e sinceros, mas que gostem do tema que trato naquelas linhas. Assim sei que estou atingindo os fãs daquele gênero em específico. Quase sempre publico meus textos em estado mais bruto, pelo menos para ver as reações de amigos e conhecidos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A ‘internet’ se tornou uma importante ferramenta de pesquisa, quando usada da forma devida. Contudo, em uma época que os sites preferem um alto nível de visualizações do que prezar pela qualidade das informações, sempre é bom procurar com cuidado pela rede. Sempre quando faço algum projeto por via eletrônica vejo a qualidade da fonte. Uma coisa básica é ver se possuí bibliografia e se ela procede. Primeiro escrevo os textos em cadernos e depois os digitalizo. Isso faz com que eu encontre erros, além de me mostrar detalhes que antes não via.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas fontes de ideias variam de acordo com o que quero produzir. Como gosto de produzir textos sobre fantasia medieval me inspiro bastante em escritores ingleses e americanos de livros e histórias em quadrinhos como C. S. Lewis, Neil Gaiman, Alan Moore, George R. R. Martin, Douglas Adams (engraçado, mas ajuda mesmo com esse tema) e principalmente J. R. R. Tolkien. Além disso, escuto músicas com temática medieval ou de filmes desse gênero como Leah, ou a trilha sonora de Coração Valente. Aliás, adoro os trabalhos de Hans Zimmer. Resumindo, eu gosto te estar inserido no universo daquilo que vou tratar. Mesmo que seja um mais atual como a história de uma cidade. Me mantenho sempre assistindo, lendo ou trabalhando com aquilo que me inspire. No caso quase sempre dando aulas de história ou fazendo ilustrações. Não sou o melhor desenhista, mas agrado algumas pessoas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Fiquei mais cuidadoso com os erros gramaticais. Acredite, eu era bem menos cuidadoso com isso alguns anos atrás. Não tento mais agradar as pessoas que lerem meus trabalhos. Faço isso porque gosto, sem a intenção de atingir uma meta de outros. Isso considero tão bom para o escritor, pois, assim, não se deixa levar por ideias que podem prejudicar seu trabalho final. A produção é minha. Qualquer opinião a mais é bem-vinda desde que realmente eu analise e veja se cabe no que quero ter no produto final. Se pudesse falar comigo mesmo sobre meus textos anos atrás com a liberdade de tempo que tinha, eu pediria que escrevesse mais. Tempo é algo bom e útil para alguém que quer passar suas ideias. Como antes queria muito ser ouvido e entendido, isso talvez ajudasse o meu eu mais jovem.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho tantos projetos.
Um deles é de uma história ao estilo Símbolo Perdido de Dan Brown, só que focado na ditadura militar do Brasil. Se concentraria em uma pasta com arquivos secretos daquele período. Outro que gostaria de apoio da prefeitura local (mas ao que parece nunca vou conseguir) é um livro sobre a cultura de Santa Isabel. Tratando sobre religião, história, grupos artísticos e artistas independentes. Tudo visto mais como cidadão do que como um historiador. Contudo, só fica mais nas minhas catalogar esses dados e preservar aquilo que a cidade esquece. Mas meu principal projeto é uma série de cinco livros com temática de fantasia medieval chamado Contos do Tempo Perdido. Trabalho nele desde 2010, ao qual uso elementos mitológicos, históricos e de RPG. Um livro que eu gostaria que existisse seria algo falando sobre mitos menos conhecidos como os da cultura indígena brasileira ou até mesmo de lugares afastados como a Rússia.