Lucila Eliazar Neves é escritora e coautora de As 79 Luas de Júpiter (Penalux).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Trabalho como servidora pública há quase dois anos e começo às sete horas de segunda a sexta. Então acordo cedo, tomo meu café e me arrumo pro trabalho. Meu trabalho me toma bastante tempo então escrevo mais quando chego em casa, a partir das 17 horas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sempre escrevi mais no período da noite. Eu funciono melhor no silêncio. Minha mente é muito barulhenta então preciso às vezes de música pra aumentar o foco. Eu geralmente ouço música indie ou folk.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quase todos os dias eu anoto frases ou idéias de textos no bloco de notas do celular. Às vezes escrevo trechos que anoto e volto depois pra coletar pra algum texto novo. Às vezes o texto (poesia ou prosa) sai pronto, às vezes leva um tempo maturando. Então volto no texto e acrescento algo. Mas não tenho meta de quantidade. O importante pra mim é sempre me manter escrevendo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu procuro sempre referências em coisas que eu gosto como músicas, leitura, fotografia, filmes e conversar com pessoas também me inspira muito. Tudo isso faz com que eu tenha material suficiente para trabalhar. Meu processo é um pouco bagunçado. Eu vou escrevendo enquanto vou coletando. Então eu fico cheia de pequenas notas (digitais e físicas). Mas no final dá tudo certo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Sempre que me sinto travada na escrita dou uma pausa e me entretenho com outras coisas. E volto horas depois ou no dia seguinte. Quando percebo que é procrastinação, tento entender o porquê de estar procrastinando e uso a técnica do despejo. Coloco no papel as minhas dificuldades e o que estou sentindo. Ajuda muito. Acho que autoconhecimento é importantíssimo nessas questões porque cada escritor tem sua forma de trabalhar e conhecer o próprio processo ajuda a lidar com a solução dessas questões.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Olha, eu tenho muito medo de erros de grafia e concordância. Meus textos são geralmente curtos, então sempre que termino volto e olho tudo e pesquiso sempre quando tenho dúvida em alguma palavra. Deixo o texto de molho e no dia seguinte ou dois dias depois volto nele e dou mais uma conferida e pronto. Sempre divido meus textos com uma amiga que também é escritora independente se me sinto insegura sobre postar ou não. Minha professora de escrita, Fernanda Rodrigues, me ensinou sobre a importância de se ter uma rede de escritores que se apoiem. É um espaço de muita confiança e troca. Isso ajuda muito a gente amadurecer na própria percepção do próprio texto.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu mesclo as duas formas. Gosto mais da forma analógica, principalmente porque adoro comprar cadernos. No computador e celular existe muita distração e perco o foco com mais facilidade. Mas acontece muito de estar na fila do banco e pegar o celular e começar a escrever.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vêm da vivência diária mesmo. As pessoas e coisas me inspiram bastante. Eu comecei esse ano um curso de escrita com a escritora Fernanda Rodrigues que tem me ensinado a olhar melhor as coisas a minha volta e tem me dado novas ferramentas de escrita que contribui muito para me manter criativa e curiosa.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Meu processo de escrita andou junto com o meu processo de autoconhecimento. Comecei a escrever durante os primeiros anos de terapia. Tudo no meu processo de escrita mudou durante os últimos anos. Desde a minha visão sobre a escrita, sobre como acessar tudo o que eu quero colocar naquele texto até encarar minha escrita como um trabalho.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero um dia escrever um livro de contos. Mas é um projeto pro futuro. Tenho trabalhado mais com poesia ultimamente.