Luciano Lanzillotti é escritor, doutor em Literatura Brasileira pela UFRJ, autor de “Geometria do Acaso” (Dialética, 2021).

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não tenho rotina matinal além do café da manhã e das tarefas importantes naquele dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Escrevo a qualquer hora do dia e momento, basta ter papel e caneta em mãos.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Certas vezes escrevo aos poucos para o fechamento de algo em andamento ou escrevo à enxurrada e os textos vão ser assimilados por um livro ainda não estabelecido. Não há regras. A forma como a escrita se dá é sempre muito bem vinda.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não relaciono escrita poética à pesquisa, mas aos olhares e encontros que a vida me proporciona e às leituras tidas ao longo do tempo. Escrevo de forma em que o texto sai quase pronto em totalidade, restando, em alguns casos, breves ajustes nos poemas para não se perder a ideia ou a estrutura.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Existe o tempo da escrita e o tempo do silêncio. Parece-me que ambos se relacionam e se completam em fases diferentes, mas não menos importantes. Não procuro estabelecer o que gostariam ou esperariam de um poema, mas colocar no papel, sem concessões, a versão que carrego de mim e do mundo: se gostarem e disso surgir diálogo, perfeito. Sem isso, a gente acaba se tornando parte de uma fábrica de produzir textos unicamente para a venda e o consumo, para as aceitações das redes sociais, mas vazios de alguma forma de sentido estético, humano.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso inúmeras vezes e ainda assim sempre passa algo. Acho natural. As palavras estão vivas como os seres e também guardam suas vontades ou nos pregam peças. Costumo mostrar aos mais chegados, são os melhores e mais fiéis leitores.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A tecnologia é ferramento necessária e me trouxe muitas amizades e possibilidades, mas prefiro escrever à mão e só depois passar ao editor de texto, dessa forma me sinto pleno e próximo dos autores de toda a história da literatura, além de livre das nuvens e algoritmos, ao menos um pouco.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
As ideias vêm da vida, das vivências, das leituras, das conversas. Poesia precisa estar plena de vida e não apenas demonstrar domínio pleno da linguagem ou busca por reestruturação. Palavras sem conhecimento de causa do que se trata, parece-me apenas discurso vago e ilusório.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Creio que passei a escrever melhor, porque vivi mais, li alguma coisa e fiz boas amizades que me impulsionam a prosseguir. Se pudesse falar com o jovem Luciano de seus quinze anos diria: continue lendo e vivendo que a poesia virá a seu tempo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Todos os projetos que criei, permanecem vivos e em andamento. Já publiquei o primeiro (Geometria do Acaso) e continuarei publicando ano a ano os dez livros já escritos e todos os outros que permaneço escrevendo. Gostaria de ler o livro do tempo, os demais, lerei o que for possível.