Luciana Klanovicz é historiadora e professora universitária, autora de “1943” e “Prata da Terra”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina é voltada para o meu trabalho na universidade; sou professora do departamento de História da Unicentro no Paraná. Em horários vagos, tenho uma agenda para anotar ideias relativas aos livros que estou escrevendo.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Para a escrita de livros funciono melhor no período noturno. A casa é mais silenciosa e a rua também. Meu ritual é usar uma playlist (cada livro tem a sua) em fones de ouvido, olhar o planejamento do livro e depois deixar fluir.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Tenho uma meta diária quando faço o cronograma de escrita: um capítulo por dia e só isso. Nem sempre consigo cumprir a meta de escrita diária, por conta de outros compromissos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Sempre escrevo romances históricos com contextos temporais e espaciais bem definidos. Para a escrita de romances crio um caderno com todas as informações que necessito. Nomes próprios, mapas, indumentária, etc. Faço listas. A ideia é recorrer a este caderno quando surgir alguma dúvida. Claro que surgem dúvidas mais pontuais, então, quando isso acontece, paro para buscar a bibliografia acadêmica do período estudado. É um processo longo. No entanto, uma vez assimilado o “espírito da época” sigo em frente com relativa velocidade.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Os hiatos de escrita são já, para mim, familiares. Quando a escrita acaba travando eu deixo o projeto de lado. Isso pode durar dias, semanas e até meses. E sei que, por experiência, os hiatos ocorrerem quando me encontro em uma encruzilhada ou algum impasse na narrativa. Por isso dar um tempo faz com que eu me distancie o suficiente para resolver tais pendências da melhor forma possível.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso o texto depois de um hiato de escrita e depois sigo em frente sem revisão até finalizar. A partir daí são muitas leituras que buscam diferentes motivos: fios soltos, gramática, erros de continuidade, questões temporais, erros históricos, a lista é grande. Só então envio para leitura prévia de pessoas de confiança. Depois de todo este processo, por fim, é que envio para a revisão da língua portuguesa.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Meu primeiro romance “1943” foi totalmente escrito à mão em uma série de cadernos, entre 2016 e 2017. Foi uma experiência única; depois dele uso o Scrivener que funciona muito bem para desenvolver minha escrita.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
A leitura intensiva é uma prática que não abro mão. Não há escritora ou escritor que não tenha o hábito da leitura, especialmente do nicho que escrevo.
As ideias surgem de diferentes formas: em sonhos, viagens ou em trabalhos manuais, etc. Anoto em uma agenda e mais tarde escrevo uma longa sinopse com todos os detalhes possíveis para sinalizar melhor o que eu pretendo com aquele determinado livro. Tenho várias sinopses guardadas para que eu possa trabalhar nelas. Algumas furam a fila. Outras talvez nunca sejam levadas à diante.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acredito que o amadurecimento como escritora me fez enxergar a mudança na minha própria escrita. Há ali algum pequeno sinal de autoria, de uma fala que parte de mim. Isso me motiva a escrever mais e melhor, com toda certeza.
Se eu pudesse voltar atrás diria a mim mesma para ser menos ansiosa em querer liberar a escrita. Ser mais paciência e menos dura consigo mesma.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de começar a escrever uma trilogia contemporânea que tem me tirado o sono, pois é sempre adiada por conta de outros projetos em curso.
Gostaria de ler ainda um livro com alma aberta, sem concessões. Arrebatador.