Lucas Oller é escritor.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu costumo priorizar as minhas obrigações mais pontuais, deixando a escrita de lado para caso haja um tempinho sobrando. Acho que cada momento é importante na construção de um livro, inclusive nos dias em que somos engolidos por uma rotina maçante. Prefiro ter apenas um grande projeto e, enquanto isso, escrevo uns poeminhas para me manter aquecido.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Meu livro foi iniciado sem um planejamento específico, depois de ter dado os seus primeiros passos que fui entendendo o caminho e a estrutura que aquilo necessitaria. Tinha a ideia de escrever um épico, mas não sabia quais seriam os encaixes que melhor se enquadrariam no meu estilo, preferi que ele fosse fluindo e que fosse retocado com o tempo. Entre primeira e última frase, fico com o corpo da obra, a dificuldade está em conectar os extremos.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Dificilmente sigo uma rotina; para projetos maiores gosto de levar o tempo que for preciso, lapidar cada detalhe com calma, e respeitar os momentos de contemplação. Silêncio e ambiente reservado são essenciais para mim. Por isso, grande parte do que eu escrevo costuma ser feito durante a madrugada.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travado?
Eu prefiro não lidar com a procrastinação, apenas aproveitá-la ao máximo, realizando atividades que realmente descansem a minha mente para que ela esteja preparada aos momentos de maior fluidez da escrita. E o que eu faço é ler livros mais leves, jogar um Zelda ou assistir uns animes.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Minha última publicação, o poema épico chamado Raimundo, com certeza foi o texto mais trabalhoso e consequentemente o que mais me orgulhei em ter feito. Foram anos de estudo e lapidação para alcançar um resultado satisfatório.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém um leitor ideal em mente enquanto escreve?
Meus temas estão relacionados com coisas que me dizem respeito, consequências da minha vida e das minhas próprias experiências que podem dizer algo sobre o outro. Aquela questão da minha vida que se encaixe universalmente dentro do sentimento humano.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Gosto de mostrar o rascunho naquele momento em que a obra já está relativamente segmentada, mas ainda um pouco distante do seu caminho para o desfecho final. Antes de desenvolver todas as etapas do texto, as opiniões diversas são de extrema importância para que assim eu possa visualizar melhor os defeitos da minha escrita. Normalmente, são meus amigos mais próximos, aqueles em que confio na capacidade crítica da leitura.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Eu comecei a escrever aos quatorze anos, quando estava no primeiro ano do colegial. Desde pequeno tinha essa ideia de me tornar um escritor, mas foi apenas nessa idade que comecei a colocar as coisas em prática. Falaria para o Lucas adolescente que o texto deve levar o tempo que for preciso; a maturação da obra é um processo importante que poucos têm a paciência de realizar, inclusive eu não a tive na primeira obra que publiquei.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Algum autor influenciou você mais do que outros?
Encontrei o meu estilo no Raimundo; ali que deixei fluir o conhecimento que havia acumulado ao longo da minha vida. A maior dificuldade foi fazer com que um grande poema pudesse ser lido em prosa e um pequeno romance pudesse ser lido em poesia. Fui influenciado pela literatura de língua portuguesa de maneira geral, mas principalmente por Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
O livro “À cidade”, do escritor Mailson Furtado, pessoa que possuo grande alegria em ser contemporâneo.