Lucas Castor é escritor e fotógrafo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo tarde, entre 9 e 10 horas, às vezes um pouco mais, dificilmente menos. Enrolo um pouco na cama, levanto e vou preparar o café, sem café (o médico proibiu: ansiedade). Ouço The Economist, Litterae ou Xadrez Verbal, enquanto preparo um queijo quente com ovo, ou duas bananas, aveia e mel. Antes de mais nada, uma água gelada com limão, para acordar (não acordo quando abro os olhos). Depois de tudo, um chá, para começar a escrever.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Antes da pandemia, costumava escrever somente à noite, que é quando o sono finalmente passou, quando a cabeça está mais fresca, mais nítidos os olhos. Estranhamente, nos últimos meses passei a escrever pela manhã, logo após o desjejum. Tô gostando da nova rotina.
Sim, tenho um ritual. Para começar, preciso de uma bebida ao lado (idealmente, o chá) e de Chet Baker no ouvido; há anos escuto repetidamente o mesmo álbum do jazzista: No Problem.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Varia bastante, mas tento escrever um pouco todos os dias da semana; vez ou outra, um dia do fim de semana. Há períodos de escrita e períodos de ócio (cada vez mais, percebo que essa alternância tem a ver com as estações do ano).
Não tenho uma meta de escrita diária, mas geralmente escrevo enquanto dura No Problem (cerca de 50 minutos). Termino exausto.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Nunca fiz pesquisa para escrever (provavelmente, um erro). Posso dizer que caminho na seara espinhosa da escrita poética, e muito do alimento vem do acaso e de coisas súbitas – elevadas, banais ou sórdidas. A memória é uma espécie de pesquisa (a minha é terrível).
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Escrevo quando tenho vontade, se não tenho vontade, não escrevo: faço o que posso para que não se torne uma coisa chata. Às vezes fica chato, daí paro de escrever e vou olhar a janela; vou ao banheiro; abro o insta.
Sofro do mal inverso das expectativas. Julgo ser excelentíssimo o que escrevo, espero que as pessoas o percebam (certamente, um erro).
Tenho a impressão de que tudo o que escrevi foi curto.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso umas 2, 3 vezes, e, sim, mostro para outras pessoas. Há um grupo de pessoas que me apoiam, num esquema de financiamento coletivo, e elas leem primeiro. Muitas me dão esse primeiro feedback, o que é fundamental. Mostro também para a minha namorada, a Débora, minha principal revisora. Ela é cruel.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Somente no computador. Quando, por questões românticas, tentei usar o papel, desesperei-me: a mão não acompanhava os miolos. Deus abençoe a tecnologia.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Vêm do elevado e do sórdido, mas principalmente do banal. Quero que venham da natureza crua das coisas.
Acho importante que o escritor sustente uma curiosidade ampla de outras artes e de outros saberes, como as visuais, as corpóreas, a psicanálise, a geografia. Devemos construir obras abertas.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Como um esportista em seus primeiros anos, percebo que minha resistência e força estão se expandindo. Posso escrever por mais tempo, e melhor. Claro, em algum momento a equação se inverte, mas tenho uns bons anos até lá, espero.
Você não escreve tão bem assim, baixabola.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Juntar fotografia e literatura num projeto só.
Todos os livros já existem, o que falta é tempo e sorte para ler os que valem a pena.