Lubi Prates é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu, absolutamente, não sou uma pessoa diurna. Meus melhores dias são aqueles em que posso acordar sem usar despertador, ficar na cama até meu corpo desejar levantar, tomar café calmamente enquanto vejo as notícias e respondo as urgências. Me sinto melhor para o mundo social depois do almoço. Um dia sem essa rotina pende para o desastre.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Me sinto melhor a partir do entardecer. Mas não necessariamente meus poemas são escritos à noite ou durante a madrugada. Eu não tenho um ritual de escrita. Às vezes, meus poemas nascem em caminhadas, durante trajetos, no meio de conversas e outros compromissos, muito raramente, quando estou em casa, pronta para escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não escrevo todos os dias. Eu tento fazer com que a escrita poética seja o mais prazerosa possível e isso, pra mim, é atravessado pela flexibilidade, por ser natural, e não uma obrigação sobre a qual eu tenha que me debruçar. Então, escrevo quando me sinto inspirada, quando há algum tema sobre o qual eu queira escrever. Desde que lancei o “um corpo negro”, em setembro/18, escrevi um poema, rs, o que é totalmente o contrário dos 10 meses em que passei escrevendo-o.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Geralmente, meus poemas nascem de uma imagem ou um verso. Se não posso escrever imediatamente, anoto ou gravo, para não esquecer, mas deixo a ideia criar forma na minha cabeça. Se posso escrever imediatamente, só paro quando considero o poema finalizado.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu lido bem com todos os cenários. Entendo que o que me “faz” poeta não é, necessariamente, escrever, mas um modo de ver a vida. Então, para mim, é bem ok lidar com as travas de escrita. Quando a escrita trava, eu vou continuar vivendo, fazendo as coisas que gosto, me alimentando, até sentir que vai destravar – não me forço. A procrastinação é mais difícil de acontecer porque o poema urge. Se está na minha cabeça, precisa sair. Expectativas alheias: o meu mais sincero f*-se, não me preocupo com isso. E não me coloco em projetos que possam me gerar ansiedade, seja por qual motivo for.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Dificilmente eu volto à algum poema para fazer modificações em sua construção, só mesmo para alguma revisão. Se levanto da cadeira, está pronto. Tenho tido pouca necessidade de mostrar meus poemas antes de publicá-los, considero isso bastante importante. Não sei, talvez, eu esteja confiando mais na minha autocrítica, rs.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu amo tecnologia, mas sou uma poeta à moda antiga que prefere escrever no caderno – deixar bem a mostra os processos da escrita: escrever, riscar, trocar a ordem dos versos. Isso se perde nos processos tecnológicos. Apenas quando não tenho papel e caneta, anoto no celular ou gravo.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Tudo me alimenta como pessoa, portanto, também como poeta. Sou muito ligada à arte, em suas diversas linguagens, mas principalmente, literatura, música, fotografia e cinema. Minha criatividade, acredito, nasce da minha interação nestas experiências e nas experiências da vida real.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu acredito que minha auto-exigência diminuiu bastante. Me preocupo muito mais em produzir algo que dialogue comigo, com o que eu acredito e quero, do que se as outras pessoas vão gostar ou não.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Sou do time que acredita que tudo já foi criado. Eu acabei de lançar um livro que eu gostaria de ter feito, o “um corpo negro”, não tenho um plano, além de descansar. Por enquanto.