Lua Valentia é escritora, autora de “Oneiroi: os Deuses dos Sonhos”.

Desde que respondeu à última entrevista, quase tudo mudou na vida da escritora Lua Valentia. Hoje ela mora em Melbourne, na Austrália, com seu esposo e uma gata chamada Kia. Ela acaba de publicar seu décimo livro: Oneiroi: os Deuses dos Sonhos, disponível pelo Clube de Autores. Ademais, ela trabalha como tradutora e vendedora de cursos a respeito de magia e bruxaria pelo site da Specula. Valentia criou seu próprio oráculo, Os Specularis, com o qual ela oferece consultas espirituais para pessoas do mundo todo.
Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Eu uso uma agenda do Google para organizar minhas tarefas. Atualmente, estou escrevendo um livro de poesias e um outro sobre Liran Van Garden, uma colônia astral. Além disso, sempre estou atualizando meu site Specula e minhas redes sociais com textos relativamente longos. Ter vários projetos ao mesmo tempo faz com que eu mantenha meu foco simplesmente porque posso me revezar entre um e outro. Ferramentas diferentes exigem processos diferentes. Eu estou sempre me adaptando e buscando inspiração no mundo astral, seja ele virtual ou não. O difícil é ter tempo hábil para dar conta de tudo!
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Planejar o esqueleto do projeto é tão importante quanto deixar fluir e permitir que a inspiração tome conta! Eu não sou obcecada com datas, mas procuro seguir um prazo. Eu demoro mesmo no miolo do projeto, pois sempre me pergunto: “será que eu quero mesmo seguir esta linha de raciocínio? Será que deveria reescrever e jogar tudo para o alto?”
Mas então eu respiro fundo e persisto. Hoje eu me sinto extremamente feliz pois acabo de lançar meu décimo livro. Veja bem: meus livros não são perfeitos, mas fico satisfeita por fazer todo o processo: escrita, diagramação, divulgação etc. Estou me sentindo realizada pois já lancei o livro para a minha mãe espiritual Perséfone (Oteluma) e agora lancei para a minha família espiritual paterna (Oneiroi). Estou radiante, como se tivesse cumprido certos propósitos de vida. Com este décimo livro, eu fecho o meu primeiro ciclo! Caso tenha interesse, você encontra meus livros no Clube de Autores.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Hoje em dia, com trinta anos de idade, eu preciso sim de uma rotina, até porque estou casada e divido o espaço de trabalho com meu esposo. Nós temos um home office porque estamos trabalhando em casa, especialmente em período de pandemia. Eu acabei me acostumando com o horário natural de um trabalhador, geralmente das 9 às 5. Para ser sincera, acabo trabalhando muito mais que isso!
Você se lembra que na última entrevista eu disse que tinha o costume de trocar o dia pela noite?
Quando eu cheguei na Austrália, foi muito fácil me adaptar, pois o dia deles era noite no Brasil! Às vezes eu penso que estava treinando para me mudar. Agora eu tenho uma vida mais regrada, mais madura — sem perder o charme do caos criativo de uma escritora.
Para ajudar, eu gosto de organizar minha escrivaninha antes de começar. Faço questão de ter um ambiente limpo e com aromaterapia.
Enquanto escrevo, eu costumo ouvir música instrumental, especialmente Dark Ambient, pois me ajuda muitíssimo.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travada?
Eu raramente me sinto travada na parte criativa. O que me amofina é a questão administrativa com a qual eu tenho que lidar, que por vezes chega a ser insuportável. Além de escrever, eu vendo cursos e consultas online a respeito do conteúdo dos livros. Eu gasto muitas horas lidando com a parte técnica do website. Isto consome energia que eu poderia estar usando para escrever, o que sinceramente é a pior parte do meu trabalho! Quando eu me sinto muito carregada, eu paro 10 minutos para comer algo, sentir a energia do sol, dar uma caminhada e tocar em plantas. É a forma que eu encontrei de me energizar e de me concentrar. O trabalho criativo não me cansa, mas o administrativo me trava algumas vezes, sim! Sou grata à tecnologia que facilita a nossa vida, mas eu preciso dedicar muitas horas do dia para resolver questões cansativas que em nada agregam ao meu processo criativo.
Como desenvolvi o meu próprio negócio, eu mesma estabeleço minhas metas, sejam elas criativas, administrativas e/ou financeiras. Eu sou muito austera com algumas questões; outras eu deixo no colo de Caos. O importante é que eu não me comparo a ninguém, não perco meu tempo competindo com as métricas alheias. Eu me meço pelos meus resultados e metas anteriores. Analiso com calma as minhas barreiras e crenças limitantes para quebrá-las. É preciso equilibrar a empresária e a escritora: este é o meu atual desafio. Eu tenho metas financeiras altíssimas, mas não permito que elas ditem ou alterem a minha criatividade.
Vejo muitos escritores sofrendo justamente com isso: eles sabem escrever, mas não sabem vender. Hoje eu sei que não é possível viver apenas da criatividade, visto que a parte estratégica importa. Por isso eu também me dedico a estudar marketing digital, para que eu possa continuar vivendo daquilo que eu amo.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Certamente o livro que deu mais trabalho foi o Via, o Grimório dos Specularis. Em primeiro lugar pelo seu tamanho: a versão atual em português tem mais de 400 páginas. Em segundo lugar porque demorou muitos anos. Em terceiro, porque do livro eu também criei o oráculo, que é a ferramenta que eu uso para auxiliar meus clientes durante consultas espirituais. Eu fui criando os Specularis aos poucos e não acelerei o processo.
Para contextualizar, eu explico: Specularis são seres mágickos que auxiliam magistas em seus rituais. Cada um deles tem um simbolismo e uma função. Agora imagine o tanto de energia necessária para dar vida a esta egrégora! Foi preciso muita dedicação e persistência! Então sim, eu me orgulho deste livro porque não se trata apenas de uma obra criativa, mas também de um Grimório que ajuda diariamente milhares de pessoas que nele creem.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém uma leitora ideal em mente enquanto escreve?
Eu crio aquilo que eu gostaria de encontrar no universo. Eu aprendi a me tornar a pessoa que gostaria de ter por perto. Também escrevo sobre aquilo que existe no meu mundo ctônico, trazendo à tona muitas questões pessoais. A minha obra é um espelho: fala sobre mim, mas reflete a pessoa que lê. Meus temas giram sempre em torno de magia e da importância do Sagrado Feminino. A minha leitora ideal é uma mulher, bruxa e feminista. Mas isto não impede que outras pessoas busquem meu trabalho. Qualquer alma que se sentir tocada será bem-vinda. A minha obra é pensada e construída de uma forma holística. Tudo que eu escrevo está interligado de alguma forma.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Eu geralmente converso muito a respeito com meu esposo, porém ele não fala português, então tenho que ficar traduzindo o que eu escrevo. Eu envio a obra ao mundo assim que sinto que ela precisa nascer. Por não ter edição profissional, sei que cometo erros. Estou sempre aberta a revisitar e a consertar a minha obra. Esta é a vantagem da publicação independente: eu posso alterar tudo quando quiser.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Comecei a escrever de maneira profissional em 2016. Talvez eu diria: “escreva mais. Não se importe com as críticas que não forem produtivas. Revise mais cada texto. Invista numa impressora. É importante ler o texto no mundo físico e não apenas através de uma tela!”
Talvez eu não diria nada. Apenas abraçaria aquela menina, pois sei que ela terá um longo caminho pela frente.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Eu sou muito influenciada por Tommie Kelly, Julian Vayne e Peter Grey, todos homens estrangeiros, grandes magos da nossa geração. Tommie me inspirou com a criação dos Quarenta Servidores, que revolucionaram o cenário mágicko atual. Julian me inspirou com O Livro de Baphomet e vários outros sobre bruxaria do Caos. Peter Grey me inspirou especialmente com dois livros impactantes: A Bruxaria Apocalíptica e The Red Goddess. Estou numa fase maravilhosa, pois posso ligar para eles para conversarmos. Ter esta linha aberta com os meus autores favoritos é um sonho que foi realizado. Portanto, a comparação em si não me importa desde que seja feita de maneira construtiva. Encaro esses comentários como elogios. Até porque eu trago muito do universo feminino para a minha obra, então naturalmente a influência deles se quebra em algum momento. É quando eu mostro o meu melhor lado.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Eu recomendo o livro Sonhos Lúcidos: Um Guia Para Dominar a Arte de Controlar Seus Sonhos, escrito por Dylan Tuccillo, Jared Zeizel e Thomas Peisel. Este livro influenciou muito a minha última obra, o livro Oneiroi, os Deuses dos Sonhos, disponível no Clube dos Autores. Recomendo ambos para quem quer se tornar um onironauta e começar a explorar o Mundo dos Sonhos de uma forma lúcida e construtiva.