Lorena Nery Borges é escritora.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sou uma pessoa que gosta de rotinas, mas elas são mutáveis, dependem muito da fase que estou passando. Mesmo assim algumas coisas permanecem inalteradas, por exemplo: a oração matinal antes de levantar, porque gosto de fazer meus agradecimentos e pedidos sem sair da cama. E meu despertador jamais poderá ser um som qualquer, obrigatoriamente deverá ser uma música que dependendo da fase pode ser algo para me deixar mais elétrica, ou para obter tranquilidade, ou para me deixar mais amável… Há mais de dois anos desperto com uma música de Chico Buarque- Futuros Amantes, mas já tive como toque as músicas de Chico César- Estado de Poesia; Belchior- Coração Selvagem ( na voz de Ana Carolina); Natiruts- Sorri, sou rei; Lenine- Paciência; Paulinho Moska- Idade do Céu… Entre outras que também servem como fonte de inspiração para textos e vivi uma fase em que necessariamente tinha que ouvir Caetano Veloso- Reconvexo, Saulo Fernandes- Tão sonhada e músicas da Banda Validuaté enquanto me preparava para ir trabalhar, era minha maneira de compreender que o dia tinha começado de verdade.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Para escrever para a página na internet, geralmente não tenho ritual porque me dedico às crônicas nesse meio de comunicação, porém quando estou destinando atenção à criação de conteúdo para publicação de livros (fase que estou atravessando) tenho alguns, como por exemplo, escrever nos horários tarde e noite, que pode invadir um pouco da madrugada. Tenho uma concentração maior nesses horários. Escrevo e faço pequenas pausas somente para um gole de café, água ou lanche. Se eu não puder me dedicar exclusivamente à escrita naquele horário, então, não escrevo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Minha rotina de escrita quando não estou em produção exclusiva para a publicação de livros é bem livre, só escrevo quando sinto que devo escrever, tento não me pressionar. Acho importante ter este limite para não ver a escrita como obrigação, mas sim como algo que faço por prazer ou necessidade de alma.
Já quando estou em produção de conteúdo para a publicação de livros, tenho uma rotina que parece ser estranha porque é divida por dias: leio de Domingo à Quarta (ou a semana inteira), mas só escrevo de Quinta à Sábado. Não tenho meta de escrita o que eu conseguir escrever naquele dia é suficiente, inclusive porque existe a revisão do que já foi escrito para ajustes.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Adorei essa pergunta. O mais difícil é começar e depois de escrita não mexo muito porque se não acabo perdendo o sentimento. Então, para as crônicas, me sinto mais confortável em publicar assim que termino de escrever, dificilmente guardo para publicar depois, embora isso aconteça para maturar o sentido do texto. Há algum tempo tenho muito mais dificuldade em escrever poemas (na infância tinha muita facilidade com esse formato), levo um tempo maior neles, tiro palavras, substituo versos inteiros, divido versos. Mexo inúmeras vezes porque não me sinto segura no formato, tanto que recentemente me dediquei ao formato haicai porque sou prolixa na escrita e sentia que deveria vencer a barreira das poucas palavras e muitos sentidos. Confesso que foi um alívio concluir e isso fez com que eu me sentisse mais segura para outros gêneros.
Cada livro tem um processo diferente, por isso vou relatar um processo de escrita do meu novo livro. É a primeira vez que escrevo um romance e o processo de criação foi totalmente novo, porque tive a ideia do livro no ano de 2018, mas deixei adormecer para saber se realmente queria escrever aquela estória. No ano de 2019 fiz o primeiro esqueleto e as primeiras pesquisas sobre o tema, deixei tudo guardado e em 2020 a ficção que se chama “Troque as Fechaduras” começou a ganhar o formato, para ser publicado e lançado em 2021.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Minha vida de escritora se fez nos bastidores de eventos literários, em diversas conversas com escritores e escritoras e eu já sabia que em algum momento o bloqueio literário aconteceria, que o medo de não conseguir corresponder às expectativas seria um companheiro durante toda a jornada, mas saber não diminuiu os impactos quando aconteceu. Sempre tive o defeito da procrastinação, o mais difícil pra mim é começar, depois tudo vai se organizando aos poucos. Tento não me pressionar, porém faço acordos comigo mesma que não me sufoquem, mas me estabeleçam prazos. Minha ansiedade é quase organizada, culpa do signo em Virgem, talvez.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Durante a escrita tento revisar algumas vezes, mas não costumo mostrar antes. Lembro-me de ter feito isso quando decidi criar a página na internet “Nas EntreLinhas da Lo Amor”, porque era a primeira vez que tornava meus escritos públicos, depois fui ganhando um pouco mais de confiança. Neste projeto novo tenho pensado na ideia de leitores betas, mas ainda não decidi os detalhes. Tento também não esquecer que sempre terão pessoas que não se identificam com o que escrevo e em contrapartida sempre existirão as pessoas que serão tocadas pelos textos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Raramente escrevo à mão. Costumo escrever os rascunhos no computador ou celular e depois jogar na rede.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As inspirações estão em todos os lugares, sempre gostei de observar e ouvir histórias, o cotidiano é cheio de estalos. Mas livros, filmes e, principalmente, músicas são ótimos para florescer a criatividade. Sonhos também são excelentes propulsores.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Muita coisa muda na gente em diversas áreas, o meio em que estamos inseridos é fator importante nesse processo também, minha escrita sofre alterações das leituras que faço, das músicas que ouço, das pessoas que tenho conversado.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Ainda não sei responder essa pergunta. Estou escrevendo o romance que ainda faltava na minha lista de publicações, porque já tenho contos, poemas, crônicas, textos em dupla, talvez um romance com acontecimentos reais com algum fator histórico.