Lívio Soares de Medeiros é escritor e fotógrafo.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Tenho rotina matinal, mas não para escrever. Minha rotina matinal se limita a obrigações corporais. Quanto à escrita, não há rotina no sentido estrito da palavra, a não ser a rotina de escrever todos os dias.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de produzir de madrugada. Todavia, devido a compromissos de trabalho, nem sempre posso fazer isso. Assim, quanto a escrever, não tenho hora definida para o ato. Não tenho ritual de preparação para a escrita.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo um pouco todos os dias. Como no preceito latino, “nem um dia sem uma linha”. Nem sempre escrevo prosa, nem sempre escrevo poesia. Contudo, escrevo todos os dias. O único livro que escrevi de modo mais concentrado, em longos períodos do dia, foi o Entrevista com o professor, livro em prosa que já está sendo preparado pela editora e que será lançado ainda neste ano. Não tenho meta diária de escrita.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O tipo de literatura que produzo, que, em sua maioria, é poesia, não requer de mim pesquisa no sentido de pesquisa documental. Todavia, tudo o que leio acaba, de algum modo, desembocando no que escrevo, ainda que de modo inconsciente (no mais das vezes, de modo inconsciente). O que leio é minha “pesquisa”.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Nunca me envolvi com um projeto longo. Meu livro mais longo, Anacrônicas, é uma coletânea de crônicas que publiquei ao longo das décadas. Quanto às travas da escrita, em mim, elas ocorrem se não leio ou se não sei com acuidade o que dizer. A procrastinação é defeito feio que tenho. Já com relação ao medo de não corresponder às expectativas, ele existe, mas não é grande.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Os trabalhos que vão sair em livros, sim, eu os mostro para outras pessoas antes de publicá-los. Já o que escrevo para redes sociais, o que faço praticamente todos os dias, eu mesmo reviso. Não sei dizer quantas vezes eu reviso o que escrevo (suponho que isso possa depender do tipo de texto que escrevo). Do que sei, é que reviso com a maior atenção que consigo o que escrevo — o que, é claro, não me livra nem de erros nem de enganos.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Minha relação com a tecnologia é ótima: escrevo no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Comigo, é sempre assim: se estou mantendo uma profícua rotina de leitura, tenho ideias. O hábito que cultivo para me manter criativo é o hábito da leitura.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Não sei se eu saberia responder a essa pergunta. Ainda assim, suponho que, como pessoa, amadureci, o que é ótimo para a escrita. Mas a maturidade em si não faz um escritor. Torço para que eu tenha amadurecido como escritor ao longo das décadas. Como dito, não tenho uma resposta exata para essas perguntas. Um leitor poderia respondê-las melhor do que eu. E suponho que eu diria a mim mesmo para tomar cuidado ao tentar fazer literatura com meus próprios dramas. Um exemplo disso: eu me arrependo de muita coisa que escrevi em meu primeiro livro, Leve poesia; não pelo teor, pela temática, mas pelo modo como certos poemas foram escritos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Eu gostaria de escrever um livro que funcionasse como uma declaração de amor ao ato da leitura. Não consigo pensar agora num livro que eu gostaria de ler e que ainda não existe. Talvez isso se deva ao fato de que há tanta coisa existente boa demais… Precisam ser lidas.