Leandro Monteiro é poeta.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Em geral, após a refeição, costumo ver alguma notícia/vídeo, e, se penso em escrever algo mais específico, faço uma pesquisa – seja livro de prosa, poesia ou artigo (acadêmico ou não) – para escrever (sendo poesia ou prosa). Se é algo mais natural, passo o texto (poético) no papel e, depois, no computador. Se há demanda por tradução e correção (atividades nas quais trabalho), as privilegio. Senão, eu mantenho essa escala de atividades. Durante esse processo, vou reescrevendo o texto e corrigindo o que considero necessário. Em geral, começo o expediente de tarde.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho ritual para a preparação da escrita. Durante o tempo de expediente, divido entre traduções de texto (em geral de poemas estrangeiros, mas faço versões em outros idiomas de poetas nacionais também), a feitura dos vídeos (desde a criação e a formatação dos powerpoints feitos e formatá-los em arquivos) para o meu canal no Youtube: Mundo da Poesia. Tanto a maioria dos vídeos como os meus textos (em geral poemas), escrevo à noite. Nesse período, há mais silêncio e consigo me concentrar mais para fazer ambas as atividades. Mas pode acontecer de escrever, se uma ideia vier, a qualquer horário.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quanto à escrita minha, o período é um tanto randômico. Há dias que escrevo dois, três poemas. Há semanas que escrevo dois, três poemas… Não tenho uma frequência e período diário e semanal para escrever. Contudo, como procuro manter sempre meu blog de poemas (leandropoemas.blogspot.com) atualizada, posto seis poemas a cada mês (um ou dois por semana lá). Cada um desses seis poemas numa língua diversa. Assim sendo, procuro escrever, pelo menos, seis poemas por mês – mas, em geral, escrevo um pouco mais do que isso.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Meu processo de escrita, para poesia, é natural. A ideia vem à cabeça, começo a escrever. E percebo que, para mim, é sempre melhor eu escrever todo poema (pelo menos, o conteúdo que quero abordar no texto) e, depois, se faltar algo ao fazer a leitura, reescrevê-lo. Com prosa, gosto de escrever direto no computador. E, após feito a primeira versão do texto, relê-lo para corrigir e ver se há incongruências, incoerências e faltas de coesão na ou nas histórias. Após correção, penso na ordem e na sequência que os textos podem ter dentro do livro – seja prosa ou poesia. Quando junto os textos para compor um livro, sempre eu penso num conceito que norteie todos os textos. Acho isso importante para se fazer uma obra consistente de forma artística e, até, mercadológica.
Para as pesquisas, uso o google e, se for para saber algum mais preciso, fontes que contenham artigos acadêmicos como: scielo, bireme, lilacs etc…. Assim como monografias ligadas às universidades públicas e etc.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Em relação à procrastinação, depende do período. Se for mais de um mês, fico um tanto preocupado, pois procuro atualizar sempre o meu blog. Se não há textos novos, fica difícil.
Quanto ao medo de corresponder às expectativas, digo que eu tenho mais receio e medo de postar textos um tanto fortes e que possam causar reações polêmicas, sem a mínima intenção de sê-los, e ser mal compreendido. Tenho consciência do que escrevo e sou exigente no gênero o qual escrevo e sou (um pouco) conhecido: poesia. Já fui mais ansioso acerca das expectativas e da dimensão que os meus textos poderiam ter para os (possíveis) leitores e já me frustrei um pouco com a falta de feedback de meus textos. Sendo assim, não tenho nem medo nem expectativas se vou ou não corresponder aos leitores. O que procuro, em toda a minha escrita, é respeitar o/a leitor/a e escrever de modo que ele/a consiga, em sua leitura de mundo, fazer uma interpretação própria, na medida do possível, do meu texto. Ou seja, chamando o seu ser pensante para participar do poema.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Como, por enquanto, estou escrevendo apenas poemas, procuro fazer as revisões necessárias para notar que aquele poema tem, em seu bojo, toda a possibilidade de ideias que eu queria passar ali. Em geral, poemas de formas livres, reviso menos – mais a correção e adequação nas esferas sintáticas, ortográficas e semânticas. Já os poemas de forma fixa, esses, burilo à exaustão até ficarem com um ritmo, musicalidade e métricas bem harmoniosas – neste caso, trato mais de sonetos (que, para a minha pessoa, são mais complicados para escrever). Em geral, não mostro os meus poemas, pois os faço com ideias e conceitos partindo de minhas leituras e dos diálogos de percepções do mundo que eu consigo notar nas sociedades. Um texto subjetivo como poesia, para mim, é complicado mostrar e, após umas orientações, não mudar todo um contexto que foi escrito. Se os faço, é, somente, quando o conceito do livro está formado; para saber as impressões e leituras que o/a leitor/a teve da obra.
Se fosse prosa, que tem uma finalidade de contar uma história e passar uma visão mais material de mundo, eu mostraria, provavelmente, sem muito receio para alguém antes.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Minha relação é, majoritariamente, boa com a tecnologia. Por meio do computador, escrevo, salvo e resguardo os meus poemas. As redes sociais me auxiliam, um pouco, na divulgação dos meus poemas e das obras/autores que considero importantes para os leitores conhecerem.
Como disse, anteriormente, sinto a necessidade de escrever em papel se é uma poesia. Se for um texto em prosa, prefiro escrever direto no computador e, se precisar imprimir o texto, reviso à mão caso seja muito necessário.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Meus poemas partem de duas vias: 1) de minhas reflexões acerca da vida; 2) das leituras que fiz e faço ao longo da vida.
Da primeira, as minhas reflexões podem partir tantas dos meus próprios pensamentos quanto das minhas vivências. Quanto a um ou outro, procuro não esclarecer para o/a leitor/a pois, mais do que confissão, quero que o texto se mostre como uma reflexão humana, a qual, ocasionalmente, foi feita por mim. Além disso, entendo e desejo que obra deve manifestar, dentro de um indivíduo, um “espírito” que possa congregar em todo inconsciente individual e formar uma inconsciência coletiva. Quero deixar obras que possam ser relevantes para as pessoas mais do que essas me tornarem uma pessoa notória – como sucede a J.K. Rowling, Paulo Coelho, Rupi Kaur, George R.R. Martin entre outros… (Desejo, na medida do possível, que meus textos e obras sejam mais falados do que a minha pessoa, só isso.)
Da segunda via, essa se relaciona aos meus hábitos de leitura. Geralmente, eu cultivo a leitura de textos clássicos (neste caso, mais poéticos); notícias; artigos (acadêmicos ou não), ligados à história, ao comportamento humano, linguagem, cultura e outros gêneros textuais e literários. Todos, para mim, podem ser materiais/assuntos importantes para um bom poema. O importante é sempre manter a mente aberta para tudo e fazer as reflexões depois.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Sou mais maduro, tenho mais conhecimento e vivência de mundo do que há quase vinte anos – quando comecei a escrever para valer. Todo esse conhecimento de mundo me permite escrever de modo mais espontâneo e natural os meus textos. Nos meus primeiros versos, tentava forçar escrever um poema todo o dia. Não conseguia. E se o fazia, os resultados eram abaixo de pífios. Ademais, quando mais jovem, tinha uma petulância de querer escrever algo original sem precisar ler os clássicos e outros poetas. Uma tolice. Se você não tem parâmetro de seus iguais e de seus primorosos textos, como você fará um texto bom? Complicado. Todo poeta e o escritor precisa de influências, pois essas são os modelos os quais o poeta fará uma mimesis (imitação para a aprimoração do próprio fazer literário) e terá um espaço/tempo para desenvolver suas ideias e modelos diversos de quem o influenciou.
E, se pudesse voltar atrás, dir-me-ia para ler mais, participar mais de grupos literários e concursos literários e de se arriscar na divulgação das obras num blog próprio e num canal do Youtube. Devido a muito receio e à insegurança quanto aos meus primeiros versos, demorei muito para fazer esses veículos e divulgar os meus poemas. Certamente, isto está me custando, até hoje, muito na visibilidade e na repercussão da minha obra como escritor/poeta.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho um projeto de um romance ficcional de fantasia que tratará da história de uma guerra entre os diversos deuses humanos e o mundo entre os mesmos, o qual quero, por diálogos, embates entre as diversas ideias, comportamentos e percepções dos mesmos, fazer, desse modo, uma analogia com os conflitos entre as sociedades humanas. Tenho um esboço de alguns capítulos dele. Porém, sinto que para completar o projeto, necessitarei compreender o modus operante e ideológico das crenças de muitos países. Isso me levará um tanto de tempo. Só com esforços e, se o tempo permitir, conseguirei realiza-lo.