Larissa Brasil é escritora, autora de “A garota da casa da colina”.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Café, sempre. Reservo as manhãs para organizar a casa, minha agenda e rotina. Sou lenta de manhã, então, faço atividade física para deixar a letargia e aproveitar melhor o resto do dia.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Na maior parte das vezes escrevo a tarde e também a noite, quando estou com o prazo curto. Raramente escrevo de madrugada, só quando perco o sono. Minha rotina de escrita é sempre ler o capítulo anterior e dar uma leve revisada e assim, começar o próximo mais incorporado ao personagem. Antes de dormir também costumo imaginar a cena que vou escrever no outro dia, detalhes, cheiros, gestos, como se fosse um filme.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Quando estou escrevendo um livro, tenho metas. Meu intuito é sempre escrever em seis meses então coloco metas diárias. Meu último livro, de 470 páginas, a minha meta era de 1500 palavras por dia, e consegui escrevê-lo em seis meses. Contos ou noveletas são mais rápidos, mas ainda assim, sempre coloco metas diárias para a escrita, para não perder a relação com a história ou personagens.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu me dou dois meses para me organizar, descrever personagens, pensar na cidade ou universo daquela história, planejar todos os pontos de virada e ter pronto o esqueleto do livro. Esse prazo pode ser menor, mas geralmente para livros, gira em torno disso, sessenta dias. Depois começo a escrever com as metas, de segunda a sexta. Sábados eu deixo para ajustar alguma coisa ou rever o que foi escrito durante a semana.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Depois que passei a organizar e planejar o livro, minhas travas diminuíram muito. Escrever e terminar um livro durante a pandemia me ensinaram que eu realmente consigo seguir minhas metas mesmo em períodos difíceis. É claro que tem dias que não consigo deslanchar na escrita, mas isso é compensado com dias bons. Eu não costumo marcar quantas palavras ou páginas escrevi. Tento sempre escrever uma cena por dia, assim consigo visualizar meu processo diário, semanal e mensal.
Quanto ao medo sempre vai ter. Nunca me sinto segura em lançar nada, nem um simples micro conto. Tento controlar a ansiedade e falar para mim mesma que, a partir do momento que se publica algo, aquela história já não me pertence mais, e sim, a todos aqueles que vão ler. E é claro, vai ter pessoas que não vão gostar, isso faz parte do processo.
Eu fico mais ansiosa em escrever contos, que os prazos são mais curtos, do que romances. Essa é uma parte boa de ser independente, você faz seus planos e assim, se preprara para aquele determinado trabalho. Minha meta é sempre lançar um romance por ano e acho que estou conseguindo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Hoje, reviso menos. Faço metas para escrever todo o texto e só então, quando acabado, fazer a primeira revisão. Tem alguns betas que me acompanham durante a escrita, eles leem minhas histórias antes.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Faço todo o planejamento e delineamento num caderno, assim como as fichas dos personagens, universo que estão inseridos e etc. Depois, parto para organizar a história, que faço no computador, no Excel, onde desenho os pontos de viradas e todas as cenas entre eles, o esqueleto da história. Gosto de procurar fotos de pessoas que se pareçam com os meus personagens. Às vezes faço um diário, ou detalhes do dia a dia deles.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
As ideias vem de todos os lugares, viagens, sonhos, músicas, conversas aleatórias. A do último livro foi ouvindo uma música que sempre escuto, e a ideia se formou na minha cabeça. Gosto de ler muito, conversar com pessoas diferentes e assistir filmes e séries variados.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O planejamento, antes não planejava o que ia escrever e me perdia na história. Hoje, reservo um tempo para planejar, pensar, desenhar a história, e escrever depois disso. Essa etapa me ajudou muito. Diria a mim mesma para não ter medo de dividir suas histórias, antes tinha bastante receio, hoje entendo que as minhas histórias não são mais minhas quando as publico, são dos leitores e cada um tem sua própria experiência e as projeta no que está lendo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero escrever um livro infanto-juvenil de fantasia, já tenho o universo criado, só falta a coragem para sentar e escrever. Também quero escrever uma história de sci-fi, gênero que amo. Gostaria de ler mais livros escritos por mulheres, para mulheres, com protagonistas femininas reais.