Juliana Sayuri é jornalista e historiadora, doutora pela USP e autora de “Diplô: Paris – Porto Alegre”, finalista do Prêmio Jabuti, e “Paris – Buenos Aires”.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Depende. Passei os últimos anos entre São Paulo e Santa Catarina, com rotinas drasticamente diferentes. Em São Paulo, é a história: acordar tarde, muitas vezes de ressaca, tomar muito café, trabalhar até tarde, passar no bar após o trabalho, dormir tarde, acordar tarde e assim sucessivamente. Em Florianópolis, onde fiz pós-doutorado, o ritmo era diferente: acordar cedo, caminhar para a academia, cuidar da horta na volta, passar um café e, só depois, ligar o computador para trabalhar — e com direito a pausas para caminhadas na praia ao lado de casa.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de escrever depois de resolver “a vida”. Enquanto estou no médico, correio, banco, biblioteca, academia, literalmente riscando todos os afazeres da listinha do dia, fico pensando no que preciso escrever. Depois, abro o Word e escrevo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta de escrita diária, mas só sei trabalhar com deadlines, ainda que mentalizados apenas por mim. Preciso de um prazo para saber quanto tempo tenho para escrever e não enrolar. Textos acadêmicos levam mais tempo, então escrevo um pouco por dia. Já textos jornalísticos, meu ganha-pão, é sentar, pensar e escrever de uma vez.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Faço anotações a mão. Depois, passo as anotações relevantes para um documento e vou montando um primeiro rascunho com o material bruto, o que vai no primeiro parágrafo, o que vai depois, o que preciso avaliar se fica ou se sai, o que ainda preciso apurar para incluir. Escrevo no Word, Times 12, margens estreitas, espaçamento simples. Desse primeiro rascunho vem o quebra-cabeças, conferir a ordem das ideias, passar um verniz nas palavras, ler em voz alta. Depois, “lamber as vírgulas”, que é um momento de mero capricho (não no bom sentido) com o texto.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Corrida, café e cerveja, não necessariamente nesta ordem.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso várias vezes. E depois de enviar o texto, fico pensando nele por horas. Detesto precisar enviar um “vale este”, mas às vezes a atitude salva a lavoura. Além do(a) editor(a), quem lê meus textos antes da publicação é meu companheiro — na verdade, quem ouve meus textos, pois é ele quem está ao meu lado na hora de ler em voz alta. Como agora.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo tudo a mão, inclusive fichamento de livros (estes, num caderno espiral de dez disciplinas). Para reportagens, gravo entrevistas e conversas. Mas, durante essas entrevistas e conversas, faço anotações a mão sobre o que acontece ao redor, o que o entrevistado vestia, como se comportava, isto é, tudo o que nenhum gravador de voz vai captar.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Ler.
PS: ter ideias e escrever implica necessariamente apurar, tanto para textos acadêmicos (os referenciais teóricos) quanto para textos jornalísticos (as fontes). De nada adianta um belo texto vazio, oco ou opaco. Apurar quer dizer levantar dados, conferir informações, ouvir outros lados, cruzar análises etc. Penso eu.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Demorei muito para conseguir escrever um lide curto e grosso. Na verdade, até hoje não gosto de lides curtos e grossos. Mas aprender a quebrar uns narizes de cera foi importante.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero escrever um livro-reportagem sobre Fukushima, terra da minha família. A ver.