Juliana Frank é escritora e roteirista, autora de Meu coração de pedra-pomes (Companhia das Letras).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não gosto de acordar, normalmente sonho intensamente e me decepciono quando acordo, então sou bastante inútil de manhã. Tomo um café, faço algum exercício e demoro umas duas horas para retomar a forma humana.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu prefiro escrever à noite, mas não muito tarde. Durante alguns anos virava dias escrevendo e isso me dava uma espécie de mal-estar. A madrugada é uma péssima conselheira.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não escrevo muito literatura. Dou uma olhada diária na minha produção, mas deixo rolar naturalmente. Se eu pegar um bom ritmo e estiver inspirada, ótimo. Mas se sentir que o texto está demorando ou estou sem ideias, paro e vou fazer outra coisa. Já quando se trata de roteiro fico aflita para não atrasar, normalmente estou sempre adiantada e tento reescrever e repensar até ficar bom para entregar, isso pode levar um tempo, mas mesmo se eu estiver sem grandes inspirações me esforço. Uma coisa que funciona é dormir no meio do trabalho, porque reinicia o cerebelo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu sou boa de começos, devo ter umas trinta novelinhas começadas no meu computador. Também escrevo muito em papéis soltos, cadernos. Quando vejo que estou com um bom volume, junto tudo e jogo no Word de qualquer maneira, depois começo a organizar, pra isso sou bastante obcecada, fico dias mexendo na mesma página, escolhendo palavras. São dois momentos muito diferentes na criação. Não pesquiso nada pra escrever, na verdade me inspiro mais em músicas.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Nunca tive isso que as pessoas chamam de hiato criativo, crise, etc. Se uma ideia não se desenvolve bem, desisto dela e parto pra outra sem culpa.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Depende muito do texto, às vezes já de primeira fica pronto, às vezes reescrevo muito, mas tento não estragar. Não costumo mostrar pra ninguém, antigamente publicava trechos no Facebook, mas as pessoas só liam isso e não iam atrás dos meus livros, a maioria nem sabia que eu tinha publicado, resolvi parar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo muito à mão, tenho uma coleção extensa de cadernos que guardo há muitos anos. Muita coisa ainda não organizei, vou deixando pro futuro.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Sempre que eu leio um romance tenho ideia para escrever uma história. Também presto muita atenção nas pessoas nas ruas. Sempre rende.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que eu era mais impulsiva e me esforçava demais. Hoje entendo que nem sempre vou conseguir escrever o que quero racionalmente, sou bem menos exigente.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Meu sonho é escrever um livro com 350 personagens, com tramas rápidas, mas sempre embalo numa única história. Também há uns dois anos estou preparando um livro de poemas (tem até editora já), mas nunca considero que está pronto e muitas vezes quando vou escrever um poema acaba virando uma história sem fim.