Josielma Ramos é mãe, poeta, antologista e feminista.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não costumo ser uma pessoa muito organizada, normalmente acordo tarde, sem seguir rotina, mas quando tenho muita coisa para fazer gosto de organizar em listas pra conseguir fazer tudo, costumo começar meu dia com uma xícara de café, não sou ninguém sem café.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho melhor a noite e na madrugada, gosto de começar a escrever quando todos já foram dormir e estou sozinha naquele silêncio da noturno, meu ritual de escrita é ligar o computador, deixar cadernos, canetas e lápis ao lado, um copo de suco ou chá, uma garrafa de água… etc, de forma que eu não precise ficar me levantando muito e interrompendo o fluxo de ideias, e se preciso ficar longas horas sentada, me levando sempre que necessário para alongar.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Eu não escrevo todos os dias, apenas quando tenho um projeto com prazo, por exemplo, se tenho que terminar um livro de 100 páginas em menos de um mês, tento sentar todos os dias e escrever um pouco, mas normalmente, eu escrevo quando me surgem ideias, faço o rascunho e esqueço ele por um tempo, depois de algum tempo eu volto nele, reescrevo, reescrevo e reescrevo, até ficar totalmente lapidado. Não gosto de metas, mas acho que às vezes elas são necessárias para alcançarmos nossos objetivos, e como disse anteriormente, só às sigo quando tenho prazos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Normalmente eu faço o caminho inverso quando estou escrevendo algum conto ou ficção, primeiro escrevo as ideias e tudo que imagino, local, pessoas, coisas…etc, depois faço a pesquisa em cima do que criei e tento encaixar na história. Como a maioria das minhas obras são poesia, não há muita pesquisa, na poesia é muito diferente, é necessário sentir, então apenas escrevo o que sinto, as dores e tristezas da alma, coisas que me intrigam, me enfurecem ou me deixam feliz, na verdade eu não busco escrever poesia, a poesia é que jorra de mim.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu sou uma pessoa que sofre de ansiedade, então eu acabo me entregando aos meus medos, bloqueio criativo é um deles, eu me afundo bonito, a escrita para mim é um prazer, um lazer, mas quando tenho que tratá-la como trabalho eu afundo, então para me ajudar nisso tento sempre trabalhar em um ritmo desacelerado, até porque acredito que a qualidade da escrita vai ser muito melhor.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu não costumo revisar imediatamente, eu escrevo e os guardo, às vezes por meses, depois reviso, reescrevo, mudo muita coisa que já não consigo gostar como gostava quando escrevi meses atrás, e só quando eu o leio e consigo não achar mais nenhum defeito ou o que mudar, sei que ele está pronto, eu odeio mostrar meus textos antes de publicar, a única pessoa que tem acesso é meu marido, e isso porque eu paro ele no meio da casa e digo – Olha o que escrevi! e ele não tem escolha a não ser ouvir minha leitura, ele é um ótimo crítico do meu trabalho, não mente pra inflar meu ego.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu tenho uma centena de cadernos de rascunhos que acumulei dos meus 14 anos pra cá, hoje em dia escrevo no que está mais fácil de pegar, se estou na rua e não levei bolsa (onde sempre mantenho bloco de papel e caneta) anoto então no bloco de noras do celular.
E apesar de hoje usar o computador para meus escritos, ainda acho que a mão no papel é mais seguro e tem um quê de intimidade entre escritor e obra.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Minhas ideias vem das minhas vivências, das pessoas ao meu redor, da rotina… etc, não costumo manter hábitos, a escrita é muito livre na minha vida, e as ideias surgem quando menos espero.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que mudanças ocorrem aos poucos e só é visível depois de muitos anos de trabalho, eu comecei a escrever aos 14 anos, e assim como hoje eu não tinha um processo de escrita, escrevia quando a inspiração surgia, na época que escrevi meus dois primeiros livros eu tinha um processo mais focado, eu me sentava toda noite para escrever e arrumar meus poemas, todos os dias sem exceção.
Se eu pudesse voltar no tempo, diria para continuar focada e escrevendo todos os dias como eu fazia.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Sempre sonhei em ser antologista, já realizei esse sonho, mas seguindo esse sonho da antologia, tenho projetos de livros com outros autores que gostaria de realizar, mas ainda tenho muito trabalho pela frente antes de tirar essa ideia do papel.