Joema Carvalho é engenheira florestal, doutora em conservação da natureza, consultora, perita e pesquisadora ambiental.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Normalmente, acordo, tomo o meu café da manhã e depois vou trabalhar.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de trabalhar pela manhã, alguns escritos, acontecem, outros, a partir de algum fato, vivência e / ou leitura. A escrita, no momento, está em transição. Até então, nunca foi trabalho, sempre foi o lado “B”, o qual, mantinha escondidinho. Recentemente, decidi expor. Graças a um projeto de poesia, acabei tirando meus poemas da pasta do computador. Uma pessoa me auxiliou muito neste processo, disse que, se tem produção, tem que movimentar, caso contrário, faz mal. Depois disto, têm ocorrido várias oportunidades e situações e o que escrevo, está em movimento, quase, junto ao lado “A”, mas ainda, não tenho rotina de escrita. Como optei por movimentar a escrita, comecei a participar de coletâneas e concursos, o que têm me estimulado a escrever. Assim, participei de uma coletânea da Feira do Poeta de Curitiba – PR, Conexão IV e, graças a isto, o Presidente da Academia Poética, Mhario Lincoln, entrou em contato com minha poesia e fez uma resenha linda do meu livro. Fui selecionada para outra coletânea, o Literarte: Celebra o Sul e Sudeste Brasileiro e estou, também, na coletânea Parnaso, com lançamentos previstos para este ano. Estou participando de um concurso de trovas. Faço parte de um grupo que une poesia e fotografias, grupo muito pequeno de WhatsApp, mas que gosto demais e que, também, me estimula a escrever. Dentro do contexto do movimento, estou com um projeto, onde uno o meu trabalho “efetivo”, engenharia florestal, com a literatura, o qual, tem exigido uma dedicação maior, estudo, pesquisa e revisão intensa do texto, que são fábulas. Os mesmos, aconteceram muito rápido, mas o polimento do texto e o conteúdo tem exigido muito trabalho, ai estou tendo que trabalhar com a literatura..!!
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Como é o meu processo de escrita? É um conjunto de um monte de coisa. Ouvi uma entrevista com o escritor e educador Rubens Alves e ele disse que “O aprendizado é o que fica depois do esquecimento fazer o seu trabalho”. Isto me tocou, porque é a partir do esquecimento que escrevo. Além de ser depois do esquecimento, vem após uma mistura de coisas que não tem, em princípio, conexão nenhuma. Como exemplo, o poema “Caldo Integral”. O título tem haver com Integral, expressão estatística e caldo, devido ao fato de eu não aguentar, na época, as aulas de estatística, durante o meu primeiro ano de faculdade, porém, o poema, diz respeito a um relacionamento, homem x mulher, junto ao vocabulário tradicional, entraram termos técnicos de estatística. Não existe controle do que vem, nem uma intensão.
É difícil começar? Não. A escrita para mim, sempre foi muito rápida, é muito fácil escrever para mim. Comecei a fazer poemas, antes de saber escrever, meus pais escreviam para mim, meus primeiros poemas aconteceram quando tinha cinco anos. Era bonitinho, minha mãe conta que eu chegava e pedia para meus pais escreverem o poema que eu tinha feito. Na adolescência até, aproximadamente, os 34 anos, neguei a escrita, cheguei a dizer que não precisava disto na minha vida. Não existia um acordo com a escrita, era complicado. Depois de esquecer que escrevia e de mim mesma, eis que, totalmente ao acaso, reencontrei-me e, também, com a escrita…processo muito intenso, dentro de um contexto, pesado. Deste retorno, veio a edição do Luas & Hormônios, meu primeiro livro, fiz um acordo com a escrita, mas mesmo assim, por anos, não movimentei meu livro. Ainda era muito desconfortável expor o que escrevia, inclusive o Luas & Hormônios, que é fininho. A partir deste reencontro e da percepção de que a escrita é inerente à minha existência, escrever, para mim, é como o que sinto quando subo montanha, prazer e adrenalina. Clarice Lispector diz que escreve com o corpo, exatamente o que ocorre comigo, não é intelectual, é físico e fisiológico. Praticamente, oito anos depois, da edição do meu livro é que, a literatura veio de forma espontânea, como disse, foi necessário um acordo, minhas partes tiveram que se entender e chegar a um consenso…não foi fácil…até chegar neste ponto de equilíbrio, foi uma guerra, é perdi para escrita, sem dúvida….tentei de tudo, para me livrar dela…
Como você se move da pesquisa para a escrita? A pesquisa é a vivência, um fato e / ou uma leitura, o olhar que busca a quebra de padrões e julgamentos, uma busca de algo maior, de um “céu que nos protege”. Como disse, meu projeto está exigindo uma pesquisa intensa e focada, diferente de tudo o que produzi, um desafio, o que, devido a isto, tem me dado prazer, agora, em um contexto de acordo com a escrita!
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como eu mesma me auto sabotei por anos, a ponto de esquecer que escrevia, a ponto de ser uma surpresa o reencontro com a escrita, isto não me incomoda mais. Estou totalmente, despreocupada. Não espero nada da escrita. Graças a engenharia florestal, aprendi a racionalizar, ou seja, vivemos em país subdesenvolvido, onde a escrita não faz celebridades em abundância, com raras exceções, para se chegar a fazer sucesso como escritor, precisa de um caminho, mérito, “contatos” e, também, sorte, a demanda de escritores é imensa. Desta forma, escrevo porque, tomei a consciência de que preciso escrever, a escrita é mais forte do que eu, conforme coloquei, inerente à minha existência. Se eu tivesse escolha, não escreveria…racionalmente, não vale a pena, principalmente, se for considerada a dificuldade, custo de edição de livro e a venda do mesmo, que não compensa o custo. Somando a isto, existe um descaso absurdo por parte de editoras, especulação de mercado mesmo….um mercado que abusa de quem produz literatura, devido ao perfil que carece de um público, emocionalmente falando e, na maioria das vezes, este autor, não tem noção econômica de mercado que valorize o seu trabalho. Mas, joguei tudo isto no lixo, escrevo por prazer, sem preocupação nenhuma do mundo real, como necessidade de pessoas que gostem do que escrevo, sucesso, venda… escrevo, porque preciso escrever, é fisiológico. Uma opção hoje, é desenvolver livros através de projetos, como já trabalhei com projetos, a meta é esta.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu leio algumas vezes sim, sempre precisa de polimento, gosto de mostrar para outras pessoas, sempre é bom uma segunda percepção.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Depende o momento, tem poemas que vem muito rápido, como uma vez que estava dirigindo e o que eu tinha era uma caneta e um cupom fiscal, escrevi o poema no cupom fiscal, no semáforo fechado. Em algumas insônias, os poemas foram escritos na contracapa de livros. Quando os poemas são mais comportados e textos, escrevo no computar.
Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Agora que optei por expor o que escrevo, decidi, como motivação, desafio e movimento, participar de projetos, coletâneas e concursos de literatura. Pode ser considerado como um novo hábito. Novamente, sem intensão ou preocupação nenhuma, além do movimento.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Conforme coloquei, a escrita é inerente a minha existência. Meus poemas de cinco aninhos eram a percepção de uma criança de cinco anos, assim como meus poemas de adolescente que representavam meus questionamentos e angústias, típicas deste momento. Existem elementos que sempre estiveram presentes nos meus poemas, acaba sendo muito interessante, talvez algo espiritual, desde os meus primeiros poemas, sempre houve preocupação com o meio ambiente e, na adolescência, ainda no segundo grau, utilizava termos técnicos de biologia e física para fazer poemas. Isto cresceu junto…
Minha mãe é formada em letras, ela já comentou que, hoje, meus poemas estão mais leves, mais fáceis de entrar, antes, comentou que eram complicados, relaciona a mim mesma, em um processo de autoconhecimento e / ou abordagem da vida.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho muitos livros que já estão escritos e quero ler, leitura e vivência biodiversa são ignições para a escrita… mas tenho doze livros prontos, dois de poesia (infantil e adulto) e dez fábulas. A meta é editar todos. Estou unindo minhas partes (engenharia florestal e literatura) no meu projeto que está em fase de captação de recurso, já aprovado pela Lei Rouanet.