Jandira Zanchi é poeta, escritora e editora.

Como você organiza sua semana de trabalho? Você prefere ter vários projetos acontecendo ao mesmo tempo?
Não, projetos demais podem confundir ou piorar a qualidade de um projeto mais importante. Agora, o que é importante? Em literatura os projetos que envolvem sensibilidade e criação literária. Então, projetos culturais ou de outra área podem ajudar na agilidade mental e no aguçamento da percepção e da crítica.
Ao dar início a um novo projeto, você planeja tudo antes ou apenas deixa fluir? Qual o mais difícil, escrever a primeira ou a última frase?
Já fiz muitos planejamentos e quando comecei saiu tudo diferente. Tenho formação de área exata, portanto, muita racionalidade não me leva para a poesia, para a criação literária. Agora, acredito que escritores de romances devam fazer muito mais arquitetura de suas obras, para poderem ter estilo, precisão.
Saber quando concluir é mais importante, portanto, mais difícil.
Você segue uma rotina quando está escrevendo um livro? Você precisa de silêncio e um ambiente em particular para escrever?
Sempre escrevi e estudei em qualquer ambiente, claro que certas condições favorecem. Mas, a pulsão interior ou a ausência dela tem a primazia.
Você desenvolveu técnicas para lidar com a procrastinação? O que você faz quando se sente travada?
Nenhuma, a não ser uma preocupação com o excesso de ócio. Se estiver travada deixo que a situação passe, quase todas nossas reações tem base emocional forte, fora as que são consequências de preguiça, indulgencia e desse marasmo que a sociedade utilitarista e superficial em que vivemos cria em nós.
Qual dos seus textos deu mais trabalho para ser escrito? E qual você mais se orgulha de ter feito?
Minha prosa poética é mais difícil de ser feita e levo anos relendo e duvidando e analisando a validade de alguns textos. É mais pretensiosa, já que faço uma prosa de ideias.
Como você escolhe os temas para seus livros? Você mantém uma leitora ideal em mente enquanto escreve?
Honestamente não penso nos leitores. Só consigo escrever se sinto pulsão por uma ideia, um sentimento, uma sensação ou pela necessidade de desenvolver uma visão. Aprendo com o que escrevo, pois primeiro uso o inconsciente, depois, através da racionalidade, vou, à moda ocidental, fazendo a moldagem, a forma.
Em que ponto você se sente à vontade para mostrar seus rascunhos para outras pessoas? Quem são as primeiras pessoas a ler seus manuscritos antes de eles seguirem para publicação?
Poesia é imediato, faço alguma correção quando estou elaborando um livro. Escrevo rápido e tenho a pretensão de que fica bom. Relendo posso mudar de ideia, acrescentar, melhorar o espaçamento, o controle do discurso poético pelo alinhamento, mas, ou é um poema ou não é.
Você lembra do momento em que decidiu se dedicar à escrita? O que você gostaria de ter ouvido quando começou e ninguém te contou?
Comecei tarde, aos 37 anos, de forma espontânea, fazendo os primeiros poemas. Não gostaria de ter ouvido nada, a poesia está inserida em arquétipos culturais, sempre li muita prosa, mas, poesia não. Fiquei surpresa em verificar que usava recursos de espaçamento e versificação usado por muitos autores e autoras.
Que dificuldades você encontrou para desenvolver um estilo próprio? Alguma autora influenciou você mais do que outras?
Meu estilo foi se desenvolvendo ao longo dos anos como uma marca minha. Minha escrita sempre teve um cunho particular, bem meu, acontece que a técnica e alguma precisão só o tempo traz. Para mim foi um processo natural, nenhuma influência objetiva, porém, sem duvida, leituras, observações e experiência fizeram minha escrita melhor.
Que livro você mais tem recomendado para as outras pessoas?
Não recomendo livros específicos, apenas acho que escritores devem conhecer os clássicos, ler filosofia, ter interesses fora de sua área específica. Também considero muito importante acompanhar a produção que está sendo feita agora, em poesia e prosa, tanto para imersão no seu tempo como para aperfeiçoar e situar a própria obra. Não para ter influências ou se adaptar, mas, para sintonizar com o discurso e criação de sua época. Ainda que para destoar dele de uma forma crítica e/ou independente.