Jairo Macedo é jornalista, poeta, revisor e fanzineiro.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Não que eu consiga sempre, mas: acordo bem cedo, faço meu café, ponho um som, me sento e leio por uma hora ou duas. Depois escrevo, se acho que devo e posso, ou sigo com as coisas que a vida exige. Penso que a rotina de escrita de poesia tem esse “privilégio” de ser assim, um pouco mais dilatada, o que não deve lá ser muito o caso da prosa.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Pra mim, é fundamental ser pela manhã, antes que o dia me atropele e eu termine sem ter lido ou escrito nada. Sem ter formulado um pensamento para além da linha da rotina. Sobre ritual, tenho não, mas sem música antes de começar qualquer atividade, não consigo. Ouço um som, abaixo depois e escrevo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho meta. Na real, escrevo pouco, mas anoto muito – a meta diária, quer dizer, é nunca deixar de anotar. Tenho sempre meu caderno com escritos meio aleatórios, um troço quase nonsense se alguém abrir por acaso e ler. Mas dali tiro muito do que preciso quando, de fato, me sento para escrever um poema.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Me movo mal e preguiçosamente. Ultimamente, por obrigação autoimposta de organizar o que tenho em mente. Hoje em dia, me dou ao direito de “vou tirar um tempo para escrever” com muito mais frequência, e menos culpa, do que fazia em outros tempos. Essa disciplina, e alguma generosidade com mim mesmo, me deu menos dificuldade para começar.
Quanto à pesquisa, não acredito que meu trabalho envolva um processo específico de pesquisa, muito menos que haja um momento em que faço a ponte dela para a escrita. Não viro essa chave, não que eu perceba.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Uai, não lido. Lido mal. Mas tendo a pensar minha poesia sempre em projetos, em conjuntos de poemas que se unem por algum motivo. E há sempre mais de um projeto em andamento na minha cabeça. De modo que, se uma coisa não tá saindo, me concentro em outra.
Sou fanzineiro, me publico e publico outras pessoas, e essa atividade de edição também me põe saltando de um texto a outro, sempre no mesmo raciocínio de blocos de produção razoavelmente fechados. Acho que isso me faz avançar e não procrastinar, de algum modo. Além de não me entediar, é claro.
Além disso, tenho criado com pseudônimos eventualmente, o que entra na mesma conta de pular de galho em galho de projetos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muitas vezes e mudo sempre. E mostro antes, sim, mas de forma restrita. Minha namorada, que tende a ser rigorosa e sincera o suficiente para elogiar coisas mal-feitas, costuma ser a primeira leitora. Quanto aos trabalhos que edito, bem como nos que cuido do projeto gráfico, mostro para ela e alguns poucos amigos cuja opinião considero sinceras também.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Faço notas à mão ou, quando não tenho papel e caneta por perto, em áudios no celular. Mas desenvolvo e termino os poemas sempre pelo computador. De resto, minha relação com a tecnologia é igual à de tanta gente: dispersiva, muito, além da conta.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Não sei, sinceramente. Ler e olhar? Deve ser isso. Mas você não precisa escrever poesia pra ter esse mesmo hábito.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Diria pra ser menos preguiçoso e desenvolver algum método de escrita, seja ele qual for. Pode até ser um ruim, não faz mal. Esperar que cousas que acontecem na cabeça saiam como mágica para o papel não deu muito certo, até onde esperei.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Ainda não consegui desenvolver um trampo que envolva escrita e imagem de modo mais intrínseco. Trabalho (toscamente) com desenho, pintura e colagem – isso deve virar algo em breve, com texto. Sobre a segunda pergunta, é outra que não sei responder. Quer dizer, já tem muitos por aí, não?