Jairo Fará é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu acordo tarde, por volta das 10 horas, tomo meu café e vou para o computador responder mensagens e emails. Depois dedico o resto da manhã para leituras. Geralmente leio dois livros simultaneamente. Faço isso de maneira bem relaxada e prazerosa. Também leio artigos jornalísticos. Está rotina prossegue até às 13 horas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Eu trabalho melhor à noite, principalmente após às 23 horas, quando sinto minha mente mais tranquila. As atividades do dia realizadas e o silêncio da noite me deixam bem a vontade. Não tenho nenhum ritual de preparação para escrever. A escrita para mim ocorre associada a vida. Em alguns períodos escrevo muito. Outros, quase não escrevo. Minha produção ocorre em fases. Períodos que me dedico a prosa, outros a poesia, outros a poesia visual e as artes visuais. Estou sempre produzindo algo, mas nem sempre escrevendo. Também tenho uma produção visual, que está intimamente ligada ao meu trabalho poético.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não tenho uma meta de escrita diária. Como também sou professor de universidade federal, sempre tenho muito trabalho atrasado. Mas consigo conciliar o trabalho e a literatura. A poesia surge quase que naturalmente. Às vezes, em dias agitados, surgem bons poemas. Outras vezes, isso ocorre em dias de ócio. Como estou sempre olhando o mundo de forma poética, o poema está sempre em processo de nascimento. Como já disse antes, há períodos de grande produção. Mas nunca consigo produzir tudo que tenho vontade. Tenho muitos contos em minha mente para serem escritos, assim como um romance, textos para teatro e cinema. Minha imaginação e criação são mais rápidos que meus dedos. Essa é uma das minhas angústias como artista.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Sempre ando pesquisando temas de interesse, questões que podem ser utilizadas em meu trabalho. É um processo contínuo, mas que não causa atraso no processo de escrita, principalmente na poesia, que é algo que surge nos momentos de inspiração. Considero o processo de pesquisa muito importante para a criação de um trabalho de qualidade.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu não costumo brigar com as palavras ou ficar angustiado por ter travas de escrita. Minha angústia é o oposto, não conseguir transformar em textos todas as ideias que surgem. E não ter o tempo suficiente para investir em projetos mais aprofundados, como em romances. Mas gosto de escrever sem cobranças, nem expectativas. A escrita para mim é uma experiência. Uma vivência profunda, tão importante quanto o texto finalizado.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Não reviso muito vezes. Mostro para amigos poetas, mas somente aqueles que estão interessados. Acho terrível aquele escritor que fica querendo mostrar seus textos o tempo todo, para todo mundo e nos piores momentos possíveis.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Geralmente escrevo no computador, a menos que sejam versos que surjam espontaneamente. Para não perdê-los faço qualquer tipo de registro: gravação no celular, anotação em qualquer papel.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Eu tenho uma mente que gosta de criar, é como uma brincadeira. O principal hábito que favorece a criatividade e estar lendo e pensando em arte. E estar sempre atento as belezas do dia a dia, ser um “prestador de atenção” acima de tudo. Alguns textos também são fruto de sonhos, como o livro infantil “Cidadezinha Biruta”. Sonhei com a história e as primeiras estrofes inteiras. Daí foi só vencer a preguiça e ir ao computador, em meia-hora o texto estava pronto.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O que mudou é com relação a segurança em escrever. A percepção também de ter encontrado um bom caminho a seguir. A possibilidade de fugir de ideias prontas e repetitivas. Mas gostaria de voltar a adolescência na busca do encantamento que tive com meus primeiros textos.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho muito projetos. Quero escrever uma série de cordéis, quero escrever um romance (cuja estrutura já está pronta), escrever muitos livros infanto-juvenis e bons livros de poesia. E conseguir associar cada vez mais meu trabalho como escritor ao de artista visual.