Ingrid Limeira é especialista em Direitos das Diversidades, autora de “Da escravidão do corpo à escravidão da alma: racismo e intolerância religiosa”.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Neste momento estou de férias, então começo o dia mais tranquilo, sem tanta pressa.
Não tenho nenhuma rotina matinal além dos estudos. Costumo estudar 3 horas por dia (geralmente das 09h00min as 12h00min). Os assuntos são variados e depende muito do que estou fazendo. Agora estou estudando sobre Direitos Humanos, Movimentos Sociais e Políticas Publicas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Meu horário de melhor produção gira em torno das 13h00min e 17h00min (período vespertino). O ritual é simples. Fones de ouvido para a concentração, água, algum alimento leve e conforto… cadeira, computador e internet. Costumo antes escrever rascunhos com papel e caneta, e depois digitar o que escrevi, neste processo de “passar a limpo” também vou realizando as correções.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Depende do que estou escrevendo. Se for um trabalho acadêmico, eu prefiro ler muito sobre o tema antes, fazer rascunhos, escrever tudo de um a única vez e depois de uns dois dias ler e arrumar o que não gostei. Trabalhos mais elaborados demoram um pouco mais. O meu livro demorou um ano, primeiro pela dificuldade de referências bibliográficas e depois pelo sofrimento psíquico que a verdade me trouxe. Tive muitos momentos de bloqueio por causa disso.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
O começo é MUITO difícil. A leitura esta em dia, as referencias em ordem, as ideias na cabeça, mas a primeira frase não sai nunca.
Sou uma pessoa da oralidade é já me acostumei com isso, consigo falar durante horas sobre o que quero escrever, mas não consigo colocar no papel e depois de escrito e publicado eu quase nunca leio, porque tenho certeza que vou odiar..(risos)
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Tenho muita dificuldade em trabalhar estes momentos, confesso que já desistir de escrever e até mesmo fiquei doente (febre) gripe, imunidade baixa. Meu TCC foi uma experiência horrível e muito dolorosa, lembro que no dia da banca eu chorava copiosamente, só por saber que todo aquele sofrimento tinha acabado.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso apenas 2 vezes, criei esta regra depois do sofrimento do TCC, 2x apenas. Os textos simples de blog, ou redes sociais eu não costumo mostrar, mas artigos e textos acadêmicos sim, e mudo alguma coisa dependendo do conselho recebido, mas não faço tantas alterações quanto antes, principalmente para manter minha saúde mental em dia.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Os rascunhos sempre a mão, depois que vou para o Word, as revisões e acréscimos seguem o fluxo do computador. Uso um Word antigo ainda, até mesmo por falta de recursos financeiros para adquirir uma maquina nova, então sempre tento escrever com papal e caneta, isso me ajuda muito.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
A grande maioria dos meus textos são acadêmicos ou sobre a linha de pesquisa do meu trabalho (Direito das Diversidades), então 90% das vezes eu vou falar sobre violação de direitos da população LGBT, Negra, candomblecistas, pessoas com deficiência, indígenas etc. Infelizmente não precisa de muito criatividade já que este assunto é constante em nossa rotina.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Estou mais calma e paciente. Antes eu queria mudar o mundo por meio dos meus textos, mas aprendi que isso é um processo muito longo e que demanda muito tempo.
Um conselho: Calma, não é fácil trabalhar com direitos humanos, mas é totalmente gratificante. No final vai dar tudo certo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O mestrado é um sonho próximo que pretendo realizar ainda este ano de 2019, já estou matriculada como aluna especial do programa desejado. Um livro: Algum livro jurídico que trate as questões raciais com mais respeito e importância.
Temos (Judiciário) uma grande dificuldade em reconhecer o racismo estrutural do sistema e este trabalho de formiguinha depende muito de nós mesmos.