Helimar Macedo é poeta e escritor.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o dia pensando no texto, pensando numa fala ou num gesto do personagem. Faço uma anotação para depois desenvolver. De manhã sou muito preguiçoso.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Depois que o meu filho dorme consigo escrever. Tenho tempo para abrir o caderno para escrever algo novo, ou o notebook para reescrever os que estão por lá.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Minha rotina de escrita não tem regra. Como só escrevo quando posso, fico bem livre para escolher os períodos. Se o meu filho dormir duas noites seguidas às 20h, é certeza que vou produzir alguma coisa. Quando completo duas horas escrevendo, sinto que é a meta para o dia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Geralmente demoro um pouco pra começar. Passo mais tempo lendo, pensando a história, me esquecendo dela… Quando começo já me sinto ambientado e sabendo mais ou menos pra onde estou indo, mesmo que eu me perca, o que é maravilhoso. Enquanto escrevo vou pesquisando, se eu estudar muito antes de escrever, sinto que estarei me preparando pro vestibular.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
A procrastinação é o grande mal nos tempos de redes sociais e notificações. Mas é focar. Encarar e ir colocando no papel. Os teóricos da escrita contemporânea pedem que pensemos somente no texto na hora da escrita. Ao mesmo tempo imagino se a ansiedade não faz parte do escritor/poeta, ele quer imaginar alguém soltando um palavrão ou indicando para um amigo(a) ou seu livro/conto/crônica/poema. Acredito que faça parte do processo doloroso que é escrever. Tem que ter o momento ego-viagem como respiro.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso várias vezes. Até bater aquele sentimento que tá uma merda, e dias depois voltar a adorá-lo. Ou descartar de vez. A revisão/reescrita é muito importante pra gente ter a noção de que não está fazendo besteira, ou se aquele sentimento do texto já morreu em nós. Ser verdadeiro com o texto na escrita é ser verdadeiro com leitor. Leitor é bicho bom de faro e sabe quando você está mentindo. Frustar leitor é caminho sem volta. É preciso retrabalhar/revisar/descartar e começar de novo, se possível.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Primeiro eu escrevo no caderno. Seja conto ou poema. Também faço a prmieira reescrita no caderno. E só depois é que transfiro pro computador. Daí faço outras reescritas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Trago minhas ideias da infância. Estão lá as coisas mais verdadeiras: histórias que ouvi, pessoas que vi, experiências… Junto isso com as leituras que faço. Ler é fundamental para escrever. Ler com os olhos ampliados, ler estudando que a gente admira. Música, cinema e artes plásticas também são os meus rios. Misturo tudo e sai na escrita. Não há uma ordem.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu era muito afobado. Escrevia de primeira e já queria publicar. Muita coisa boba foi ao mundo e hoje tenho vergonha, por exemplo os primeiros poemas. Ou estava me declarando ou querendo me vingar do trabalho.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho várias ideias para romances. Sonho em um dia ver um livro meu sendo filmado. E acho que o romance é a porta de entrada para isso. No momento estou escrevendo um livro de contos que deve sair até o fim do ano que vem, quando estarei com trinta anos. O livro que eu quero ler e ainda não existe, eu estou escrevendo. É sobre a minha região, lá no interior de Pernambuco. Os contos trazem como as pessoas falam, como trabalham, vivem, se relacionam. Eles precisam serem vistos. Em breve todo mundo vai conhecer.