Gustavo Silveira Siqueira é professor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Infelizmente ou felizmente, não tenho uma rotina matinal. Alguns dias acordo e vou praticar esportes, outros acordo e vou estudar ou trabalhar.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Geralmente trabalho melhor durante o dia. Para a escrita tenho um ritual. Gosto de escrever nas primeiras horas do meu dia. Quando vou escrever, me programo e esqueço do relógio. Acordo, escrevo, como, escrevo… Quem dita o ritmo, a fome, o trabalho é a cabeça e não o relógio. É um processo que funciona muito bem para mim.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Procuro escrever em períodos concentrados. Usualmente separo um dia por semana para escrever. Não tenho metas, estou sempre tentando cumprir os prazos de revistas, editoras, etc. Quando tenho um prazo a cumprir, separo um dia para cumpri-lo.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Tenho um ritual para escrever e gosto de ficar horas concentrado no texto. Quando inicio o processo de escrita já colhi matérias e li sobre o tema. Como trabalho com temas de história, o processo de escrita só acontece depois da leitura de muitos documentos. A escrita, quando se inicia, já é a ponta de um processo de pesquisa que começou bem antes.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Uma parte do trabalho é transpiração, outra inspiração. Quando a inspiração falha, uso a transpiração, o material já pesquisado para iniciar o texto e “estimular” o cérebro. Gosto muito de escrever e a procrastinação só acontece quando não tenho tempo para cumprir as metas que estipulei. Projetos longos e a dúvida quanto ao sucesso, para mim, servem como estimulantes de pesquisas bem feitas e com bons resultados. Prefiro projetos inovadores e longos do que projetos simplistas e rápidos.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Após escrever um texto eu deixo ele na “geladeira” por alguns dias – os dias dependem dos prazos e do tamanho do texto: uma semana, um mês… Após a “geladeira” eu reviso duas ou três vezes o texto. Depois, mostro o trabalho para amigos ou pesquisadores que trabalham comigo. Geralmente peço para duas ou três pessoas lerem antes de publicar. No meu Grupo de Pesquisa temos o costume de debater os textos antes da publicação. Logo, após a sugestão dos amigos, levo o texto para o debate e depois envio para a publicação.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Faço quase tudo no computador. No máximo tenho algumas poucas anotações feitas na agenda ou em um bloco de notas.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Acredito que toda pesquisa deve tentar inovar. Procuro temas não trabalhados, desconhecidos ou pouco pesquisados no país. A História do Direito é uma área de pesquisa “recente” no Brasil e há muito “espaço” e temas para pesquisar. Usualmente tenho mais temas e ideias para pesquisar que tempo.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
Sem dúvida, as pessoas amadurecem muito a escrita com a tese de doutorado. Quando ela terminou, eu já queria voltar e fazer alterações, mas nem sempre isso é possível. Hoje acho que sou um pesquisador com mais facilidade para escrever e um pouco mais objetivo.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho dois projetos: Estou escrevendo um romance. Quero tirar férias e, um dia, conseguir terminar. Também quero escrever um Manual de História do Direito, mas acho que essa será uma tarefa de alguns anos também. Eu gostaria de ler um livro sobre o ensino jurídico e o papel dos juristas nas ditaduras brasileiras, talvez esse seja um grande projeto também.