Gonzaga Neto é poeta potiguar.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começar o dia é a parte mais difícil do dia pra mim. Mas, ultimamente, tenho tentado levantar cedo e fazer exercícios. Tenho falhado miseravelmente? Tenho. Mas quando consigo, isso me ajuda durante o resto do tempo, fico bem mais disposto pra fazer minhas coisas.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Gosto de pensar muito sobre o texto antes de escrevê-lo, as vezes passo semanas pensando na ideia, até sentar e escrevê-la. Não existe nenhum outro ritual além da concentração, do trabalho e do retrabalho. Tem gente que adora ouvir música ou coisa do tipo, isso já me atrapalha. Eu prefiro lugares silenciosos. Por isso, a madrugada sempre é uma boa hora pra escrever, mesmo que nem sempre eu escreva de madrugada – o sono e o acordar cedo pra trabalhar no outro dia me impedem.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
A meta é sempre não colocar metas e quando batermos a meta, a dobraremos. Como disse anteriormente, gosto muito de trabalhar o texto na cabeça antes de sentar e escrever. Por isso, as vezes leva alguns dias. Mas creio que depende muito da época. Já tiveram algumas de fazê-lo todos os dias, outras, disso acontecer mais espaçado. Eu divido meu tempo de escrita também com outros tipos de arte, fotografia e desenho são coisas que também gosto muito de fazer.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu gosto de jogar todos os meus pensamentos sobre aquele texto em tópicos e vou trabalhando em cima dele. Montando as palavras como se fosse em um quebra-cabeça. Diferente do que as pessoas pensam, é muito mais trabalho que inspiração. Contudo, não acho difícil começar um texto – creio que o mais difícil, e desafiador, é saber a hora de pará-lo.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
O bom de não ser muito conhecido é que ninguém espera muito de você, né? No começo, eu me estressava muito e me cobrava demais pra escrever todos os dias, o que diminuiu muito minha qualidade na escrita. Com o tempo, percebi que isso não ajuda e fico de boas. Eu tô pensando literatura a todo momento, uma coisa que vejo na rua, uma fala de alguém, um meme. Vou arquivando tudo na cabeça, uma hora sento, topifico e escrevo. Quando sinto que o texto não acabou e ainda precisa de mais material, vou ler. As vezes abro o jornal e procuro palavras engraçadas ou bonitas e jogo no meu texto. Outras vezes vou ler poemas e procuro antecipar o que o autor vai falar no verso seguinte – sempre quando erro, tento ver o que dá pra aproveitar dali. É mais uma brincadeira do que qualquer outra coisa, mas as vezes funciona.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Eu sou publicitário e trabalho com revisão ortográfica todos os dias. Uma coisa que, por sinal, odeio fazer – a revisão, no caso. Mas acabou virando um hábito fazê-la quantas vezes eu achar necessário. A primeira pessoa a ler ou ouvir o que escrevo sempre é Gessyka Santos. Se ela disse que não gostou de algo é por que a coisa tá realmente ruim. A gente sempre conversa sobre nossos textos e damos liberdade pro outro falar o que realmente achou. Depois, gosto sempre de mandar pra outro amigo escritor, Guilherme Henrique. Antes eu tinha uma pira gigante de postar tudo com urgência, hoje eu prefiro meu texto esfriar um pouco. Se depois, eu ainda gostar dele. Acho que dá pra publicar – mas nem sempre consigo esperar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Adoro tecnologia. Adoro tudo que é novo. E tudo que vem pra facilitar a vida. Eu parei de escrever a mão faz tempo. E pelo celular também. Adoro usar o bloco de notas do computador, lá é de onde saem meus textos. Caneta e celular só pra anotar alguma coisa quando o computador não estiver perto.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
De todo canto. Por exemplo, tava aqui escrevendo essa resposta e vi que derramei um pouco de café em pó em cima do micro-ondas. Achei a cena bonita e vou guardar. Sei o que vai sair daí? Não. Nenhum pouco. Contudo, um dia isso servirá para enxertar algum verso. Ou não, vai que Gessyka diz que é ruim.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudou muita coisa, mas – principalmente – o rigor comigo. Não posto qualquer coisa que escrevo. Sou muito criterioso e tenho que gostar muito de algo para publicar. Sobre voltar no tempo, eu não diria nada, deixaria eu aprender da forma que aprendi. Mexer com o tempo nunca é legal – Martin McFly que o diga.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero fazer um áudio book, mas não sei quando vai rolar. Preciso percorrer um longo caminho até me sentir preparado para trazer a oralidade como marca da minha literatura. O livro que gostaria de ler e ainda não existe, talvez algo como – 2021: do Impintchman à Revolução.