Gian Danton é escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Eu gosto de escrever de manhã. Também é um horário em que a casa está mais tranquila. Tomo café, dou uma olhada nas redes sociais e começo a escrever. Mas depende muito da obra. Meu livro O uivo da górgona começou a ser escrito no celular. A qualquer momento que eu tinha uma folga, eu começava a escrever. Algum tempo depois passei aqueles textos para o computador, revisei e comecei a escrever de maneira mais sistemática.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
De manhã é melhor. Mas quando tenho tempo e estou com a ideia na cabeça, escrevo em qualquer horário.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Depende muito. Eu geralmente escrevo por demanda, especialmente no caso dos roteiros. Alguém me pede um roteiro, eu sento e escrevo. Às vezes sai muito rápido. Uma das minhas histórias, Pig Fiction, praticamente se escreveu sozinha. Outras vezes, é um processo demorado, lento. Já houve roteiro que eu comecei e só retomei meses depois. Meu dois livros, Galeão e Uivo da Górgona tiveram processos bem diferentes. Galeão era uma história mais complexa, então eu tinha que fazer um organograma da trama, dos personagens secundários, das tramas principais e paralelas. E, por isso não dava para escrever sempre, todo dia. O Uivo da Górgona eu comecei a escrever de vez quando passei a publicar em um grupo do Facebook. Era um capítulo por dia, o que me obrigava a escrever todos os dias.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Eu geralmente só escrevo quando já sei o que vou escrever. Normalmente já tenho até mesmo um esboço do texto na cabeça. Comigo não funciona isso de sentar na frente do computador e esperar vir a inspiração.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Geralmente eu produzo mais de uma coisa ao mesmo tempo (literatura, artigo, resenhas, roteiros de quadrinhos). Quando chego num ponto de trava em um, pulo para o outro. Tem funcionado. Algo que gosto também é de deixar o texto dormir. Escrevo e só volto a revisar algo tempo depois. Se não há pressa, deixo até uma semana. Isso me ajuda a perceber problemas no texto, por exemplo, ou novas possibilidades de abordagem.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Como geralmente só escrevo depois de ter o texto bem estruturado na cabeça, é raro fazer muitas modificações depois. Mesmo assim, deixo o texto descansar e quando releio, verifico se tudo está funcionando. No caso dos romances sim, repasso para alguém dar uma lida e fazer uma análise. No caso dos roteiros, geralmente quem faz isso é o editor.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Antigamente eu escrevia tudo à mão e só depois começava a escrever no computador. Hoje em dia, quando muito faço algumas anotações, como lembretes, e depois já vou direto para a digitação.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Sonhos ajudam muito. Boa parte das minhas ideias surgiram de sonhos. Quando estou muito envolvido com uma história, como no caso dos romances, é comum sonhar com algo que acaba entrando na história. Ter momentos de ócio também ajudam. Costumo ter muitas ideias em viagens. Mas a ideia não surge do nada: o inconsciente só trabalha se tem material. Então, pesquisa é essencial.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Olha, uma boa escrita está relacionada a três fatores: ler, escrever e viver. O que mudou, essencialmente, é que agora eu já escrevi mais, já li mais e já vivi mais. Tudo isso faz o texto se tornar melhor. Se eu pudesse voltar no tempo, eu diria: leia ainda mais e escreva ainda mais.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho matutado muito sobre um livro a respeito da situação política que estamos vivendo. Estamos à beira de uma distopia. Mas a situação atual é tão complicada, com tantas reviravoltas, que o enredo muda o tempo todo… rs. Sobre o livro que eu gostaria de ler… creio que uma história de terror, no estilo Lovecraft, escrita por Umberto Eco seria uma obra interessante.