Franck Santos é escritor, autor de ‘Quando o azul não desbotava’, ‘Poemas para dias de chuva’, ‘Do lado de cá do Atlântico’ e ‘Os mapas sinalizam ilhas submersas’.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo às 6h e tenho um ritual: ligar o rádio, dar comida para a minha gata Tulipa, fazer a barba, tomar banho, às vezes tomar um café com leite, iogurte, chá ou suco, depende do que tem na geladeira.
Como tenho duas atividades, após esse ritual, vou para a minha primeira atividade que é um Banco. À tarde geralmente vou aos correios, supermercado, pilates, durmo, escrevo, leio, durmo… À noite, durante três dias, dou aulas numa Escola de Ensino Médio da rede estadual.
Aos fins de semana, começo os dias levantando mais tarde ou no mesmo horário durante a semana e geralmente vou andar na orla marítima, tomar café na padaria, escrevo, leio ou faço atividades pendentes da Escola.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sou totalmente diurno. Mas já acordei, por exemplo, nas madrugadas, para escrever, o poema pronto, pedindo para ser transcrito, registrado.
Geralmente escrevo a tarde após minha primeira atividade, mas isso não é regra. Não tenho rituais para escrever, um ambiente ou lugar específico. Já escrevi em shopping, em ônibus, na praia, em locais de trabalhos. Durante o dia vou anotando frases, palavras e conversas ouvidas (tenho um caderno para essas anotações).
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Como disse anteriormente, tenho um caderno de anotações, mas às vezes essas anotações ficam adormecidas nesse caderno, perdidas em guardanapos, em pedaços de papel e um dia as encontro e início um poema, um conto ou nada acontece com elas.
Não tenho meta de escrita, projeto ou algo do gênero. Escrevo por prazer. Não tenho compromissos ou prazos, meus escritos vão acontecendo e quando tenho uma quantidade suficiente vêm às ideias dos livros, dos títulos, quais poemas ou contos entrariam, sairia.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não tenho nenhum processo, nenhum roteiro, gosto do improviso. Não acordo e me atribuo que sairá um poema, um conto ou qualquer outro escrito naquele dia. Escrever não é um ato que eu sofra, senão não seria escritor.
Minha pesquisa é a mais cotidiana possível, prosaica. Minha pesquisa é a mais sentimental possível. São as buscas, os desencontros, os encontros, as conversas, os rumores, as músicas, os filmes, os livros…
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Não lido com travas, procrastinação, medo de não corresponder às expectativas e ansiedade, pois como disse, escrevo por prazer, sem compromissos, pois não vivo de/e para a literatura.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso muito pouco. Às vezes sinto que de primeira já estão prontos, às vezes desisto, às vezes troco palavras ou frases. Claro que os textos futuramente irão para um revisor.
Quanto a mostrar para outras pessoas, para umas duas ou três, alguns amigos escritores que opinamos, trocamos poemas, livros. Mas geralmente mostro meus textos quando já decidi publicá-los, tenho um livro pronto.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Sou um homem de hábitos antigos! Dificilmente escrevo em computador, aliás, só escrevo no computador após o texto pronto. Como disse antes: tenho cadernos, anotações nas agendas, papéis, os rascunhos que vão tornando forma.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Não sei se sou criativo e se mantenho algum hábito para que minhas ideias aconteçam. Mas como não tenho compromisso com prazos, com editora, mídias de alguma forma; deixo ao acaso e esse acaso pode me dar um texto vendo um filme, na rua, na praia, lendo um livro, no jornal da TV, enfim, sendo repetitivo, o cotidiano e os sentimentos me inspiram.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Mudou tudo! Nada como envelhecer, ler mais, ver mais, escrever mais! Mudou minha autocritica, por isso meus primeiros textos se os publicasse agora viriam cortados, remendados, colados! Mudou minha forma de escrever sem tentar ser um escritor hermético, de uma voz ‘quebrada’.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Comecei (com uma amiga escritora) um projeto de publicarmos nossos próprios livros e de amigos (no segundo semestre teremos nossos primeiros livros por esse selo) que se interessam por livros com uma pegada mais alternativa, nos quais serão costurados à mão, com colagens, intervenções outras. Estou bem animado com esse projeto, sair um pouco das editoras tradicionais.
Qual livro gostaria de lê-lo e ainda não existe? Talvez breve ele seja possível, com a ‘Olho D’água Edições’, nosso selo.