Francesca Cricelli é poeta, tradutora e doutoranda em Estudos da Tradução (USP).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo cedo, faço um bom café e pratico yoga.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Meu trabalho é variado, há muitas escritas para mim. Há a escrita da minha tese de doutorado, sobre as cartas de amor de Giuseppe Ungaretti para Bruna Bianco, acervo que puder transcrever e estudar em primeira mão, há meu trabalho como tradutora literária, as aulas que dou e enfim… minha poesia! Essa sim acontece nos intervalos e descansos, acontece quando estou em trânsito, viajando, fora da minha rotina paulistana. Com sorte, viajo muito.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo todos os dias o que devo escrever. Minhas metas estão atreladas somente aos meus prazos acadêmicos e às editoras para as quais trabalho como tradutora, revistas, etc. Devo, porém, entregar um livro novo em breve, espero poder terminá-lo o quanto antes, um livro com prosas de viagens, poemas traduzidos, alguns poemas inéditos.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Sempre é difícil, mas também muito prazeroso. A escrita acadêmica não é tão difícil para mim, talvez seu estilo sim, mas tenho imensa paixão pela minha pesquisa. A poesia tem seu ritmo e seus mistérios, há sim muita revisão dos poemas que escrevo, isso acontece de forma mais sistemática quando estou compondo um livro. Já a prosa, território novo para mim, é dificultosa. Entre a pesquisa e a escrita há algo que ainda não entendo como opera. Há, sempre, releituras e revisões.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Como posso. Aceitando meus limites. Me apertando e não dormindo quando necessário cumprir uma entrega.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Muitas. Sim, tenho alguns amigos escritores que me acompanham, gosto de ouvi-los quando estou terminando um livro. Mas também gosto de ler meus poemas ou prosas para as pessoas mais próximas, mesmo que não seja para pedir uma indicação com a escrita, mas uma escuta.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Quase sempre em cadernos, mas não sou muito organizada antes de digitar.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
O mistério de onde vêm as ideias assim como os desejos. A escrita para mim é fruto da mediação do mundo interno e externo, observação e introspecção. É também a urgência de algo que deve ser escrito, ou dito, ou descoberto através da escrita.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Ainda não sei! Estou no processo de escrita da minha tese. Minha poesia está mudando, como eu também estou. Surgiu a necessidade de escrever prosa, uma novela. Essa é a maior mudança, para mim.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Quero ter tempo para me dedicar ao meu primeiro livro de prosa ficcional, quero me dedicar a esse projeto. Não sei bem responder à segunda parte da pergunta, há tantas coisas que descubro e aprendo em minhas leituras, não saberia dizer.