Flora Figueiredo é poeta, cronista, tradutora e compositora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
A manhã costuma ser meu momento mais produtivo. Ela traz as ideias armazenadas à noite, quando as decisões do dia a dia desaceleram e a poesia pode aflorar.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
No que diz respeito à escrita, é na parte da manhã, antes de me deixar contaminar por barulhos, poluição, obrigações.
Não costumo fazer grande preparo para o ato de escrever. Ainda conservo o hábito de redigir primeiro no papel e depois passar para o computador.
Uma de minhas manias é grudar no espelho o poema recém escrito. Passar por ele me faz rever e rever e rever, até achar a fórmula ideal.
Muitas vezes, o poema vem prontinho e me satisfaz de imediato. Quando isso não acontece, o espelho me ajuda. É um modo de tropeçar nas palavras, até encontrar a que me parece acertada.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sou muito indisciplinada. Programo um momento para escrever diariamente, mas nunca me obedeço.
O que faço diariamente é ler, nem que seja por tempo curto. Leitura é fundamental. Além de ser prazerosa, ela ensina e estimula.
Tem dias em que chego ao final do dia muito cansada, mas algumas páginas sempre me ajudam no encerramento.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Começar é sempre um desafio. Depois que vem a primeira frase, a ideia se desenvolve. Minha escrita é muito intuitiva, sobretudo quando se trata de poesia.
O que sempre chega por último é o título. Não há uma programação determinante.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Escrevo há mais de três décadas e o treino me ensinou que não há uma linearidade na produção. Quando o texto não vem, deixo passar o instante e volto a ele depois.
Já sei que na hora certa, ele acontece. Não cultivo ansiedades. Elas só atrapalham. A linguagem tem que fluir.Com ansiedade, ela fica comprometida.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Releio algumas vezes e é comum alterar alguma palavra, mas são ajustes mínimos.
Temos que considerar que os textos já passaram pelo teste do espelho…
Sou a primeira a me ler e faço isso em voz alta. Gosto de sentir a musicalidade do poema ou da crônica.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Como eu disse anteriormente, começo no papel. Tenho sempre um bloco na bolsa, no porta-luvas do carro, na mesa de trabalho.
Minha geração apanha um pouco com a tecnologia, mas aprendi o suficiente para participar e criar.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Observo tudo, o tempo todo. Adoro janelas. Elas são uma abertura para o mundo. Mas o autor utiliza a memória, a vivência e a intuição.
O importante é estar alerta para captar o instante. A poesia, sobretudo, está sempre disponível e espera ser notada.
Acontece de surgirem ideias no meio do trânsito. Paro, assim que der, e anoto. Mais tarde, em casa, o assunto se desenrola.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Cada tempo tem suas características e seus motivos. Por isso, eu não renegaria nenhum de meus trabalhos.
Apenas acho que minha redação amadureceu, no ritmo da própria vida.
Hoje, vejo, com satisfação, poemas de meu primeiro livro ( 1987) serem publicados e declamados em saraus e redes sociais.
É sinal de que continuam pulsantes.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Tenho projetos de novo livro de poesias e de um novo livro infantil. O primeiro já está adiantado, mas sem prazo para lançar. Provavelmente, será no ano que vem, a depender da editora.
Novas leituras? Ainda não dei conta dos muitos títulos que me aguardam. Dos clássicos aos atuais.
Tem um volume de Florbela Espanca na minha cabeceira, para o boa noite de hoje.