Flávio Gimenez é médico e escritor.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Sou médico. Normalmente acordo cedo e vou ao trabalho, no caso, Hospital nas terças e quartas-feiras e Posto de saúde nas segundas e sextas. Uma variada gama de queixas, desde as urgentes às mais simples…
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Muitas crônicas eu escrevi sob a forte influência de situações vividas na tensão do contato com o imponderável. O sofrimento me faz sofrer e a escrita me aliviou de muitas pressões. Sinto que, de tarde, fluem mais inspirações. O ritual que tenho é martelar uma inspiração e transformá-la em texto. Eventualmente o texto vem pronto!
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Escrevo menos do que gostaria. Tenho de achar brechas no tempo de meu trabalho. Em 2010 publiquei um livro no site Blocosonline sob a orientação de Leila Miccolis, que me ajudou muito no processo de criação de O Relógio das águas. Meu processo foi de concentração intensa.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Normalmente o texto vem, de forma fluida e eu aparo as arestas. No entanto, tenho me tornado mais exigente comigo mesmo ao escrever, daí eu tenho me proposto a fazer o texto com mais embasamento. Tomar notas faz parte desse processo de lapidação.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Eu li Em Busca do Tempo Perdido em que o herói Marcel sempre se cobra por não trabalhar como deveria. Eu não me cobro demais em relação à produção – ela vem de uma forma ou de outra – talvez porque justamente não fiz um projeto de longo prazo. Acho que sentiria enorme prazer em ser desafiado a escrever um livro, com prazo.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Quando o texto está pronto, eu o leio várias vezes tentando imaginar o que agrada mais ou menos. Mostro meu trabalho no Facebook e publico meus textos no Usina de letras e num site pessoal. Também tenho textos publicados no site Blocos Online. Normalmente, também, minha esposa os lê e critica com propriedade.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Eu prefiro escrever, hoje em dia, no computador, pela facilidade de editar os textos de maneira mais fácil. Os rascunhos são feitos no computador para mais tarde eu formatar.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Eu sou um leitor compulsivo e admirador de vários escritores. Tenho muito gosto por escritores como Thomas Mann, Dostoievsky, Tolstoi. Cultivo o hábito de ler sempre para manter a mente arejada por viagens nos escritos deles. Ler notícias e me manter atualizado em relação à medicina também me traz inspiração e o contato com os alunos, ávidos por informação, mantém minha mente alerta. Situações do cotidiano me levam aos textos mais elaborados.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu me tornei mais exigente comigo mesmo ao ler autores que eu admiro. A convivência com estes textos me fez refletir muito acerca do mundo que nos cerca e isso me faz cada vez mais refinar os textos. Eu diria que meus primeiros textos eram mais prolixos e eu aprendi com o passar dos anos a cortar excessos…
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria muito de participar de um projeto criativo mais amplo, que me desafiasse mais a escrever sobre o país em que vivo, enorme e multicultural. Gostaria de ler mais livros de ficção científica – eu acho que essa é uma variedade menos rica no Brasil. Talvez um livro que nos desse uma identidade como nação, num país que ainda peca por decifrar seus próprios vícios e enigmas… Mas esta é uma outra história.