Fidélia Cassandra é poeta, compositora e cantora.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Nos últimos três anos e com a piora da saúde de minha mãe, o que a tornou acamada. Quase não tenho tempo para mim. A minha rotina de leitura e escrita praticamente não existo, mas não deixei de ler totalmente. Aqui e acolá, leio um poema, uma página de um livro maravilhoso sobre uma de minhas poetas preferidas, a Emily Dickinson, que comprei o ano passado e só depois de junho deste ano comecei a ler uma página por mês. O título do livro é Emily Dickinson’s Gardening Life.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Quando eu estava escrevendo gostava de escrever à noite. Às vezes, estava quase dormindo e vinha uma ideia e eu tinha que me levantar para escrever. Se deixasse para o outro dia, a ideia havia evaporado. Nunca tive um ritual de preparação para escrever. Algumas vezes, estava dirigindo e tinha que parar para anotar ou, até mesmo, escrever um poema. Quando viajava ficava propensa a escrever mais, principalmente se fosse de carro.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Havia períodos que escrevia muito e não tinha hora. Nunca tive metas ou tenho. Nunca estipulei metas, até porque sou uma pessoa que não trabalho muito bem com regras. Creio que se estipulasse regras ou que eu fosse obrigada a escrever, não escreveria.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Sou uma pessoa muito observadora e muitos de meus poemas nasceram da observação de cenas, pessoas, lugares, plantas etc.
Faz anos que tento escrever uma história. Comecei, mas não consigo terminar. Algumas pessoas que leram, acham que é uma peça teatral, mas não sei. Comecei em 2013 e estava muito empolgada. Foi numa época em que trabalhei na extensão da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), campus VIII em Araruna (PB) e tinha algum tempo livre à noite. Depois que voltei para Campina Grande, não consigo continuar. Acho que minha prosa soa falsa. Talvez, seja por isso que tenha receio em continuar escrevendo.
A prosa que me aventurei a começar é um projeto longo e cheio de ansiedade e medos. Necessita de pesquisa e de leitura coisas que, no momento, não posso ter. Temo não terminar nunca e ao mesmo tempo, tenho a história escrita na minha cabeça, mas não consigo materializá-la no papel.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Estou experimentando um dos mais longos períodos de estiagem que já vivi. Escrevo muito pouco e como não gosto do que escrevo, fico sempre deixando para depois as ideias que dificilmente me chegam. É como se eu estivesse oca e é um sentimento muito doloroso. Já tive outros períodos, menos longos, de ficar sem escrever ou sem escrever algo que eu achasse que valeria a pena trabalhar. E me pergunto repetidamente se voltarei a escrever.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Às vezes, reviso os textos duas ou três vezes. Outros textos só reviso anos depois. Outros não reviso, não por achar que estão prontos. Acho a poesia um texto aberto e que muitas vezes se dá a várias revisões. Os que não reviso são os que se constituem em verdadeiras armadilhas e não me deixam revisá-los.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Não tenho problemas em lidar com o computador para escrever, no entanto, maioria ainda escrevo à mão. Raramente começo a escrever no computador. Mas, é quando passo para o computador que as ideias se ampliam.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativa?
Como falei anteriormente, sou muito observadora. Desde menina que ficava observando, muito quieta, o que se passava ao meu redor e ainda sou assim. Dali, saio para um lugar da mente que não sei onde é. Sinto uma ausência de mim. Como se tivesse entrado em um lugar inexistente. É um sentimento muito bom. Acho que os romancistas devem ter essa experiência com seus personagens.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Acho que com o passar dos anos e com a maturidade, os poemas foram melhorando e se modificando. Não gostaria de voltar a forma primal com que escrevia no início, até porque eu tinha apenas doze anos. Há muitas coisas que escrevi naquela época que são impublicáveis.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Estou atravessando um momento muito difícil com a doença da minha mãe. O trabalho também me impede de ler, estudar e pesquisar para a criação. Leio pelas necessidades surgidas no trabalho. Há muitos livros que gostaria, ao menos, terminar de ler como o de Marta McDowell sobre Emily Dickinson e não tenho tempo disponíveis. Compro livros e eles vão se empilhando na estante, na cabeceira da cama, espalhados pela casa. Dois deles são A Montanha Mágica de Thomas Mann e A Desobediência Civil de Henry David Thoreau.