Fernando Castilho é arquiteto e professor, autor de “Depois que Descemos das Árvores”.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Minha rotina matinal talvez não seja incomum em relação à outras pessoas. Acordo, tomo o café da manhã e leio as notícias do dia. Após isso, dedico-me às atividades profissionais.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Não tenho uma hora do dia em que me sento para escrever. Na realidade às vezes fico períodos relativamente longos sem escrever para que me questione sobre os rumos que o livro está tomando. Nesse meio tempo costumo ler e pesquisar muito sobre temas correlatos à obra. Quando retomo o rumo, a escrita flui mais rápida e intensamente.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Não escrevo todos os dias quando não me sinto preparado para isso. Em ocasiões em que tentei me disciplinar para a escrita diária em determinada hora do dia, percebi mais tarde que havia perdido muito tempo, pois tive que revisar todo o conteúdo e descartar a maioria dos textos por falta de qualidade ou coerência.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Pesquiso sobre determinado tema em várias fontes, muitas vezes conflitantes e exponho esses conflitos. Muitas vezes após já pronto determinado capítulo, surge outra fonte que não tinha visto antes, o que me obriga a uma revisão do texto escrito. Às vezes isso acontece mesmo após ter terminado o livro.
Não costumo enviar para a editora o livro recém concluído. Prefiro aguardar para descobrir se há mais alguma coisa a ser mudada ou acrescentada.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Às vezes as travas na escrita são longas, levam alguns meses, mas acho que servem bem para que haja um amadurecimento do texto. Quando da retomada geralmente tenho que revisar todo o texto, saltando aos olhos as incoerências que devem ser eliminadas e outros dados que precisam ser incluídos. Intuitivamente acho que a procrastinação e mesmo o ócio acabam tendo sua utilidade.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Como escrevo utilizando bases científicas preciso estar seguro daquilo que coloco no papel. Por isso, as revisões são inúmeras. Costumo enviar para quem tenha a devida formação acadêmica para garantir qualidade no trabalho.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo no computador, por causa da grande praticidade em alterar textos, suprimir palavras ou frases ou mesmo corrigir erros.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Minhas ideias vêm da observação e do questionamento do que acontece à minha volta. Utilizo muito o método científico elaborando hipóteses, comparando meus questionamentos por outros já feitos por grandes pensadores ou cientistas. Dessa forma as hipóteses podem ser melhor testadas e se aproximarem de teses.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
No início, quando comecei a escrever, achava que o livro seria concluído em poucos meses, mas na realidade, devido à muitas idas e vindas, pesquisas e intervalos, constatei que, pelo menos para mim, o livro precisa levar alguns anos para ser escrito, o que garante seu amadurecimento.
Acho que se pudesse voltar à escrita de meus primeiros textos não haveria muita coisa para ser mudada.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de escrever um livro de cunho antropológico e filosófico ambientado num romance, isto é, contar uma história que tivesse embutidos nela esses conceitos.
Já pensei em vários temas de livros que talvez fossem originais, mas acredito que o ser humano, por ser tão diverso, já tenha abordado esses temas. Talvez não haja nada sobre o que o homem ainda não tenha escrito.