Fernando Bonassi é escritor e roteirista.

Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Acordo, como pouco, ando por uma hora, tomo café preto, fumo meio cigarro e me sento.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A energia da manhã é a melhor. Quanto ao ritual, releio um trecho que gosto, coloco uma música, mas depois tiro. Busco uma espécie de aquecimento, o foco na história que eu estou escrevendo.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Um pouco todos os dias, acredito nesta disciplina. A meta é a qualidade, pode ser um capítulo, uma página ou uma frase. Se eu cheguei no nível desejado, trabalho um pouco e paro. Sigo a sugestão do Hemingway, que deixava um pouco do élan para o dia seguinte.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
É sempre difícil começar. Um escritor, ao contrário de um engenheiro, não tem planta, ou experiência prévia. Cada dia é uma descoberta. E pode ser um fracasso. Para mim, a pesquisa deve dar consistência à poética.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Planejando, escrevendo e reescrevendo até ficar razoável. O romance, por exemplo, é um trabalho de longa duração e você precisa amar a sua história. Já comecei três romances e parei, porque não conseguia ver o fim da história – o que para mim é fundamental.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Nunca escrevi um romance que não fosse reescrito integralmente pelo menos três vezes. Mostro sim, para escritores amigos e leitores de minha confiança. Ouço e pondero. Nem sempre as sugestões são boas.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Escrevo as principais ideias e o plano geral num papel, depois, cada parte, é direto no computador. Mas tenho 58 anos e já escrevi em máquina de escrever. E reescrevi sempre.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Eu gosto de escrever. Tira um peso do meu peito. As minhas ideias vêm do ódio e da imperfeição do que fazemos com a experiência da vida. Deixo-me encher de ódio e escrevo – é quando obtenho meus melhores resultados.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
O escritor fica melhor a medida que o tempo passa. Nos primeiros textos eu diria para mim mesmo: releia e rescreva mais duas ou três vezes. Joguei grandes ideias no lixo por falta de reflexão, ou porque escrevi depressa demais.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Projeto: fazer ficção da experiência militar brasileira no Haiti. O livro que eu quero ler e não existe é o meu próximo livro.