Edmilson Borret é professor de Língua Portuguesa, autor de “Entre cão e lobo” (Penalux, 2018).
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo meu dia numa rotina que mantenho desde que me mudei para o apartamento onde moro atualmente: acordo, levo meu cachorro na rua, volto, tomo o meu café, tomo um banho e ligo o computador.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
A melhor hora para escrever é quando brota uma ideia. E ela pode brotar nos momentos mais inesperados (às vezes inapropriados) possíveis: num mercado fazendo compra, na sala de espera de um médico, andando pela rua. Sempre bom ter um caderninho ou um bloquinho para quando a ideia te aborda de supetão. Mas, de uma maneira mais organizada, sinto que escrevo melhor de madrugada. Não tenho ritual de preparação para a escrita. Admiro quem o tenha.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sem meta. Nem diária, nem semanal, nem mensal. Escrever não deve ser um ofício burocrático, com metas a cumprir.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Não lembro de alguma vez ter feito pesquisa ou compilado notas para escrever. Como falei acima, minha escrita brota de ideias que me pegam pelo colarinho e me intimam: “Ou você escreve agora, ou vai se arrepender mais tarde”. Cedo facilmente a essas chantagens das ideias.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Quando tiver que ser, será. Lembro de um conto que comecei a escrever em 2012 (eu acho). Na metade do conto empaquei. Não ia. Só vim a terminá-lo este ano (2019), sem culpa. Procrastino sem culpa, sem medo. Escrever tem que ser prazeroso. Expectativas e ansiedade podem provocar uma disfunção erétil-poética e o prazer acaba.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Às vezes reviso, outras vezes não. Quando é para publicá-los, tenho o cuidado de fazer, no máximo, uma revisão gramatical. Tenho o hábito de mostrar a alguns amigos mais próximos o que escrevo antes de publicar.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
Depende do momento. Como falei acima, às vezes um bloquinho salva um mote que, possivelmente, se perderia no corre-corre do dia a dia. Mas, habitualmente, escrevo diretamente no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Olha… se eu soubesse de onde vêm as ideias, juro que comprava uma passagem para lá. Mas sério agora… não sei de onde vêm as minhas ideias. Ou talvez eu saiba, só não sei apontar ao certo a direção, porque olho em muitas direções. E, talvez, aí esteja a chave: olhar para tudo, inclusive o que causa asco. Esse olhar cuidadoso somado ao hábito da leitura (e leitura não só do que está escrito ou dito, mas também do que foi silenciado) já é um bom ponto de partida para manter a mente criativa. Se daí sair uma escritura, aí a coisa fica bacana.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Eu diria: “Cara, continua assim! Lá na frente, você reinventa”. O que mudou é que envelheci (aliás, como todas as pessoas) e só isso já significa muita no processo da escrita.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Nenhum projeto. Não projeto nada, deixo acontecer. Eu acho que eu não gostaria de ler um livro que ainda não existe.